domingo, 20 de outubro de 2024

CAPÍTULO XXVII. PEDI E OBTEREIS. INSTRUÇÕES DOS ESPÍRITOS.PRECES ESPÍRITAS PESSOAIS PARA AFASTAR OS MAUS ESPÍRITOS.


 CAPÍTULO XXVII. PEDI E OBTEREIS. INSTRUÇÕES DOS ESPÍRITOS. PRECES ESPÍRITAS PESSOAIS.


Para afastar os maus Espíritos

Prefácio: Os maus Espíritos só estão aonde podem satisfazer a sua perversidade. Para afastá-los, não basta pedir, nem mesmo ordenar que se retirem: é necessário eliminar em nós aquilo que os atrai. Os Espíritos maus descobrem as chagas da alma, como as moscas descobrem as do corpo. Assim, pois, como limpais o corpo para evitar as bicheiras, limpai também a alma das suas impurezas, para evitar as obsessões. Como vivemos num mundo em que os maus Espíritos pululam, as boas qualidades do coração nem sempre nos livram das suas tentativas, mas nos dão a força necessária para resistir-lhes.

Prece: Em nome de Deus Todo-Poderoso, que os maus Espíritos se afastem de mim, e que os Bons me defendam deles!

Espíritos malfazejos, que inspirais maus pensamentos aos homens; Espíritos enganadores e mentirosos, que os enganais; Espíritos zombeteiros, que zombais da sua credulidade, eu vos repilo com todas as minhas forças e fecho os meus ouvidos às vossas sugestões, mas peço para vós a misericórdia de Deus.

Bons Espíritos, que me assistis, deem-me a força de resistir à influência dos maus Espíritos, e as luzes necessárias para não cair nas suas tramas. Preservai-me do orgulho e da presunção, afastem do meu coração o ciúme, o ódio, a malevolência, e todos os sentimentos contrários à caridade, que são outras tantas portas abertas aos Espíritos maus.

Para corrigir um defeito

Prefácio: Nossos maus instintos são decorrentes da imperfeição do nosso próprio Espírito, e não da nossa organização física. Se assim não fosse, o homem estaria isento de toda e qualquer responsabilidade. De nós depende a nossa melhoria, pois todo homem que goza da plenitude de suas faculdades tem a liberdade de fazer ou não fazer qualquer coisa. Para fazer o bem, só lhe falta à vontade.

Prece: Vós me destes, meu Deus, a inteligência necessária para distinguir o bem do mal. Assim, ao reconhecer que uma coisa é má, sou culpado de não me esforçar para resistir à sua tentação.

Preservai-me do orgulho, que poderá me impedir de perceber os meus defeitos, e dos maus Espíritos, que poderiam me incitar a perseverar neles.

Entre as minhas imperfeições, reconheço que sou particularmente inclinado a…, e se não resisto ao seu arrastamento, é por causa do hábito que já adquiri de ceder-lhe.

Vós não criastes culpados, porque sois justo, mas com igual aptidão para o bem e para o mal. Se preferir o mau caminho foi em virtude do meu livre arbítrio. Mas, pela mesma razão que tive da liberdade de fazer o mal, tenho também a de fazer o bem, e, portanto a de mudar de caminho.

Meus defeitos atuais são o resto das imperfeições que trouxe de minhas existências precedentes. São, pois, o meu pecado original, de que posso livrar-me pela minha vontade, com a assistência dos Bons Espíritos.

Projetei-me, portanto, Espíritos bondosos, sobretudo vós, meu Anjo Guardião, dando-me a força de resistir às más sugestões e de sair vitorioso da luta.

Os defeitos são a barreira que nos separam de Deus, e cada defeito superado é um passo que damos para nos aproximarmos Dele.

O Senhor, na sua infinita misericórdia, houve por bem me conceder a existência atual, para que sirva ao meu adiantamento. Bons Espíritos ajudem-me a aproveitá-la, a fim de que ela não se torne perdida para mim. E quando aprouver ao Senhor me retirar dela, que eu possa sair melhor do que entrei.



Graças por uma vitória sobre a tentação

Prefácio: Aquele que resistiu a uma tentação deve o fato à assistência dos Bons Espíritos, a cuja voz ouviu. Deve, pois, agradecer a Deus e ao seu Anjo Guardião.

Prece: Meu Deus, eu vos agradeço por me haverdes permitido sair vitorioso da luta que tive de sustentar contra o mal. Fazei que esta vitória me dê à força de resistir a novas tentações.

E vós, meu Anjo Guardião, recebei o meu agradecimento pela assistência que me destes. Que a minha submissão aos vossos conselhos me faça merecer novamente a vossa proteção.

Graças por um favor obtido

Prefácio: É necessário não considerarmos como felizes apenas os acontecimentos importantes, pois os que parecem insignificantes são frequentemente os que mais influem no nosso destino. O homem esquece facilmente o bem, e se lembra mais do que o aflige. Se diariamente anotássemos os benefícios que recebemos, sem pedir, ficaríamos muitas vezes admirados de haver recebido tanta coisa que nos esquecemos, e nos sentiríamos humilhados pela nossa ingratidão.

Cada noite, elevando nossa alma a Deus, deve recordar intimamente os favores que Ele nos concedeu durante o dia, e agradecê-los. É sobretudo no momento em que experimentamos os benefícios da sua bondade e da sua proteção, que, espontaneamente, devemos testemunhar-lhe a nossa gratidão. Basta para isso um pensamento que lhe atribua o benefício, sem necessidade de interrompermos o trabalho.

Os favores de Deus não consistem apenas em benefícios materiais. Devemos igualmente agradecer-lhe as boas ideias, as inspirações felizes que nos são dadas. Enquanto o orgulho tudo atribui aos seus próprios méritos, e o incrédulo ao acaso, o homem de fé rende graças a Deus e aos Bons Espíritos pelo que recebeu. Para isso, são inúteis as longas frases. "Obrigado, meu Deus, pelo bom pensamento que me inspiraste!", diz mais do que muitas palavras. O impulso espontâneo que nos faz atribuir a Deus tudo o que nos acontece de bom, é o testemunho natural de um hábito de reconhecimento e de humildade, que nos atrai a simpatia dos Bons Espíritos.

Prece: Deus infinitamente bom, humildemente agradeço os benefícios que me concedestes. Eu seria indigno de vossa bondade, se os atribuísse ao acaso ou aos meus próprios méritos.

Bons Espíritos, que executastes os desígnios de Deus, e vós, sobretudo, meu Anjo Guardião, aceitai o meu agradecimento. Afaste de mim a ideia de orgulhar-me, e de aplicar o que recebi em qualquer sentido que não seja o do bem.

Agradeço-vos particularmente… (Citar o benefício).

Submissão e resignação

Prefácio: Quando sofremos uma aflição, se procurarmos a sua causa, encontraremos sempre a nossa própria imprudência, a nossa imprevidência, ou alguma ação anterior. Nesses casos, como se vê, temos de atribuí-la a nós mesmos. Se a causa de uma infelicidade não depende absolutamente de nenhuma das nossas ações, trata-se de uma prova para a existência atual, ou de uma expiação de falta cometida em existência anterior, e, neste caso, pela natureza da expiação podemos conhecer a natureza da falta, desde que somos sempre punidos naquilo em que pecamos.

Naquilo que nos aflige, vemos em geral apenas o mal presente, e não as consequências ulteriores e favoráveis que ele pode ter. O bem é frequentemente a consequência de um mal passageiro, como a cura de um doente resulta dos meios dolorosos que se empregam para obtê-la. Em todos os casos, devemos submeter-nos à vontade de Deus, suportar corajosamente as atribuições da vida, se quisermos que elas nos sejam contadas, e que se apliquem a nós estas palavras do Cristo: Bem-aventurados os que sofrem.

Prece: Meu Deus, soberana é a vossa justiça: todo sofrimento neste mundo, portanto, deve ter uma causa justa e a sua utilidade. Aceito a aflição que estou provando (ou que acabo de provar) como uma expiação para as minhas faltas passadas e uma prova com vistas ao futuro.

