O LIVRO DOS ESPÍRITOS. CAPÍTULO II.PENAS E GOZOS
FUTUROS. PENAS TEMPORAIS.
O Espírito que
expia as suas culpas numa nova existência passa apenas por sofrimentos
materiais. Assim, não será exato dizer que após a morte a alma só tem
sofrimentos morais?
— É bem verdade que, reencarnada, a alma encontra nas tribulações da
vida o seu sofrimento; mas apenas o corpo sofre materialmente. Dizeis em geral
que o morto já não sofre mais, mas isso nem sempre é verdade. Como Espírito,
não sofre mais dores físicas, mas, segundo as faltas que tenha cometido, pode
ter dores morais mais cruciantes, e numa nova existência pode ser ainda mais
infeliz. O mau rico passará a esmolar e estará submetido a todas as privações
da miséria; o orgulhoso, a todas as humilhações; aquele que abusa de sua
autoridade e trata os seus subordinados com desprezo e dureza será forçado a
obedecer a um senhor mais duro do que ele tenha sido. Todas as penas e
atribulações da vida são expiações de faltas de outra existência, quando não se
trata de consequências das faltas da existência atual. Ao sairdes daqui
compreendereis bem. (Ver itens 273, 393 e 399.) O homem que se crê feliz na
Terra porque pode satisfazer suas paixões é o que faz menos esforços para
se melhorar. Em geral, ele começa a expiar essa felicidade efêmera na própria
vida que leva, mas certamente a expiará numa outra existência tão material como
essa.
As vicissitudes da
vida são sempre a punição das faltas atuais?
— Não. Já o dissemos: são provas impostas por Deus ou escolhidas por vós
mesmos quando no estado de Espírito e antes da vossa reencarnação, para expiar
as faltas cometidas numa outra existência. Porque jamais a infração das leis de
Deus, e sobretudo da lei de justiça, fica impune; se a punição não é feita
nesta vida, será necessariamente em outra. E por isso que aquele que é justo
aos vossos olhos vê-se frequentemente atingido pelo seu passado. (Ver item
393.)
A reencarnação da
alma num mundo menos grosseiro é uma recompensa?
— É a consequência de sua purificação. Porque, à medida que os Espíritos
se purificam, vão se encarnando em mundos mais e mais perfeitos, até que se
tenham despojado de toda matéria e lavado de todas as manchas, para gozarem
eternamente da felicidade dos Espíritos puros no seio de Deus.
Comentário de
Kardec: Nos mundos em que a existência é menos material do que neste,
as necessidades são menos grosseiras e todos os sofrimentos físicos são menos
vivos. Os homens não mais conhecem as más paixões que, nos mundos inferiores,
os fazem inimigos uns dos outros. Não tendo nenhum motivo de ódio ou de ciúme,
vivem em paz porque praticam a lei de justiça, amor e caridade. Não conhecem os
aborrecimentos e os cuidados que nascem da inveja, do orgulho e do egoísmo, e
que constituem o tormento de nossa existência terrena. (Ver itens 172 e 182.)
O Espírito que
progrediu na sua existência terrena pode às vezes reencarnar no mesmo mundo?
— Sim, se não pôde cumprir a sua missão e ele mesmo pedir para
completá-la numa nova existência. Mas então não será mais para ele uma
expiação. (Ver item 173.)
O que acontece com
o homem que, sem praticar o mal, nada fez para se libertar da influência da
matéria?
— Desde que não deu nenhum passo na direção da perfeição, deve recomeçar
uma existência semelhante a que deixou. Fica estacionário e é assim que pode
prolongar os sofrimentos de sua expiação.
Há pessoas para as
quais a vida flui numa serenidade perfeita; que, não tendo necessidade de fazer
qualquer coisa para si mesmas, estão livres de cuidados. Essa existência feliz
é uma prova de que nada têm a expiar de uma existência anterior?
— Conheces muitas assim? Se o acreditas, enganas-te. Em geral essa
serenidade não é mais do que aparente. Podem ter escolhido essa existência,
mas, quando a deixam, percebem que ela não os ajudou a progredir; então, como
os preguiçosos, lamentam o tempo perdido. Sabei que o Espírito não pode
adquirir conhecimento e se elevar senão através da atividade; se ele adormece
na despreocupação, não se adianta. É semelhante àquele que, de acordo com os
vossos costumes, tem necessidade de trabalhar e vai passear ou dormir para nada
fazer. Sabei também que cada qual terá de prestar contas da inatividade
voluntária durante a sua existência; essa inutilidade é sempre fatal à
felicidade futura. A soma da felicidade futura está na razão da soma do bem que
tiver feito; a da infelicidade, na razão do mal e dos infelizes que se tenham
feito.
Há pessoas que, sem
serem positivamente más, tornam infelizes, em virtude de seu caráter, todos os
que as rodeiam. Qual é para elas a consequência disso?
— Essas pessoas seguramente não são boas e expiarão
pela visão daqueles que se tornaram infelizes, cuja presença constituirá para
elas uma exprobação. Depois, numa outra existência, sofrerão aquilo que fizeram
sofrer.
BIBLIOGRAFIA. O LIVRO DOS ESPÍRITOS. MATÉRIA
DIVLGADA PELO MÉDIUM GETULIO PACHECO QUADRADO.
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