O LIVRO DOS ESPÍRITOS. CAPÍTULO VIII. EMANCIPAÇÃO DA ALMA.SONAMBULISMO.
O sonambulismo
natural tem relação com os sonhos? Como explicá-lo?
— É um estado de
independência da alma, mais completo que no sonho; então as faculdades adquirem
maior desenvolvimento. A alma tem percepções que não atinge no sonho, que é um
estado de sonambulismo imperfeito.
No sonambulismo, o
Espírito está na posse total de si mesmo; os órgãos materiais, estando de
qualquer forma em catalepsia, não recebem mais as impressões exteriores. Esse
estado se manifesta sobretudo durante o sono; é o momento em que o Espírito
pode deixar provisoriamente o corpo, que se acha entregue ao repouso
indispensável à matéria. Quando se produzem os fatos do sonambulismo, é que o
Espírito, preocupado com uma coisa ou outra, se entrega a alguma ação que exige
o uso do seu corpo, do qual se serve como se empregasse uma mesa ou qualquer
outro objeto material, nos fenômenos de manifestações físicas, ou mesmo a vossa
mão nas comunicações escritas. Nos sonhos de que se tem consciência, os órgãos,
inclusive os da memória, começam a despertar e recebem imperfeitamente as
impressões produzidas pelos objetos ou as causas exteriores, e as comunicam ao
Espírito que, também se encontrando em repouso, só percebe sensações confusas e
frequentemente fragmentárias, sem nenhuma razão de ser aparente, misturadas que
estão de vagas recordações, seja desta existência, seja de existências
anteriores. É portanto fácil compreender porque os sonâmbulos não se lembram de
nada e porque os sonhos de que conservam a lembrança, na maioria das vezes não
têm sentido. Digo na maioria das vezes, porque acontece também serem eles a
consequência de uma recordação precisa de acontecimentos de uma vida anterior,
e, algumas vezes, até mesmo uma espécie de intuição do futuro.
O chamado
sonambulismo magnético tem relação com o sonambulismo natural?
— É a mesma coisa,
com a diferença de ser provocado.
Qual é a natureza
do agente chamado fluido magnético?
— Fluido vital,
eletricidade animalizada, que são modificações do fluido universal.
Qual é a causa da
clarividência sonâmbula?
— Já o dissemos: é
a alma que vê.
Como o sonâmbulo
pode ver através dos corpos opacos?
— Não há corpos
opacos, senão para os vossos órgãos grosseiros. Já dissemos que, para o
Espírito, a matéria não oferece obstáculos, pois ele a atravessa livremente.
Com frequência ele vos diz que vê pela testa, pelo joelho, etc., porque vós,
inteiramente imersos na matéria, não compreendeis que ele possa ver sem o
auxílio dos órgãos, e ele mesmo, pela vossa insistência, julga necessitar
desses órgãos. Mas, se o deixásseis livre, compreenderíeis que vê por todas as
partes do corpo, ou, para melhor dizer, é fora do corpo que ele vê.
Pois se a
clarividência do sonâmbulo é a da sua alma ou do seu Espírito, por que ele não
vê tudo e por que se engana tantas vezes?
— Primeiro, não é
dado aos Espíritos imperfeitos tudo ver e tudo conhecer; sabes muito bem que
eles ainda participam dos vossos erros e dos vossos prejuízos; e, depois,
quando estão ligados à matéria não gozam de todas as suas faculdades de
Espíritos. Deus deu ao homem está faculdade com um fim útil e sério, e não para
que ele aprenda o que não deve saber; eis porque os sonâmbulos não podem dizer
tudo.
Qual é a fonte das
ideias inatas do sonâmbulo, e como pode ele falar com exatidão de coisas que
ignora no estado de vigília, e que estão mesmo acima de sua capacidade
intelectual?