Bons Espíritos que me protegem, dai-me a força de suportá-la sem murmurar (ou de lembrá-la sem queixa); fazei que eu a encare como uma advertência providencial; que ela enriqueça a minha experiência; que abata o meu orgulho e diminua a minha ambição, a minha tola vaidade e o meu egoísmo; que contribua, enfim, para o meu adiantamento.

Prece (Outra): Sinto meu Deus, a necessidade de orar para vos pedir as forças necessárias a suportar as provas que me enviastes. Permiti que a luz se faça em meu espírito, com a devida intensidade, para que eu possa apreciar toda a extensão de um amor que me aflige porque me quer salvar! Submeto-me com resignação, ó meu Deus, mas ai de mim! É tão frágil a criatura humana que, senão me sustentardes poderei sucumbir! Não me abandoneis Senhor, pois sem o vosso amparo eu nada posso!

Prece (Outra): Elevei o meu olhar para ti, ó Eterno, e me senti fortalecido. Porque é a minha força, e te peço meu Deus, que não me abandones! Estou esmagado ao peso das minhas iniquidades! Ajuda-me, pois conheces a fraqueza de minha carne! Não afastes de mim o teu olhar!

Estou devorado por uma sede ardente. Faze brotar a fonte de água viva, que me dessedentará! Que meus lábios só se abram para te louvar, e não para reclamar das aflições da vida. Sou fraco, Senhor, mas o teu amor me sustentará.

Ó Eterno, só tu és grande, só tu és a razão e o fim da minha vida! Seja bendito o teu nome, quando me deres, pois tu és o Senhor e eu o servo infiel. Curvarei a fronte sem uma queixa, porque só tu és grande, só tu és o alvo!

Diante de um perigo

Prefácio: Através dos perigos que enfrentamos, Deus nos lembra a nossa fragilidade e a condição efêmera da nossa existência. Ele nos mostra que a nossa vida está nas suas mãos, ligadas por um fio, que pode romper-se no momento exato em que menos o esperamos. Ninguém é privilegiado, pois, grandes e pequenos, estão todos submetidos às mesmas condições.

Se examinarmos a natureza e as consequências do perigo, veremos que, frequentemente, essas consequências, caso se verificassem, teriam sido a punição de uma falta ou de um dever não cumprido.

Prece: Deus Todo-Poderoso, e vós, meu Anjo Guardião, socorrei-me! Se devo sucumbir, que se faça à vontade de Deus! Se for salvo, que possa reparar o mal praticado e do qual me arrependo!

Ao escapar de um perigo

Prefácio: Pelo perigo que passamos Deus nos mostra que, de um momento para outro, podemos ser chamados a prestar contas do emprego que demos a nossa vida. Adverte-nos, assim, que devemos examinar-nos e emendar-nos.

Prece: Meu Deus, e vós, meu Anjo Guardião, agradeço-vos o socorro que me destes no perigo que me ameaçou. Que esse perigo seja uma advertência para mim, e que me esclareça sobre os motivos que o atraíram para a minha vida. Compreendo Senhor, que ela está em vossas mãos, e que podeis retirá-la quando quiserdes. Inspirai-me, através dos Bons Espíritos que me assistem, a ideia de bem empregar o tempo que me concedestes neste mundo!

Meu Anjo Guardião sustente-me na decisão de corrigir os meus erros e fazer todo o bem que estiver ao meu alcance, a fim de chegar ao Mundo dos Espíritos com menos imperfeições, quando aprouver a Deus me chamar!

Prevendo a morte próxima

Prefácio: A fé no futuro, a elevação do pensamento, durante a vida, em direção aos destinos superiores do homem, ajudam a libertação do Espírito, enfraquecendo os laços que o prendem ao corpo. Frequentemente, a vida ainda não se extinguiu, e a alma, impaciente, já parte para a imensidade. Ao contrário, esses laços materiais são mais tenazes, no homem que concentra todos os seus pensamentos nos problemas imediatos, e a separação se torna penosa e dolorosa, seguida de um despertar cheio de perturbação e ansiedade no além-túmulo.

Prece: Meu Deus creio em vós e na vossa infinita bondade! Eis porque não admito que tenhas dado ao homem a capacidade de vos conhecer e a aspiração do futuro, para depois mergulhá-lo no absurdo do nada.

Creio que o meu corpo é apenas o envoltório perecível da minha alma, e que ao cessar de viver neste mundo, despertarei no Mundo dos Espíritos.

Deus Todo-Poderoso sinto romperem-se os laços que ligam minha alma ao meu corpo e bem logo irei prestar contas do emprego que fiz da minha vida.

Irei sofrer as consequências do bem e do mal que tenha feito. Então, não haverá mais ilusões, nem subterfúgios possíveis, e todo o meu passado se desenrolará diante de mim, para que eu seja julgado segundo as minhas obras.

Não levarei nada dos bens terrenos. Honrarias, riquezas, satisfações da vaidade e do orgulho, tudo, enfim, que se refere à vida corporal, permanecerá neste mundo. Nem a menor parcela de tudo isso me seguirá, e nada disso me valerá de nada no Mundo dos Espíritos. Só levarei comigo o que pertence à alma, as boas e as más qualidades, que serão pesadas na balança de uma rigorosa justiça. Serei julgado com tanto maior severidade, quanto mais a minha posição terrena tenha me facilitado às ocasiões de fazer o bem que não fiz.

Deus de misericórdia, que meu arrependimento chegue até vós! Dignai-vos estender sobre mim o manto da vossa indulgência!

Se vos aprouver prolongar a minha existência, que esse prolongamento seja empregado em reparar, quanto me for possível, o mal que eu tenha feito! Se a minha hora soou inexoravelmente, que eu leve comigo o pensamento consolador de que me será permitido resgatar-me através de novas provas para merecer um dia à felicidade dos eleitos!

Pois se não me é dado gozar imediatamente dessa felicidade invariável, de que só participam os justos por excelência, sei, entretanto, que a esperança não me é interdita para sempre, e que pelo trabalho chegarei ao alvo, mais cedo ou mais tarde, segundo os meus esforços.

Sei que os Bons Espíritos e o meu Anjo Guardião me receberão, e em breve os verei, como eles agora me veem. Sei que reencontrarei os que amei na Terra, se o merecer, e que irão reunir-se um dia comigo os que estou deixando neste mundo, para sempre continuarmos juntos; e que, enquanto os espero, poderei vir visitá-los.

Sei ainda que encontrarei aqueles a quem ofendi; possam eles perdoar-me o que lhes fiz; meu orgulho, minha dureza, minhas injustiças sejam esquecidas para que a vergonha não me acabrunhe na sua presença.

De minha parte, perdoo aos que me fizeram ou quiseram mal na Terra, não levo nenhum ódio contra eles, e peço a Deus que os perdoe.

Senhor dai-me a força de deixar sem pena os grosseiros prazeres deste mundo, que nada são perante as alegrias puras do mundo em que vou entrar! Pois sei que lá não há tormentos para os justos, nem sofrimentos e misérias, e somente o culpado está sujeito a sofrer, mas restando-lhe sempre o consolo da esperança.

Bons Espíritos, e vós, meu Anjo Guardião, não me deixeis falir neste momento supremo! Fazei brilhar aos meus olhos a divina luz, para que se reanime a minha fé, se ela vier a vacilar!

Preces pelos outros

Pelos que estão em aflição

Prefácio: Se é conveniente ao aflito que a sua prova prossiga, o nosso pedido não a abreviará. Mas seria falta de piedade o abandonarmos, alegando que a nossa prece não será ouvida. Além disso, mesmo que a prova não seja interrompida, podemos obter alguma consolação, que lhe minore o sofrimento. O que é realmente útil para quem suporta uma prova é a coragem e a resignação, sem as quais o que ele passa não lhe trará resultados, pois que terá de passar novamente por ela. E para esse objetivo, portanto, que devemos dirigir os nossos esforços, seja pedindo aos Bons Espíritos em seu favor, seja levantando-lhe o moral através de conselhos e encorajamento, seja, enfim, assistindo-o materialmente, se isso for possível. A prece, nesse caso pode ainda ter um efeito direto, descarregando no aflito uma corrente fluídica, que lhe fortaleça o ânimo.

