O Livro dos Espíritos. CAPÍTULO II. PENAS E GOZOS
FUTUROS.PARAÍZO, INFERNO, PURGATÓRIO, PARAÍZO PERDIDO.
Um lugar circunscrito no Universo
está destinado às penas e aos gozos dos Espíritos, de acordo com os seus
méritos?
— Já respondemos a
essa perguntai As penas e os gozos são inerentes ao grau de perfeição do
Espírito. Cada um traz em si mesmo o princípio de sua própria felicidade ou
infelicidade. E como eles estão por toda parte, nenhum lugar circunscrito ou
fechado se destina a uns ou a outros. Quanto aos Espíritos encarnados, são mais
ou menos felizes ou infelizes segundo o grau de evolução do mundo que habitam.
De acordo com isso, o inferno e o
paraíso não existiriam como os homens os representam?
— Não são mais do
que figuras: os Espíritos felizes e infelizes estão por toda parte.
Entretanto, como já o dissemos também, os Espíritos da mesma ordem se reúnem
por simpatia. Mas podem reunir-se onde quiserem, quando perfeitos.
Comentário de Kardec: A
localização absoluta dos lugares de penas e de recompensas só existe na
imaginação dos homens. Provém da sua tendência de materializar e circunscrever
as coisas cuja natureza infinita não podem compreender.
O que se deve entender por purgatório?
— Dores físicas e
morais: é o tempo da expiação. É quase sempre na Terra que fazeis o vosso
purgatório e que Deus vos faz expiar as vossas faltas.
Comentário de Kardec: Aquilo que
o homem chama purgatório é também uma figura pela qual se deve entender, não
algum lugar determinado, mas o estado dos Espíritos imperfeitos que estão em
expiação até a purificação completa que deve elevá-los ao plano dos Espíritos
felizes. Operando-se essa purificação nas diversas encarnações, o purgatório consiste
nas provas da vida corpórea.
Como se explica que os Espíritos que
revelam superioridade por sua linguagem tenham respondido, a pessoas bastante
sérias, a respeito do inferno e do purgatório, de acordo com as ideias
vulgarmente admitidas?
— Eles falam uma
linguagem que possa ser compreendida pelas pessoas que os interrogam. Quando
essas pessoas estão muito imbuídas de certas ideias, eles não querem chocá-las
muito rudemente, para não ferir as suas convicções. Se um Espírito fosse dizer,
sem precauções oratórias, a um muçulmano, que Maomé não era um profeta, seria
muito mal recebido.
Concebe-se isso dá parte dos
Espíritos que desejam instruir-nos. Mas como se explica que Espíritos
interrogados sobre a sua situação tenham respondido que sofriam as torturas do
inferno ou do purgatório?
— Quando eles são
inferiores e não estão completamente desmaterializados, conservam uma parte de
suas ideias terrenas e traduzem as suas impressões pelos termos que lhes são
familiares. Encontram-se num meio que não lhes permite sondar o futuro senão de
maneira deficiente. Essa é a causa por que em geral os Espíritos errantes, ou
recentemente libertados, falam como teriam feito se estivessem na vida carnal.
Inferno pode traduzir-se por uma vida de provas extremamente penosas, com a
incerteza de melhora; purgatório, por uma vida também de provas, mas com a
consciência de um futuro melhor. Quando sofres uma grande dor, não dizes que
sofres como um danado? Não são mais que palavras, sempre em sentido figurado.
O que se deve entender por alma
penada?
— Uma alma errante
e sofredora, incerta do seu futuro, à qual podeis proporcionar um alívio que frequentemente
ela solicita ao vir comunicar-se convosco. (Ver item 664.)
Em que sentido se deve entender a
palavra Céu?
— Crês que seja um
lugar como os Campos Elísios dos antigos, onde todos os bons Espíritos estão
aglomerados e confundidos, sem outra preocupação que a de gozar na eternidade
uma felicidade passiva? Não. É o espaço universal; são os planetas, as estrelas
e todos os mundos superiores em que os Espíritos gozam de todas as suas
faculdades, sem as atribulações da vida material nem as angústias inerentes à
inferioridade.
Disseram alguns Espíritos habitar o
quarto, o quinto céu etc.; o que entendiam por isso?
— Vós lhes
perguntais que céu habitam, porque tendes a idéia de muitos céus sobrepostos
como os andares de uma casa; então eles respondem de acordo com a vossa
linguagem. Mas para eles as palavras “quarto, quinto céu ” exprimem diferentes
graus de purificação, e por conseguinte de felicidade. É exatamente como
quando se pergunta a um Espírito se ele está no inferno. Se for infeliz dirá
que sim, porque para ele inferno é sinônimo de sofrimento; mas ele sabe muito
bem que não se trata de uma fornalha. Um pagão vos responderia que estava no
Tártaro.