— Acontece que o
sonâmbulo possui mais conhecimentos do que lhe reconheceis, somente que eles se
encontram adormecidos, porque o seu invólucro é bastante imperfeito para que
ele possa recordá-los. Mas, em última análise, o que é o sonâmbulo? Um Espírito
encarnado, como vós, para cumprir a sua missão, e o estado em que ele entra o
desperta dessa letargia. Nós já te dissemos repetidamente que revivemos muitas
vezes; e essa mudança é que lhe faz perder materialmente o que conseguiu
aprender na existência precedente. Entrando no estado a que chamas crise, ele
se lembra, mas sempre de maneira incompleta; ele sabe, mas não poderia dizer de
onde lhe vem o conhecimento, nem como o possui. Passada a crise, toda a
lembrança se apaga e ele volta à obscuridade.
Comentário de
Kardec: A experiência mostra que os sonâmbulos recebem também comunicações
de outros Espíritos, que lhes transmitem o que eles devem dizer e suprem a sua
insuficiência. Isto se vê, sobretudo, nas prescrições médicas: O Espírito do
sonâmbulo vê o mal, o outro lhe indica o remédio. Esta dupla ação é algumas
vezes patente, e se revela outras vezes pelas suas expressões bastante
frequentes: dizem-me que diga; ou, proíbem-me dizer tal coisa. Neste último
caso é sempre perigoso insistir em obter a revelação recusada, porque então se
dá lugar aos Espíritos levianos, que falam de tudo sem escrúpulos e sem se
interessarem pela verdade.
Como explicar a
visão à distância, em alguns sonâmbulos?
— A alma não se
transporta, durante o sono? O mesmo se verifica no sonambulismo.
O desenvolvimento
maior ou menor da clarividência sonambúlica depende da organização física ou da
natureza do Espírito encarnado?
— De uma e de
outra; há disposições físicas que permitem ao Espírito libertar-se mais ou
menos facilmente da matéria.
As faculdades de
que o sonâmbulo desfruta são as mesmas do Espírito após a morte?
— Até certo ponto,
pois é necessário ter em conta a influência da matéria, a que ele ainda se acha
ligado.
O sonâmbulo pode
ver os outros Espíritos?
— A maioria os vê
muito bem; isso depende do grau e da natureza da lucidez de cada um; mas às
vezes ele não compreende, de início, e os toma por seres corporais. Isso
acontece, sobretudo, com os que não têm nenhum conhecimento do Espiritismo;
eles ainda não compreendem a natureza dos Espíritos, o fato os espanta, e é por
isso que julgam estar vendo pessoas vivas.
Comentário de
Kardec: O mesmo efeito se produz ao momento da morte, entre os que ainda
se julgam vivos. Nada ao seu redor lhes parece modificado, os Espíritos lhes
aparecem como tendo corpos semelhantes aos nossos, e eles tomam a aparência de
seus próprios corpos como corpos reais.
O sonâmbulo que vê
à distância, vê do lugar em que está o seu corpo, ou daquele em que está a sua
alma?
— Por que esta
pergunta, pois se é a alma que vê, e não o corpo?
Sendo a alma que se
transporta, como pode o sonâmbulo experimentar no corpo as sensações de calor
ou de frio do lugar em que se encontra a sua alma, às vezes bem longe do corpo?
— A alma não deixou
inteiramente o corpo; permanece sempre ligada a ele pelo laço que os une, e é
esse laço o condutor das sensações. Quando duas pessoas se correspondem entre
uma cidade e outra, por meio da eletricidade, é esta o laço entre os seus
pensamentos; é graças a esta que elas se comunicam, como se estivessem uma ao
lado da outra.
O uso que um
sonâmbulo faz da sua faculdade influi no estado do seu Espírito, após a morte?
— Muito, como o uso
bom ou mau de todas as faculdades que Deus concedeu ao homem.
BIBLIOGRAFIA. O
LIVRO DOS ESPÍRITOS. MATÉRIA DIVULGADA PELO MÉDIUM GETULIO PACHECO QUADRADO.
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