Prece: Meu Deus de infinita bondade dignai-vos abrandar a amargura da situação de N..., se assim for da Vossa vontade!

Bons Espíritos, em nome de Deus Todo-Poderoso eu vos peço assistência para as suas aflições. Se, no seu próprio benefício, elas não podem ser diminuídas, fazei-lhe compreender que elas são necessárias ao seu adiantamento. Dai-lhe a confiança em Deus e no futuro, que as tornará menos amargas. Dai-lhe também a força de não sucumbir ao desespero, o que lhe faria perder os benefícios e tornaria a sua situação futura ainda mais penosa. Revertei o meu pensamento para ele, e que assim eu possa ajudá-lo a sustentar a coragem necessária.

Graças por um benefício concedido a outro

Prefácio: Quem não se deixa dominar pelo egoísmo rejubila-se com o bem do próximo, mesmo que não o tenha pedido por uma prece.

Prece: Senhor agradeço-vos a felicidade concedida a N....

Bons Espíritos fazei que ele veja nesse benefício uma consequência da bondade de Deus. Se o bem que lhe é dado constitui uma prova, inspirai-lhe o pensamento de bem empregá-lo e de não se envaidecer para não transformá-lo em prejuízo futuro.

Vós, meu Bom Espírito, que me protegeis e desejais a minha felicidade, afaste de mim qualquer sentimento de inveja ou de ciúme.

Pelos inimigos e os que nos querem mal

Prefácio: Jesus disse: Amai os vossos inimigos. Esta máxima nos revela o que há de mais sublime na caridade cristã. Mas, Jesus não queria dizer que devemos ter pelos inimigos a mesma ternura que dedicamos aos amigos. Por essas palavras ensina-nos a perdoar as ofensas, perdoar todo o mal que nos fizerem e pagar o mal com o bem. Além do merecimento que tem essa conduta aos olhos de Deus, serve para mostrar aos homens o que é a verdadeira superioridade.

Prece: Meu Deus perdoo a N... o mal que me fez e o que pretendia fazer-me, como desejo que me perdoeis, e que ele por sua vez me perdoe às faltas que eu tenha cometido. Se o pusestes no meu caminho como uma prova, seja feita a Vossa vontade.

Afastai de mim, ó meu Deus, a ideia de maldizê-lo, e qualquer sentimento malévolo contra ele. Que eu não sinta jamais nenhuma alegria pelos males que o possam atingir, nem qualquer aborrecimento pelos benefícios que ele venha a receber, a fim de não manchar minha alma com sentimentos indignos de um cristão.

Possa a Vossa bondade, Senhor, ao tocar-lhe o coração, induzi-lo a melhores sentimentos para comigo!

Bons Espíritos inspirai-me o esquecimento do mal e a lembrança constante do bem! Que nem o ódio, nem o rancor, nem o desejo de lhe retribuir o mal com o mal, penetre m no meu coração, porque o ódio e a vingança são próprios unicamente dos maus Espíritos, encarnados e desencarnados! Que eu esteja, pelo contrário, sempre pronto a lhe estender a mão fraterna, a pagar-lhe o mal com o bem, e a ajudá-lo quando possível.

Desejo, para experimentar a sinceridade das minhas palavras, que se me apresente uma oportunidade de lhe ser útil. Mas, sobretudo, ó meu Deus, preservai-me de fazê-lo por orgulho ou ostentação, abatendo-o com uma generosidade humilhante, o que anularia os méritos da minha atitude. Porque, nesse caso, eu bem mereceria estas palavras do Cristo: Já recebestes a vossa recompensa.

Graças por um bem concedido aos inimigos

Prefácio: Não desejar o mal aos inimigos é ser caridoso apenas pela metade. A verdadeira caridade consiste em lhes desejarmos o bem, e em nos sentirmos felizes com o bem que lhes acontece.

Prece: Meu Deus, na vossa justiça, decidistes alegrar o coração de N..., e eu vos agradeço por ele, não obstante o mal que me haja feito ou que procura fazer-me. Se desse benefício ele se aproveitasse para humilhar-me, eu o aceitaria como uma prova para a minha caridade.

Bons Espíritos que me protegeis, não me deixeis ficar pesaroso por isso. Afastem de mim a inveja e o ciúme, que tanto nos rebaixam. Inspirai-me, pelo contrário, a generosidade que eleva. A humilhação decorre do mal e não do bem, e nós sabemos que, cedo ou tarde, justiça será feita a cada um segundo as suas obras.

Pelos inimigos do Espiritismo

Prefácio: De todas as liberdades, a mais inviolável é a de pensar, que compreende também a liberdade de consciência. Lançar o anátema contra os que não pensam como nós, é reclamar essa liberdade para nós e recusá-la aos outros, e é violar o primeiro mandamento de Jesus: o da caridade e do amor do próximo. Perseguir os outros pela crença que professam, é atentar contra o mais sagrado direito do homem: o de crer no que lhe convém, adorando a Deus como lhe parece melhor. Constrangê-los à prática de atos exteriores semelhantes aos nossos, é mostrar que nos apegamos mais à forma do que à essência, mais às aparências do que à convicção. A abjuração forçada jamais produziu a fé. Só pode fazer hipócritas. É um abuso da força material, que não prova a verdade. Porque a verdade é segura de si mesma; convence e não persegue, porque não tem necessidade de fazê-lo.

O Espiritismo é uma opinião, uma crença; fosse mesmo uma religião, por que não teriam os seus adeptos a liberdade de se dizerem espíritas, como a tem os católicos, os judeus e os protestantes, os partidários desta ou daquela doutrina filosófica, deste ou daquele sistema econômico? Esta crença é falsa ou verdadeira: se for falsa, cairá por si mesma, porque o erro não pode prevalecer contra a verdade, quando a luz se faz nas inteligências; e se é verdadeira, a perseguição não a tornará falsa.

A perseguição é o batismo de toda ideia nova, grande e justa, cuja propagação aumenta, na razão da grandeza e da importância da ideia. O furor e a cólera dos seus inimigos são equivalentes ao temor que ela lhes infunde. Foi essa a razão das perseguições ao Cristianismo na antiguidade, e essa a razão das perseguições ao Espiritismo, na atualidade, com a diferença de que o Cristianismo foi perseguido pelos pagãos, e o Espiritismo o é pelos cristãos. O tempo das perseguições sanguinárias já passou, é verdade, mas se hoje não matam o corpo, torturam a alma. Atacam-na até mesmo nos seus sentimentos mais profundos, nas suas mais caras afeições. As famílias são divididas, excitando-se a mãe contra a filha, a mulher contra o marido. E mesmo a agressão física não falta, atacando-se o corpo no tocante às suas necessidades materiais, ao tirarem às pessoas o próprio ganha pão, para reduzi-las à fome.

Espíritas, não vos aflijais com os golpes que vos desferem, pois são eles a prova de que estais com a verdade. Se não o estivésseis, vos deixariam em paz, não vos agrediriam. É uma prova para a vossa fé, pois é pela vossa coragem, pela vossa resignação, pela vossa perseverança, que Deus vos reconhece entre os seus fiéis servidores, os quais já está contando desde hoje, para dar a cada um a parte que lhe cabe, segundo suas obras.

A exemplo dos primeiros cristãos orgulhai-vos de carregar a vossa cruz. Crede na palavra do Cristo, que disse: “Bem-aventurados os que sofrem perseguição pela justiça, porque deles é o Reino dos Céus. Não temais os que matam o corpo, mas não podem matar a alma”. E acrescentou: “Amai aos vossos inimigos, fazei bem aos que vos fazem mal, e orai pelos que vos perseguem”. Mostrai que sois os seus verdadeiros discípulos, e que a vossa doutrina é boa, fazendo, para isso, o que ele ensinou e exemplificou.

