O LIVRO DOS ESPÍRITOS.CAPÍTULO IX.INTERVENÇÃO DOS ESPÍRITOS NO MUNDO CORPÓREO.POSSESSOS.
Pode um Espírito,
momentaneamente, revestir-se do invólucro de uma pessoa viva, quer dizer,
introduzir-se num corpo animado e agir em substituição ao Espírito que nele se
encontra encarnado?
— O Espírito não
entra num corpo como entras numa casa; ele se assimila a um Espírito encarnado
que tem os seus mesmos defeitos e as suas mesmas qualidades, para agir
conjuntamente; mas é sempre o Espírito encarnado que age como quer sobre a matéria
de que está revestido. Um Espírito não pode substituir-se ao que se acha
encarnado, porque o Espírito e o corpo estão ligados até o tempo marcado para o
termo da existência material.
Se não há possessão
propriamente dita, quer dizer, coabitação de dois Espíritos no mesmo corpo, a
alma pode encontrar-se na dependência de um outro Espírito, de maneira a se ver
por ele subjugada ou obsedada, ao ponto de ser a sua vontade, de alguma forma,
paralisada?
— Sim, e são esses
os verdadeiros possessos; mas fica sabendo que essa dominação não se efetua
jamais sem a participação daquele que sofre, seja por fraqueza, seja pelo seu
desejo. Frequentemente se têm tomado por possessos criaturas epilépticas ou
loucas, que mais necessitavam de médico do que de exorcismo.
Comentário de
Kardec: A palavra possesso, na sua acepção vulgar, supõe a existência de
demônios, ou seja, de uma categoria de seres de natureza má, e a coabitação de
um desses seres com a alma, no corpo de um indivíduo. Mas, como não há demônios
nesse sentido, e como dois Espíritos não podem habitar simultaneamente o mesmo
corpo, também não há possessos, segundo as ideias ligadas a essa palavra. Pela
expressão possesso não se deve entender senão a dependência absoluta da alma em
relação a Espíritos imperfeitos que a subjuguem.
Pode uma pessoa,
por si mesma, afastar os maus Espíritos e se libertar do seu domínio?
— Sempre se pode
sacudir um jugo, quando se tem uma vontade firme.
Não pode acontecer
que a fascinação exercida por um mau Espírito seja tal, que a pessoa subjugada
não a perceba? Então, uma terceira pessoa pode fazer cessar a sujeição, e,
nesse caso, que condição deve ela preencher?
— Se for um homem
de bem, sua vontade pode ajudar, apelando para o concurso dos bons Espíritos,
porque quanto mais se é um homem de bem, mais poder se tem sobre os Espíritos
imperfeitos, para os afastar, e sobre os bons, para os atrair. Não obstante,
essa terceira pessoa seria impotente se aquele que está subjugado não se
prestasse a isso, pois há pessoas que se comprazem numa dependência que
satisfaz os seus gostos e os seus desejos. Em todos os casos, aquele que não
tem o coração puro não pode ter nenhuma influência; os bons Espíritos o
desprezam e os maus não o temem.
As fórmulas de
exorcismo têm qualquer eficácia contra os maus Espíritos?
— Não; quando esses
Espíritos veem alguém tomá-las a sério, riem e se obstinam.
Há pessoas animadas
de boas intenções e nem por isso menos obsedadas; qual o melhor meio de se
livrarem dos Espíritos obsessores?
— Cansar- lhes a
paciência, não dar nenhuma atenção às suas sugestões, mostrar-lhes que perdem
tempo; então, quando eles veem que nada têm a fazer, se retiram.
A prece é um meio
eficaz para curar a obsessão?
— A prece é um
poderoso socorro para todos os casos, mas sabei que não é suficiente murmurar
algumas palavras para obter o que se deseja. Deus assiste aos que agem, e não
aos que se limitam a pedir. Cumpre, portanto, que o obsedado faça, de seu lado,
o que for necessário para destruir em si mesmo a causa que atrai os maus
Espíritos.
Que se deve pensar
da expulsão dos demônios, de que se fala no Evangelho?
— Isso depende da
interpretação. Se chamais demônio a um mau Espírito que subjuga um indivíduo,
quando a sua influência for destruída ele será verdadeiramente expulso. Se
atribuís uma doença ao demônio, quando a tiverdes curado direis também que
expulsastes o demônio. Uma coisa pode ser verdadeira ou falsa, segundo o
sentido que se der às palavras. As maiores verdades podem parecer absurdas, quando
não se olha senão para a forma e quando se toma a alegoria pela realidade.
Compreendei bem isto e procurai retê-lo, que é de aplicação geral.
BIBLIOGRAFIA. O
LIVRO DOS ESPÍRITOS. MATÉRIA DIVULGAGA PELO MÉDIUM GETULIO PACHECO QUADRADO.
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