O LIVRO DOS ESPÍRITOS.
CAPÍTULO V. LEI DE CONSERVAÇÃO. MEIOS DE CONSERVAÇÃO
Deus, dando ao ser humano a necessidade de viver,
sempre lhe forneceu os meios para isso. E se ele não os encontra é por falta de
compreensão. Deus não podia dar ao ser humano a necessidade de viver
sem lhe dar também os meios. É por isso que faz a terra produzir de
maneira a fornecer o necessário a todos os seus habitantes, pois só
o necessário é útil; o supérfluo jamais o é.
A terra às vezes nem sempre produz bastante para
fornecer o necessário ao ser humano, é porque ele a negligencia, o ingrato, e, no entanto ela é
uma excelente mãe. Frequentemente ele ainda acusa a Natureza pelas consequências
da sua imperícia ou da sua imprevidência. A terra produziria sempre o
necessário, se o ser humano soubesse contentar-se. Se ela não supre
a todas as necessidades é porque o ser humano emprega no supérfluo o que
se destina ao necessário. Vede o árabe no deserto como encontra sempre do
que viver, porque não cria necessidades fictícias. Mas quando metade dos
produtos é desperdiçada na satisfação de fantasias, deve o ser humano se
admirar de nada encontrar no dia seguinte e tem razão de se lastimar por se
achar desprevenido quando chega o tempo de escassez. Na verdade, não é
a Natureza a imprevidente, é o ser humano que não sabe regular-se.
Os bens da terra são oriundos do produto do solo,
porque ele é a fonte primeira de que decorrem
todos os outros recursos, porque esses recursos, em última instância, são
apenas uma transformação dos produtos do solo. É por isso que devemos
entender pelos bens da terra tudo quanto o ser humano pode gozar nesse
mundo.
Os meios de subsistência faltam frequentemente a
certos indivíduos, mesmo em meio da abundância que os cerca pelo egoísmo dos seres humanos que nem sempre fazem o que
devem a eles mesmos. Buscai e achareis; estas palavras não querem dizer
que seja suficiente olhar para a terra a fim de encontrar o que se deseja,
mas que é necessário procurar com ardor e perseverança, e não com
displicência, sem se deixar desanimar pelos obstáculos que muito frequentemente
não passam de meios de pôr à prova a constância, a paciência e a firmeza.
Comentário de Kardec: Se a civilização multiplica as
necessidades, também multiplica as fontes de trabalho e os meios de vida; mas é
preciso convir que nesse sentido ainda muito lhe resta a fazer. Quando ele
tiver realizado a sua obra ninguém poderá dizer que lhe falte o necessário, a
menos que o falte por sua própria culpa. O mal, para muitos, é viverem uma vida
que não é a que a Natureza lhes traçou; é então que lhes falta a inteligência
para vencerem. Há para todos um lugar ao sol, mas com a condição de cada qual
tomar o seu e não o dos outros. A Natureza não poderia ser responsável pelos
vícios da organização social e pelas consequências da ambição e do
amor-próprio.
Seria preciso ser cego, entretanto, para não se
reconhecer o progresso que nesse sentido têm realizado os povos mais
adiantados.
Graças aos louváveis esforços que a Filantropia e a
Ciência, reunidas, não cessam de fazer para a melhoria da condição material dos
seres humanos, e malgrado o crescimento incessante das populações, a
insuficiência da produção é atenuada, pelo menos em grande parte, e os anos
mais calamitosos nada têm de comparável aos de há bem pouco tempo. A higiene
pública, esse elemento tão essencial da energia e da saúde, desconhecido por
nossos pais, é objeto de uma solicitude esclarecida; o infortúnio e o
sofrimento encontram lugares de refúgio; por toda parte a Ciência é posta em
ação, contribuindo para o acréscimo do bem-estar. Podendo-se dizer que não foi
atingido à perfeição. Mas o que já se fez dá-nos a medida do que pode ser feito,
com perseverança, se o ser humano for bastante sensato para procurar a sua
felicidade nas coisas positivas e sérias e não nas utopias que o fazem recuar
em vez de avançar.
Há situações
em que os meios de subsistência não dependem absolutamente da vontade do ser
humano e a privação do necessário, até o mais imperioso, é uma consequência das
circunstâncias. Sendo isto uma
prova frequentemente cruel que o ser humano deve sofrer e à qual subia que
seria exposto; seu mérito está na submissão à vontade de Deus, se a sua
inteligência não lhe fornecer algum meio de sair da dificuldade. Se
a morte deve atingi-lo, ele deverá submeter-se sem lamentar, pensando que
a hora da verdadeira liberdade chegou e que o desespero do momento
final pode fazê-lo perder o fruto de sua resignação.
Há mais mérito em sofrer todas as provas da vida com
abnegação e coragem, do que em situações críticas se virem a serem obrigados a
sacrificar os semelhantes para matar a fome. Com isso acabam cometendo um
crime.
Há homicídio e crime de lesa-natureza, que
devem ser duplamente punidos.
Nos mundos onde a organização é mais apurada, os
seres vivos têm necessidade de alimentação, mas os
seus alimentos estão em relação com a sua natureza. Esses alimentos não
seriam tão substanciais para estômagos grosseiros como do ser humano.
BIBLIOGRAFIA:
O LIVRO DOS ESPÍRITOS.MATÉRIA DIVULGADA PELO MÉDIUM GETULIO PACHECO QUADRADO.
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