A perseguição será temporária. Esperai, pois, pacientemente, o romper da aurora, porque a estrela da manhã já se levanta no horizonte.

Prece: Senhor, vós nos mandastes dizer por Jesus, o vosso Messias: “Bem-aventurados os que sofrem perseguição por amor da justiça; perdoai os vossos inimigos; orai pelos que vos perseguem”, e ele mesmo nos mostrou o caminho, orando pelos seus algozes.

Assim, apelamos à vossa misericórdia, Senhor, em favor dos que desprezam os vossos divinos preceitos, os únicos que realmente podem assegurar a paz, neste e no outro mundo. Como o Cristo, também nós vos pedimos: “Perdoai-lhes, Pai, porque eles não sabem o que fazem!”.

Dai-nos a força de suportar com paciência e resignação, como provas para a nossa fé e a nossa humildade, as zombarias, as injúrias, as calúnias e as perseguições que nos movem! Afastai-nos de qualquer ideia de represálias, pois a hora da vossa justiça soará para todos, e nós esperamos, submetendo-nos à vossa santa vontade.

Prece para um nascimento

Prefácio: Os Espíritos só chegam à perfeição depois de haverem passado pelas provas da vida corporal. Os que estão na erraticidade esperam que Deus lhes permita voltar a uma existência que deverá proporcionar-lhes os meios de adiantamento, seja pela expiação de suas faltas passadas, mediante as vicissitudes a que estiverem sujeitos, seja pelo cumprimento de uma missão útil à Humanidade. Seu progresso e sua felicidade futura serão proporcionais ao emprego que derem ao tempo de sua nova passagem pela Terra. O encargo de lhes guiar os primeiros passos, dirigindo-os para o bem, é confiado aos pais, que responderão perante Deus pela maneira com que se desincumbirem do seu mandato. É para facilitar-lhes a execução, que Deus fez do amor paternal e do amor filial uma lei da natureza, lei que jamais será violada impunemente.

Prece (Para ser dita pelos pais): Espírito que vos encarnastes como nosso filho, sede bem-vindo entre nós. Agradecemos a Deus Todo-Poderoso, pela benção que nos concedeu.

É um depósito que nos confiou, e do qual teremos de prestar contas um dia. Se ele pertence à nova geração de Bons Espíritos, que devem povoar a Terra, obrigado Senhor, por mais esse favor! Se é uma alma imperfeita, nosso dever é o de ajudá-la no progresso, em direção ao bem, por nossos conselhos e nossos bons exemplos. Se cair no mal por nossa culpa, teremos de responder por isso perante vós, porque não teremos cumprido nossa missão para com ele.

Senhor, amparai-nos no cumprimento da nossa tarefa, e dai-nos a força e a vontade de bem realizá-la. Se esta criança tiver de ser um motivo de provas para nós, seja feita a vossa vontade!

Bons Espíritos, que viestes presidir ao seu nascimento e que deveis acompanhá-la durante a vida, jamais a abandoneis. Afastai os maus Espíritos que tentarem induzi-la ao mal. Dai-lhe a força de resistir às suas sugestões, e a coragem de sofrer com paciência e resignação as provas que a esperam na Terra.

Prece (Outra): Meu Deus, Vós me confiastes a sorte de um dos vossos filhos; fazei, pois, Senhor, que eu me torne digno da tarefa que me destes. Concedei-me a vossa proteção, e esclarecei a minha inteligência, para que eu possa discernir desde logo as tendências desse Espírito, que devo preparar para a vossa paz.

Prece (Outra): Deus de infinita bondade, já que te aprouve permitir ao Espírito desta criança voltar novamente às provas terrenas, para o seu próprio progresso, concede-lhe a luz necessária, a fim de aprender a conhecer-te, amar-te e adorar-te. Faze pelo teu supremo poder, que esta alma se regenere na fonte dos teus divinos ensinamentos. Que, sob a proteção do seu Anjo da Guarda, sua inteligência se fortaleça e se desenvolva, aspirando a aproximar-se cada vez mais de ti. Que a Ciência do Espiritismo seja a luz brilhante a iluminar o seu caminho, através dos escolhos da existência. Que ele saiba, enfim, compreender toda a extensão do teu amor, que nos submete à prova para nos purificar.

Senhor, lança o teu olhar paterno sobre a família a que confiaste esta alma, para que ela possa compreender a importância da sua missão, e faze germinar nesta criança as boas sementes, até o momento em que ela possa, por si mesma, Senhor, e através de suas próprias aspirações, elevar-se gloriosamente para ti.

Digna-te, ó meu Deus, ouvir esta humilde prece, em nome e pelos méritos daquele que disse: “Deixai vir a mim os pequeninos, porque o Reino dos Céus é daquele que se lhes assemelham!”.

Por um agonizante

Prefácio: A agonia é o prelúdio da libertação da alma; pode dizer-se que, nesse momento, o homem tem apenas um pé neste mundo, e que já pôs um no outro. Essa passagem é algumas vezes penosa, para aqueles que se apegam à matéria e viveram mais para os bens deste mundo do que para os do outro, e cuja consciência se acha perturbada por mágoas e remorsos. Para os que, pelo contrário, mantiveram seus pensamentos elevados ao infinito e se desprenderam da matéria, os laços são mais fáceis de romper, e seus últimos momentos nada têm de dolorosos. A alma, então, prende-se ao corpo, apenas por um fio, enquanto que, no outro caso, liga-se por raízes profundas. Em qualquer caso, a prece exerce poderosa ação no processo de separação.

Prece: Deus poderoso e misericordioso, eis uma alma que deixa o seu envoltório terrestre, para voltar ao Mundo dos Espíritos, que é a sua verdadeira pátria! Que o possa fazer em paz, sob o amparo da vossa misericórdia.

Bons Espíritos, que a acompanhastes na sua vida terrena, não a abandoneis neste momento supremo! Dai-lhe a força de suportar os últimos sofrimentos por que deve passar neste mundo, para o seu adiantamento futuro. Inspirai-a, para que ela consagre ao arrependimento de sua falta os derradeiros lampejos da sua inteligência, ou os que momentaneamente ainda lhe advenham.

Fazei que o meu pensamento possa agir de maneira a ajudá-la a separar-se com menos dificuldades, e que ela leve consigo, no momento de deixar a Terra, as consolações da esperança.

Preces pelos Espíritos

Para logo após a morte

Prefácio: As preces pelos Espíritos que acabam de deixar a Terra têm por fim, não apenas proporcionar-lhes uma prova de simpatia, mas também ajudá-los a se libertarem das ligações terrenas, abreviando a perturbação que segue sempre à separação do corpo, e tornando mais calmo o seu despertar. Mas ainda nesse caso, como em todas as demais circunstâncias, a eficácia da prece depende da sinceridade do pensamento, e não da abundância de palavras, ditas com maior ou menor ênfase, e das quais, na maioria das vezes, o coração não participa.

As preces que partem realmente do coração encontram ressonância no Espírito a que se dirigem, e cujas ideias estão ainda em estado de confusão, como se fossem vozes amigas que vão despertá-lo do sono.

Prece: Deus Todo-Poderoso, que vossa misericórdia se estenda sobre a alma de N..., que acabais de chamar para vós. Possam ser contadas em seu favor as provas por que passou na Terra, e as nossas preces abrandar e abreviar as penas que ainda tenha de sofrer como Espírito!

Vós, Bons Espíritos que viestes receber essa criatura, e vós, sobretudo, que sois o seu Anjo Guardião, assisti-o, ajudando-o a se despojar da matéria. Dai-lhe a luz necessária, e a consciência de si mesmo, a fim de se livrar da perturbação que acompanha a passagem da vida corporal para a vida espiritual. Inspirai-lhe o arrependimento de suas faltas e o desejo de repará-las, para apressar o seu progresso rumo à eterna bem-aventurança.

