O LIVRO DOS ESPÍRITOS. CAPÍTULO VI. VIDA ESPÍRITA.RELAÇÕES ALÉM TÚMULO.
As diferentes
ordens de Espíritos estabelecem entre elas uma hierarquia de poderes; e há
entre eles subordinação e autoridade?
— Sim, muito
grande. Os Espíritos têm, uns sobre os outros, a autoridade relativa à sua
superioridade. E a exercem por meio de uma ascendência moral irresistível.
Os Espíritos
inferiores podem subtrair-se à autoridade dos superiores?
— Eu disse:
irresistível.
O poder e a
consideração de que um homem goza na Terra dão-lhe alguma supremacia no mundo
dos Espíritos?
— Não; pois os
pequenos serão elevados e os grandes rebaixados. Lede os salmos.
Como devemos
entender essa elevação e esse rebaixamento?
— Não sabes que os
Espíritos são de diferentes ordens, segundo os seus méritos? Pois bem: o maior
na Terra pode estar na última classe entre os Espíritos; enquanto o seu
servidor estará na primeira. Compreendes isso? Jesus não disse: Quem se
humilhar será exaltado, e quem se exaltar será humilhado?
Aquele que foi
grande na Terra e se encontra inferior entre os Espíritos, sente humilhação?
— Quase sempre
muito grande, sobretudo se era orgulhoso e invejoso.
O soldado que, após
a batalha, encontra o seu general no mundo dos Espíritos, reconhece-o ainda
como seu superior?
— O título não é
nada; a superioridade real é tudo.
Os Espíritos de
diferentes ordens estão misturados?
— Sim e não; quer
dizer, eles se veem, mas se distinguem uns dos outros. Afastam-se ou se
aproximam segundo a semelhança ou divergência de seus sentimentos como acontece
entre vós. É todo um mundo, do qual o vosso é o reflexo obscuro. Os da mesma
ordem se reúnem por uma espécie de afinidade, e formam grupos ou famílias de
Espíritos unidos pela simpatia e pelos propósitos; os bons, pelo desejo de
fazer o bem; os maus, pelo desejo de fazer o mal, pela soma de suas faltas e
pela necessidade de se encontrarem entre os seres semelhantes a eles.
Comentário de
Kardec: Igual a uma grande cidade, onde os homens de todas as classes e de
todas as condições se veem e se encontram, sem se confundirem, onde as
sociedades se formam pela similitude de gostos, onde o vício e a virtude se
acotovelam, sem se falarem.
Todos os Espíritos
têm acesso, reciprocamente, uns junto aos outros?
— Os bons vão por
toda parte e é necessário que assim seja, para que possam exercer a sua
influência sobre os maus. Mas as regiões habitadas pelos bons são interditadas
aos imperfeitos, a fim de que não levem a elas o distúrbio das más paixões.
Qual é a natureza
das relações entre os bons e os maus Espíritos?
— Os bons procuram
combater as más tendências dos outros, a fim de os ajudar a subir; é uma
missão.
Por que os
Espíritos inferiores se comprazem em nos levar ao mal?
— Pelo despeito de
não terem merecido estar entre os bons. Seu desejo é o de impedir, tanto quanto
puderem, que os Espíritos ainda inexperientes atinjam o bem supremo. Querem
fazer os outros provarem aquilo que eles provam. Não vedes o mesmo entre vós?
Como os Espíritos
se comunicam entre si?
— Eles se veem e se
compreendem; a palavra é material: é o reflexo da faculdade espiritual. O
fluido universal estabelece entre eles uma comunicação constante; é o veículo
de transmissão do pensamento, como o ar é para vós o veículo do som. Uma
espécie de telégrafo universal que liga todos os mundos, permitindo aos
Espíritos corresponderem-se de um mundo a outro.
Os Espíritos podem
dissimular reciprocamente os seus pensamentos; podem esconder-se uns dos
outros?
— Não; para eles,
tudo permanece descoberto, principalmente quando são perfeitos. Podem
distanciar-se uns dos outros, mas sempre se veem. Esta não é uma regra
absoluta, porque certos Espíritos podem muito bem tornar-se invisíveis para
outros, se julgam útil fazê-lo.
Como podem os
Espíritos que não têm mais corpo, constatar a própria individualidade e
distinguir-se dos outros que os odeiam?
— Constatam a sua
individualidade pelo perispírito, que os torna seres distintos uns para os outros,
como os corpos entre os homens.
Os Espíritos se
reconhecem por terem convivido na Terra? O filho reconhece o pai, o amigo o seu
amigo?
— Sim, e assim de
geração em geração.
Como se reconhecem
no mundo dos Espíritos os homens que se conheceram na Terra?
— Vemos a nossa
vida passada e a lemos como um livro. Vendo o passado de nossos amigos e de
nossos inimigos, vemos a sua passagem da vida para a morte.
A alma, ao deixar
os despojos mortais, vê imediatamente os parentes e amigos que a precederam no
mundo dos Espíritos?
— Imediatamente,
nem sempre; pois, como já dissemos, é-lhe necessário algum tempo para
reconhecer o seu estado e sacudir o véu material.
Como a alma é
recebida, na sua volta ao mundo dos Espíritos?
— A do justo, como
um irmão bem-amado e longamente esperado; a do mau, como um ser que se
despreza.
Que sentimento
experimentam os Espíritos impuros, à vista de outro mau Espírito que chega?
— Os maus ficam
satisfeitos de verem os seres à sua imagem e como eles privados da felicidade
infinita; como acontece na Terra a um ladrão entre os seus iguais.
Nossos parentes e
nossos amigos vêm, às vezes, ao nosso encontro, quando deixamos a Terra?
— Sim, vêm ao
encontro da alma que estimam, felicitam-na como no regresso de uma viagem, se
ela escapou aos perigos do caminho e a ajudam a se desprender dos liames
corporais. É um favor concedido aos bons Espíritos, quando os que os amam vêm
ao seu encontro, enquanto os que estão manchados ficam no isolamento ou
cercados somente de Espíritos semelhantes a eles: é uma punição.
Os parentes e os
amigos reúnem-se sempre após a morte?
— Isso depende de
sua elevação e do caminho que seguem para o seu adiantamento. Se um deles está
mais adiantado e marcha mais rápido que o outro, não poderão ficar juntos;
poderão ver-se algumas vezes mas não estarão sempre reunidos, a não ser quando
possam marchar ombro a ombro, ou quando tiverem atingido a igualdade na
perfeição. Além disso, a privação de ver os parentes e amigos é às vezes uma
punição.
BIBLIOGRAFIA. O LIVRO DOS ESPÍRITOS.
MATÉRIA DIVULGADA PELO MÉDIUM GETULIO PACHECO QUADRADO.
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