Comentário de Kardec: Acontece o
mesmo com outras expressões análogas, tais como as de cidade das flores, cidade
dos eleitos, segunda ou terceira esfera etc., que não são mais do que alegorias
empregadas por certos Espíritos seja como figuras, seja por ignorância da
realidade das coisas e mesmo das mais simples noções científicas.
Segundo a ideia restrita que outrora
se fazia dos lugares de penas e de recompensas, e sobretudo de acordo com a
opinião de que a Terra era o centro do Universo, que o céu formava uma abóbada
na qual havia uma região de estrelas, colocava-se o céu no alto e o inferno em
baixo. Daí as expressões: subir ao céu, estar no mais alto do céus, ser
precipitado no inferno. Hoje que a Ciência demonstrou que a Terra não é mais do
que um dos menores mundos entre tantos milhões de outros, e sem importância
especial; que traçou a história da sua formação e descreveu a sua constituição,
provando que o espaço é infinito, de maneira que não há nem alto nem baixo no
Universo, faz-se necessário renunciar a colocar o céu acima das nuvens e o
inferno nos lugares baixos. Quanto ao purgatório, nenhum lugar lhe havia sido
marcado. Estava reservado ao Espiritismo dar sobre todas essas coisas a mais
racional explicação, a mais grandiosa e ao mesmo tempo a mais consoladora para
a Humanidade. Assim, podemos dizer que trazemos em nós mesmos o nosso inferno e
o nosso paraíso e que encontramos o nosso purgatório em nossa encarnação, em
nossas vidas corpóreas ou físicas.
Em que sentido se devem entender as
palavras do Cristo: “Meu reino não é deste mundo”?
— O Cristo
respondeu em sentido figurado. Queria dizer que não reina senão sobre os
corações puros e desinteressados. Ele está em todos os lugares em que domine o
amor do bem, mas os homens, ávidos das coisas deste mundo e ligados aos bens da
Terra, não estão com ele.
O reino do bem poderá um dia
realizar-se na Terra?
— O bem reinará na
Terra quando, entre os Espíritos que a vêm habitar, os bons superarem os maus.
Então eles farão reinar o amor e a justiça, que são a fonte do bem e da
felicidade. É pelo progresso moral e pela prática das leis de Deus que o homem
atrairá para a Terra os bons Espíritos e afastará os maus. Mas os maus só a
deixarão quando o homem tiver banido daqui o orgulho e o egoísmo.
A transformação da
Humanidade foi predita e chegais a esse momento em que todos os homens
progressistas estão se apressando. Ela se realizará pela encarnação de
Espíritos melhores, que constituirão sobre a Terra uma nova geração. Então os
Espíritos dos maus, que a morte ceifa diariamente, e todos os que tendem a
deter a marcha das coisas serão excluídos, porque estariam deslocados entre os
homens de bem, cuja felicidade perturbariam. Irão para mundos novos, menos
adiantados, cumprir missões penosas, nas quais poderão trabalhar pelo seu
próprio adiantamento ao mesmo tempo que trabalharão para o adiantamento de seus
irmãos ainda mais atrasados. Não vedes nessa exclusão da Terra transformada a
sublime figura do Paraíso Perdido? E no homem que veio à Terra em condições
semelhantes, trazendo em si os germes de suas paixões e os traços de sua
inferioridade primitiva, a figura não menos sublime do pecado
original? Considerado dessa maneira, o pecado original se refere à natureza
ainda imperfeita do homem que só é responsável por si mesmo e por suas próprias
faltas, e não pelas dos seus pais.
Vós todos, homens de fé e de boa vontade, trabalhai, portanto, com zelo
e com coragem na grande obra da regeneração, porque colhereis centuplicado o
grão que tiverdes semeado. Infelizes dos que fecham os olhos à luz, pois
preparam para si mesmos longos séculos de trevas e de decepções. Infelizes dos
que colocam todas as suas alegrias nos bens deste mundo, porque sofrerão mais
privações que os gozos que tenham tido. Infelizes sobretudo dos egoístas,
porque não encontrarão ninguém para os ajudar a carregar o fardo das suas
misérias. (São Luís.)
BIBLIOGRAFIA.O LIVRO DOS ESPÍRITOS. MATÉRIA DIVULGADA PELO MÉDIUM
GETULIO PACHECO QUDRADO.
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