A ti, N..., que acabas de entrar no Mundo dos Espíritos, quero dizer que, não obstante, aqui encontras entre nós, e nos vê e nos ouve, pois apenas deixaste o corpo perecível, que logo será reduzida a poeira.

Deixaste o envoltório grosseiro, sujeito às vicissitudes e à morte, e conservastes apenas os envoltórios etéreos, imperecíveis e inacessíveis aos sofrimentos materiais. Se não vives mais pelo corpo, vives entretanto pelo Espírito, e essa vida espiritual está isenta das misérias que afligem a Humanidade.

Não tens mais sobre os olhos o véu que nos oculta os esplendores da vida futura. Podes agora contemplar novas maravilhas, enquanto nós continuamos mergulhados nas trevas.

Vais percorrer o espaço e visitar os mundos, em plena liberdade, enquanto nós rastejamos penosamente na Terra, presos aos nossos corpos materiais, semelhantes a um pesado fardo.

Os horizontes do infinito se desvendarão diante de ti, e ao ver tanta grandeza, compreenderás a vaidade das ambições terrenas, das nossas aspirações mundanas, e das alegrias fúteis a que os homens se entregam.

A morte, para os homens, é apenas uma separação momentânea, no plano material. Do exílio em que ainda nos mantém a vontade de Deus, os deveres que ainda temos de cumprir neste mundo, nós te seguiremos pelo pensamento, até o momento em que nos seja permitido juntar-nos novamente contigo, como agora te reúnes aos que te precederam.

Não podemos ir ao teu encalço, mas podes vir até nós. Vem, pois, atender os que te amam e que também amaste. Ampara-os nas provas da vida; vela pelos que te são caros; protege-os segundo as tuas possibilidades; suaviza-lhes as amarguras da saudade, sugerindo-lhes o pensamento de que estás agora mais feliz, e a consoladora certeza de que um dia estarão todos reunidos num mundo melhor.

No mundo em que estás todos os ressentimentos terrenos devem extinguir-se. Que possas, para a tua felicidade futura, permanecer agora inacessível a eles! Perdoa, pois, a todos os que possam ter cometido faltas para contigo, como aqueles para os quais erraste também te perdoam.

Nota: Podem-se juntar a esta prece, que se aplica a todos, algumas palavras especiais, segundo as circunstâncias particulares da família, ou das relações e da posição do falecido.

Quando se trata de uma criança, sabemos, pelo Espiritismo, que não estamos diante de um Espírito recém-criado, mas que já viveu outras vidas, e que pode até mesmo ser bem adiantado. Se a sua última existência foi curta, é que necessitava de um complemento de provas, ou devia ser uma prova para os pais.

Prece (Outra): Senhor Todo-Poderoso, que vossa misericórdia se derrame sobre os nossos irmãos que acabam de deixar a Terra! Que brilhe vossa luz aos seus olhos! Tirai-os das trevas, abri os seus olhos e os seus ouvidos! Que os Bons Espíritos os envolvam e lhes façam ouvir suas palavras de paz e de esperança!

Senhor, por mais indignos que sejamos, temos a ousadia de implorar a vossa misericórdia indulgência em favor deste nosso irmão que acabais de chamar do exílio. Fazei que o seu retorno seja o do filho pródigo. Esquecei, ó meu Deus, as faltas que tenha cometido, para vos lembrardes somente do bem que tenha podido fazer! Imutável é a vossa justiça, bem o sabemos, mas imenso é o vosso amor! Nós vos suplicamos que abrande a vossa justiça pela fonte de bondade que emana de nós!

Que a luz se faça para ti, meu irmão que acabas de deixar a Terra! Que os Bons Espíritos do Senhor venham socorrer-te, envolvendo-te e ajudando-te a sacudir para longe as tuas cadeias terrestres! Vê e compreende a grandeza de nosso Senhor; submete-te sem queixas à sua justiça; mas jamais te desesperes da sua misericórdia. Irmão! Que um profundo exame do teu passado te abra as portas do futuro, fazendo-te compreender as falhas que deixastes para trás, bem como o trabalho que te espera, para que possas repará-las! Que Deus te perdoe, e que os seus Bons Espíritos te amparem e encorajem! Teus irmãos da Terra orarão por ti, e te pedem que ores por eles.

Por aqueles que amamos

Prefácio: Como é horrível a ideia do nada! Como são dignos de lástima os que pensam que a voz do amigo que chora o seu amigo se perde no vácuo, sem encontrar o menor sinal de resposta! Eles jamais conheceram as afeições puras e santas. Como conhecer, se pensam que tudo morre com o corpo; que o gênio, depois de iluminar o mundo com a sua poderosa inteligência, extingue-se como um sopro, no apagar de um simples jogo de forças materiais; que do ser mais querido, como o pai, a mãe, um filho adorado, não resta mais do que um punhado de poeira, que o vento inevitavelmente dispersará?

Como pode um homem sensível indiferente a essa ideia? Como não o gela de horror a ideia de um aniquilamento absoluto, e não o faz pelo menos desejar que assim não seja? Se até a razão não foi suficiente para dissipar as suas dúvidas, eis que o Espiritismo o vem fazer, através das provas materiais de sobrevivência que nos proporciona, e consequentemente da existência dos seres de além túmulo. Justamente por isso, essas provas são acolhidas por toda parte com satisfação. E a confiança renasce, pois o homem sabe, de agora em diante, que a vida terrena é apenas uma rápida passagem, que conduz a uma vida melhor. Seus trabalhos neste mundo não ficam mais perdidos para ele, e as suas mais santas afeições não são rompidas sem qualquer esperança Prece: Acolhe favoravelmente, ó Deus de bondade, a prece que vos dirijo pelo Espírito de N...! Faze-lhe perceber as tuas luzes divinas, e facilita-lhe o caminho da felicidade eterna! Permite que os Bons Espíritos levem até ele as minhas palavras e o meu pensamento.

E tu, que eu tanto queria neste mundo, ouve a minha voz que te chama para dar-te uma nova prova da minha afeição! Deus permitiu que fosses libertado antes de mim, e eu não poderia lamentá-lo sem demonstrar egoísmo, porque equivaleria a desejar que continuasse sujeito às penas e aos sofrimentos da vida. Espero, pois, com resignação, o momento da nossa união, nesse mundo mais feliz, a que chegaste antes de mim.

Bem sei que a nossa separação é apenas momentânea, e que, por mais longa ela possa me parecer, sua duração se esvai diante da eternidade de ventura que Deus promete aos seus eleitos. Que a sua bondade me livre de fazer qualquer coisa que possa retardar esse instante desejado, e que assim me poupe à dor de não te encontrar, ao sair do meu cativeiro terreno.

Oh, como é doce e consoladora a certeza de não haver, entre nós, mais do que um véu material, que te esconde ao meu olhar; a certeza de podes estar aqui, ao meu lado, ver-me e ouvir-me como outrora; de que não me esqueces, da mesma maneira como não te esqueço; de que os nossos pensamentos se confundem incessantemente, e de que o teu me segue e me ampara sempre!

Que a paz do Senhor esteja contigo!

Pelos sofredores que pedem preces

Prefácio: Para compreender o alívio que a prece pode proporcionar aos Espíritos sofredores, é necessário lembrar o seu modo de ação, anteriormente explicado. Aquele que se compenetrou desta verdade, ora com mais fervor, em virtude da certeza de não fazê-lo em vão.

Prece: Deus clemente e misericordioso, que a vossa bondade se derrame sobre todos os Espíritos que se recomendam às nossas preces, e particularmente sobre o Espírito de N....

Bons Espíritos, que tendes o bem por ocupação única, intercedei comigo a favor deles! Fazei brilhar aos seus olhos um clarão de esperanças, e que a divina luz os esclareça quanto às imperfeições que os afastam dos bem-aventurados. Abri os seus corações ao arrependimento e ao desejo de se purificarem, para apressarem o seu adiantamento. Fazei-os compreender que, pelos seus esforços, podem abreviar o tempo de suas provas.

Que Deus, na sua bondade, lhe dê a força de perseverança nas suas boas resoluções!

Possam estas palavras amigas suavizar-lhes as penas, mostrando-lhes que há, sobre a Terra, quem deles e compadece e lhes deseja toda a felicidade!

Prece (Outra): Derramai, Senhor, nós vos pedimos, sobre todos os que sofrem, como Espíritos errantes, no espaço, ou entre nós, como Espíritos encarnados, as graças do vosso amor e da vossa misericórdia! Tende piedade das nossas fraquezas. Vós nos fizestes falíveis, mas nos destes a força de resistir ao mal e de vencê-lo. Que a vossa misericórdia se estenda sobre todos os que não puderem resistir às suas más tendências, e ainda se encontram pelo caminho do mal. Que os Bons Espíritos os envolvam; que as vossas luzes brilhem aos seus olhos, e que, atraídos pelo seu calor vivificante, venham prosternar-se aos vossos pés, humildes, arrependidos e submissos.

Nós vos pedimos igualmente, Pai de Misericórdia, pelos nossos irmãos que não tiverem forças para suportar suas provas terrenas. Vós nos daí um fardo a carregar, Senhor, e só devemos depô-lo aos vossos pés! Mas a nossa fraqueza é demasiada, e a coragem nos falta algumas vezes em meio do caminho! Tende piedade desses servos indolentes, que abandonaram o trabalho antes da hora! Que a vossa justiça os poupe, e permiti Senhor, que os Bons Espíritos lhes levem alívio, consolações e esperanças! A perspectiva do perdão fortalece as almas; abri-a, Senhor, para os culpados que se desesperam, e, sustentados por essa esperança, eles encontrarão forças na própria intensidade de suas faltas e de seus sofrimentos, para resgatarem o seu passado e se predisporem à conquista do futuro.

Por um inimigo que morreu

Prefácio: A caridade para com os inimigos deve acompanhá-los no além-túmulo. Devemos pensar que o mal que eles nos fizeram foi para nós uma prova, que pode ser útil ao nosso adiantamento, se a soubermos aproveitar. Pode mesmo ser mais útil ainda que as aflições de ordem puramente material, por nos permitirem juntar, à coragem e à resignação, a caridade e o esquecimento das ofensas.

Prece: Senhor quiseste chamar de mim o Espírito de N.... Perdoo-lhe o mal que me fez e as más intenções que alimentou a meu respeito. Possa ele arrepender-se de tudo isso, agora que não está mais sob as ilusões deste mundo.

Que a vossa misericórdia, meu Deus, se derrame sobre ele, e afastai de mim o pensamento de alegrar-me com a sua morte. Se também fui mau para com ele, que me perdoe, como me esqueço do que tenha feito contra mim.

Por um criminoso

Prefácio: Se a eficácia das preces estivesse na razão da sua extensão, as mais longas deviam ser reservadas para os mais culpados, porque eles têm mais necessidade do que aqueles que viveram santamente. Recusá-las aos criminosos é faltar à caridade e desconhecer a misericórdia de Deus. Pensar que são inúteis, porque um homem cometeu faltas muito graves, seria prejulgar a justiça do Altíssimo.

Prece: Senhor Deus de Misericórdia, não repudieis esse criminoso que acaba de deixar a Terra! A justiça dos homens pode condená-lo, mais isso não o livra da vossa justiça, caso o seu coração não tenha sido tocado pelo remorso.

Tirai-lhe a venda que lhe oculta a gravidade de suas faltas, e possa o seu arrependimento merecer a vossa graça, para que se aliviem os sofrimentos de sua alma! Possam também as nossas preces, e a intercessão dos Bons Espíritos, levar-lhe a esperança e consolação; inspirar-lhe o desejo de reparar as suas más ações, através de uma nova existência; e dar-lhe a força necessária para não sucumbir nas novas lutas que terá de enfrentar!

Senhor, tende piedade dele!

Por um suicida

Prefácio: O homem não tem jamais o direito de dispor da sua própria vida, pois só a Deus compete tirá-lo do cativeiro terreno, quando o julgar oportuno. Apesar disso, a justiça divina pode abrandar o seu rigor, em virtude de certas circunstâncias, reservando, porém, toda a sua severidade para aquele que quis furtar-se às provas da existência. O suicida assemelha-se ao prisioneiro que escapa da prisão antes de cumprir a sua pena, e que ao ser preso de novo será tratado com mais severidade. Assim acontece, pois com o suicida, que pensa escapar às misérias presentes e mergulha em maiores desgraças.

Prece: Sabemos qual a sorte que espera os que violam a vossa lei, Senhor, para abreviar voluntariamente os seus dias! Mas sabemos também que a vossa misericórdia é infinita. Estendei-a sobre o Espírito de N..., Senhor! E possam as nossas preces e a vossa comiseração abrandar as amarguras dos sofrimentos que suporta, por não ter tido a coragem de esperar o fim das suas provas!

Bons Espíritos, cuja missão é assistir os infelizes, tomai-o sob a vossa proteção; inspirai-lhe o remorso pela falta cometida, e que a vossa assistência lhe dê a força de enfrentar com mais resignação às novas provas que terá de sofrer, para repará-la. Afastai dele os maus Espíritos, que poderiam levá-lo novamente ao mal, prolongando os seus sofrimentos, ao fazê-lo perder o fruto das novas experiências.

E a ti, cuja desgraça provoca as nossas preces, que possa a nossa comiseração adoçar a tua amargura, fazendo nascer em teu coração a esperança de um futuro melhor! Esse futuro está nas vossas próprias mãos: confia na bondade de Deus, que espera sempre por todos os que se arrependem, e só é severo para os de coração empedernido.

Para os Espíritos em arrependimento

Prefácio: Seria injusto colocar na categoria dos maus Espíritos os que estão em sofrimento e arrependimento, pedindo preces. Podem ter sido maus, mas já não o são mais desde o momento em que reconhecem as suas faltas e as lamentam. São apenas infelizes. Alguns, até mesmo, já começam a gozar de uma felicidade relativa.

Prece: Deus de misericórdia que aceitais o arrependimento sincero do pecador encarnado ou desencarnado, eis aqui um Espírito que se comprometeu com o mal, mas que reconhece os seus erros e entra no bom caminho. Dignai-vos, Senhor, recebê-lo como um filho pródigo e dar-lhe o vosso perdão.

Bons Espíritos, se ele desprezou as vossas vozes, agora deseja ouvi-las. Permiti-lhe entrever a felicidade dos eleitos do Senhor, para que persista no desejo de se purificar, a fim de atingi-la. Sustentai-o nas suas boas resoluções, e dai-lhe a força de resistir aos seus maus instintos.

A vós, Espírito de N..., nossas felicitações pela vossa modificação, e nossos agradecimentos aos Bons Espíritos que vos ajudaram!

Se antes vos comprazíeis no mal, era porque não sabíeis como é doce e bom fazer o bem, e porque te julgavas demasiado baixo para o conseguir. Mas, desde o instante em que puseste o pé no bom caminho, uma nova luz se fez para vós. Começaste a gozar, então, de uma felicidade desconhecida, e a esperança brilhou no vosso coração. É que Deus sempre escuta a prece do pecador em arrependimento, jamais repelindo os que o procuram.

Para voltar completamente à graça do Senhor, aplicai-vos, de agora em diante, não só a evitar o mal, mas em fazer o bem, e, sobretudo em reparar o mal que fizestes. Então tereis satisfeito a justiça de Deus, pois cada boa ação apagará uma de tuas faltas passadas.

O primeiro passo está dado; agora, quanto mais avançardes, mais o caminho te parecerá fácil e agradável. Perseverai, pois, em um dia terás a glória de ser contado entre os Bons Espíritos, entre os Espíritos Bem-aventurados.

Pelos Espíritos endurecidos

Prefácio: Os maus Espíritos são os que ainda não foram tocados pelo arrependimento; que se comprazem no mal e não sentem nenhuma pena pelo que fazem; que são insensíveis às repreensões, repelem a prece e frequentemente blasfemam contra Deus. São essas almas endurecidas que, após a morte, se vingam dos homens pelos sofrimentos que suportaram, e perseguem com o seu ódio aqueles a quem detestaram durante a vida, seja obsedando-os, seja perturbando-os com alguma falsa influência.

Entre os Espíritos perversos, há duas categorias bem distintas: a dos que são fracamente maus, e a dos hipócritas. Os primeiros são infinitamente mais fáceis de serem conduzidos ao bem, do que os segundos. Porque são, na maioria das vezes, de natureza estúpida e grosseira, como podemos ver entre os homens, e como estes, fazem o mal mais por instinto do que por cálculo, e não pretendem passar por melhores do que são. Há neles um germe latente, que é necessário fazer germinar, o que se consegue quase sempre com perseverança, firmeza e benevolência, através de conselhos, das argumentações e da prece. Nas comunicações mediúnicas, a dificuldade que sentem para pronunciar o nome de Deus revela um temor instintivo, e uma recriminação da consciência, que os acusa de indignidade. Os que assim se apresentam estão no limiar da conversão, e tudo podemos esperar deles: basta encontrar-lhes o ponto vulnerável do coração.

Os Espíritos hipócritas são quase sempre muito inteligentes e não tem no coração nenhuma fibra sensível. Nada os toca. Fingem todos os bons sentimentos para ganhar a confiança, e ficam felizes quando encontram tolos que os aceitam como Espíritos bons, pois então podem dirigi-los à vontade. O nome de Deus, longe de lhes inspirar o menor temor, serve-lhes de máscara para as suas torpezas. No mundo invisível, como no mundo visível, os hipócritas são os seres mais perigosos, porque agem na sombra, e deles não se desconfia. Eles têm as aparências da fé, mas não a sinceridade da fé.

Prece: Senhor dignai-vos lançar um olhar de bondade aos Espíritos imperfeitos, que estão ainda nas trevas da ignorância e que vos desconhecem, principalmente ao Espírito de N....

Bons Espíritos ajudai-nos a fazê-lo compreender que, induzindo os homens ao mal, obsedando-os e atormentando-os, prolonga os seus próprios sofrimentos; fazei que o exemplo da felicidade que gozais se torne um encorajamento para eles.

Espírito que te comprazes ainda na prática do mal, ouvistes aprece que fizemos por ti; ela deve provar-te que desejamos fazer-te o bem, embora faças o mal.

És infeliz, porque é impossível ser feliz praticando o mal. Porque, pois, permanecer no sofrimento, quando depende de ti sair dele? Não vês os Bons Espíritos que te cercam, como são felizes, e não te seria agradável gozar também dessa felicidade?

Dirás que isso é impossível, mas nada é impossível para aquele que o quer, porque Deus te deu, como a todas as criaturas, a liberdade de escolher entre o bem e o mal, o que vale dizer: entre a felicidade e a desgraça, e ninguém é condenado a fazer o mal. Se tiveres a vontade de o fazer, podes ter também a de fazer o bem e ser feliz.

Eleva os teus olhos a Deus; eleva o teu pensamento a Ele, apenas por um instante, e um raio de sua divina luz virá esclarecer-te. Dize conosco estas simples palavras: Meu Deus, eu me arrependo, perdoa-me! Tenta arrepender-te e fazer o bem em lugar do mal e verás que prontamente a sua misericórdia descerá sobre ti e um bem-estar desconhecido virá substituir as agonias que sofres.

Quando tiveres dado um passo no caminho do bem, o resto será fácil. Compreenderás, então, quanto tempo perdeu da tua felicidade, por tua própria culpa. Mas um futuro radioso e cheio de esperança se abrirá diante de ti, fazendo-te esquecer o teu miserável passado, cheio de perturbações e de torturas morais, que seriam para ti um inferno, se tivessem de durar eternamente. Chegará o dia em que essas torturas serão tais, que a todo custo quererás fazê-las cessar; porém, quanto mais esperares para tomar uma decisão, mais difícil te será escapares a elas.

Não creias que ficarás sempre nesse estado. Não, porque isso é impossível. Tens duas perspectivas pela frente: uma, é a de sofreres muitíssimo mais do que até agora; outra a de seres feliz como os Bons Espíritos que estão ao teu redor. A primeira é inevitável, se persistires na tua obstinação; para a segunda, basta um simples esforço da tua vontade, que te afastará do mau caminho. Apressa-te, portanto, pois cada dia de atraso é um dia de felicidade que perdes!

Bons Espíritos, fazei que estas palavras encontrem acesso nessa alma ainda atrasada, e possam ajudá-la a aproximar-se de Deus! Nós vo-lo pedimos em nome de Jesus Cristo, que teve tão grande poder sobre os Espíritos maus.

Preces pelos doentes e obsedados

Pelos doentes

Prefácio: As doenças pertencem às provas e às vicissitudes da vida terrena. São inerentes à grosseria da nossa natureza material e à inferioridade do mundo que habitamos. As paixões e os excessos de toda espécie, por sua vez, criam em nossos organismos condições malsãs, frequentemente transmissíveis pela hereditariedade. Nos mundos mais avançados, física e moralmente, o organismo humano, mais depurado e menos material, não está sujeito às mesmas enfermidades que o nosso, e o corpo não é minado secretamente pela devastação das paixões. É necessário, pois, que nos resignemos a sofrer as consequências do meio em que nos situa a nossa inferioridade, até que nos façamos dignos de uma transferência. Isso não deve impedir-nos de lutar para melhorar a nossa situação atual. Mas, se apesar dos nossos esforços, não pudermos fazê-lo, o Espiritismo nos ensina a suportar com resignação os nossos males passageiros.

Se Deus não quisesse que pudéssemos curar ou aliviar os sofrimentos corporais, em certos casos, não teria colocado meios curativos à nossa disposição. Sua solicitude previdente, a esse respeito, confirmada pelo instinto de conservação, mostra que o nosso dever é procurá-los e aplicá-los.

Ao lado da medicação ordinária, elaborada pela ciência, o magnetismo nos deu a conhecer o poder da ação fluídica, e depois o Espiritismo veio revelar-nos outra espécie de força, através da mediunidade curadora e da influência da prece.

Prece (Para o doente pronunciar: Senhor, vós sois todo justiça, e se me enviaste a doença é porque a mereci, pois não fazeis sofrer sem motivo). Coloco a minha cura, portanto, sob a vossa infinita misericórdia. Se for de vosso agrado restabelecer-me a saúde, darei graças a vós; se, pelo contrário, eu tive de continuar sofrendo, da mesma forma darei graças. Submeto-me sem murmurar aos vossos decretos divinos, porque tudo o que fazeis só pode ter por fim, o bem das vossas criaturas.

Fazei, ó meu Deus, que esta doença seja para mim uma benéfica advertência, levando-me a examinar-me a mim mesmo. Aceito-a como uma expiação do passado e como uma prova para a minha fé e a minha submissão à vossa santa vontade.

Prece (Por um doente): Meu Deus são impenetráveis os vossos desígnios, e na vossa sabedoria enviastes a N... uma enfermidade. Voltai para ele, eu vos suplico um olhar de compaixão, e dignai-vos por um termo aos seus sofrimentos!

Bons Espíritos, vós que sois os ministros do Todo-Poderoso, secundai, eu vos peço, o meu desejo de aliviá-lo. Dirigi o meu pensamento, a fim de que possa derramar-se sobre o seu corpo como um bálsamo salutar, e sobre a sua alma como uma consolação.

Inspirai-lhe a paciência e a submissão à vontade de Deus; e dai-lhe a força de suportar as suas dores com resignação cristã, para não perder os resultados desta prova por que está passando.

Prece (Para o médium curador): Meu Deus, se quiserdes vos servir de mim, apesar de tão indigno, poderei curar este sofrimento, desde que seja essa à vontade, porque tenho fé no vosso poder. Sem vós, porém, nada posso. Permiti aos Bons Espíritos impregnar-me com o seu fluido salutar, a fim de que o possa transmitir a este doente, e afaste de mim qualquer pensamento de orgulho e de egoísmo, que lhes poderia alterar a pureza.

Pelos obsedados

Prefácio: A obsessão é a ação persistente de um mau Espírito sobre uma pessoa. Apresenta características muito diversas, desde a simples influência de ordem moral, sem sinais exteriores perceptíveis, até a completa perturbação do organismo e das faculdades mentais. Oblitera todas as faculdades mediúnicas. Na mediunidade psicográfica, ou de escrever, revela-se pela obstinação de um Espírito em se manifestar exclusivamente, sem permitir que outros o façam.

Os maus Espíritos pululam ao redor da Terra, em consequência da inferioridade moral dos seus habitantes. Sua ação malfazeja faz parte dos flagelos que a Humanidade suporta neste mundo. A obsessão, como as doenças, e como todas as atribuições da vida, deve ser considerada, pois, como uma prova ou uma expiação, e aceita nessa condição.

Assim como as doenças são o resultado das imperfeições físicas, que tornam o corpo acessível às influências perniciosas do exterior, a obsessão é sempre o resultado de uma imperfeição moral, que dá acesso a um mau Espírito. A uma causa física, opõe-se uma força física; a uma causa moral, é necessário opor uma força moral. Para preservar das doenças, fortifica-se o corpo; para garantir contra a obsessão, é necessário fortificar a alma. Disso resulta que o obsedado precisa trabalhar pela sua própria melhoria, o que na maioria das vezes é suficiente para o livrar do obsessor, sem socorrer-se de outras pessoas. Esse socorro se torna necessário quando a obsessão degenera em subjugação e em possessão, porque o paciente perde, por vezes, a sua vontade própria e o seu livre arbítrio.

A obsessão é quase sempre a ação vingativa de um Espírito, e na maioria das vezes tem sua origem nas relações do obsidiado com o obsessor, em existência anterior.

Nos casos de obsessão grave, o obsidiado está como envolvido e impregnado por um fluído pernicioso, que neutraliza a ação dos fluídos salutares e os repele. É necessário livrá-lo desse fluido. Mas um mal fluido não pode ser repelido por outro da mesma espécie. Por uma ação semelhante a que o médium curador exerce nos casos de doença, é preciso expulsar o fluido mau com a ajuda de um fluido melhor, que produz, de certo modo, o efeito de um resgate. Essa é a que podemos chamar de ação mecânica, mas não é suficiente. Faz-se também necessário, e acima de tudo, agir sobre os ser inteligente, com o qual se deve falar com autoridade, sendo que essa autoridade só é dada pela superioridade moral. Quanto maior for esta, tanto maior será a autoridade.

E ainda não é tudo, pois para assegurar a libertação, é preciso convencer o Espírito perverso a renunciar aos seus maus intentos; despertar-lhe o arrependimento e o desejo do bem, através de instruções habilmente dirigidas, com a ajuda de evocações particulares, feitas no interesse da sua educação moral. Então, pode-se ter a dupla satisfação de libertar um encarnado e converter um Espírito imperfeito.

A tarefa se torna mais fácil, quando o obsidiado, compreendendo a sua situação, oferece o concurso da sua vontade e das suas preces. Dá-se o contrário quando, seduzido pelo Espírito embusteiro, ele se mantém iludido quanto às qualidades da entidade que o domina, e se compraz nas suas mistificações, porque então, em vez de ajudar, ele mesmo repele qualquer assistência. É o caso da fascinação, sempre infinitamente mais rebelde do que a mais violenta subjugação.

Em todos os casos de obsessão, a prece é o mais poderoso auxiliar da ação contra o Espírito obsessor.

Prece (Para o obsidiado proferir): Meu Deus, permiti aos Bons Espíritos me livrarem do Espírito malfazejo que se ligou a mim. Se é uma vingança que ele pretende exercer, em consequência dos males que eu lhe teria feito outrora, vós o permitistes, meu Deus, e eu sofro por minha própria culpa. Possa o meu arrependimento me fazer merecedor do vosso perdão e da minha liberdade! Mas, seja qual for o motivo, suplico a vossa misericórdia para ele. Facilitai-lhe, Senhor, a senda do progresso, de que se desviou pelo pensamento de fazer o mal. Possa eu, de meu lado, retribuindo-lhe o mal com o bem, encaminhá-lo a melhores sentimentos.

Mas sei também, ó meu Deus, que são as minhas imperfeições que me tornam acessível às influências dos Espíritos imperfeitos. Dai-me a luz necessária para as reconhecer; e afastai sobretudo o meu orgulho, que me torna cego para os meus defeitos.

Como deve ser grande a minha indignidade, para que um ser malfazejo me possa dominar!

Fazei, ó meu Deus, que este golpe desferido na minha vaidade me sirva de lição para o futuro; que ele me fortaleça na decisão de me depurar pela prática do bem, da caridade e da humildade, a fim de que possa opor, daqui por diante, uma barreira ao ataque das más influências.

Senhor, dai-me a força de suportar esta prova com paciência e resignação! Compreendo que, como todas as demais provas, ela deve contribuir para o meu adiantamento, se eu não comprometer os seus resultados, com as minhas lamentações, pois ela me oferece uma oportunidade de demonstrar a minha submissão, e de praticar a caridade para com um irmão infeliz, perdoando-lhe o mal que me tenha feito.

Prece (Pelo obsidiado): Deus Todo-Poderoso, dai-me o poder de livrar N... do Espírito que o obseda. Se está nos vossos desígnios pôr um fim a esta prova, concedei-me a graça de falar a esse Espírito com a necessária autoridade.

Bons Espíritos que me assistem, e vós, Anjo-Guardião de N..., dai-me o vosso concurso; ajudai-me a libertá-lo do fluido impuro que o envolveu.

Em nome de Deus Todo-Poderoso, conjuro o Espírito malfazejo que o atormenta a se afastar.

Prece (Pelo Espírito obsessor): Deus, infinitamente bom, suplico a vossa misericórdia para o Espírito que obseda N...! Fazei que ele perceba as divinas claridades, a fim de que reconheça a falsidade do caminho que está seguindo. Bons Espíritos ajudai-me a fazê-lo compreender que ele tem tudo a perder na prática do mal, e tudo a ganhar na prática do bem!

Espírito que vos comprazeis em atormentar N... ouvi-me, pois, que vos falo em nome de Deus!

Se quiserdes refletir, compreendereis que o mal não pode levar ao bem, e que não podeis ser mais forte do que Deus e os Bons Espíritos, que poderão preservar N... de qualquer atentado de vossa parte. Se não o fizeram, foi porque ele tinha uma prova a sofrer. Mas quando essa prova terminar, eles vos impedirão de agir sobre ele. O mal que lhe tiverdes feito, em vez de prejudicá-lo, terá servido para o seu adiantamento, tornando-o mais feliz. Assim, a vossa maldade terá sido em vão, mas tornará fatalmente contra vós.

Deus, que é Todo-Poderoso, e os Espíritos Superiores, seus servidores, que são mais poderosos do que vós, poderão então por um fim a essa obsessão, quando quiserem, e a vossa tenacidade se quebrará contra essa autoridade suprema. Mas, por ser bom, quer Deus vos deixar o mérito de interrompê-la pela vossa própria vontade. É uma concessão que vos faz, e se não a aproveitardes, tereis de sofrer deploráveis consequências, pois, grandes castigos e duros sofrimentos vos esperam. Sereis forçados a implorar a sua piedade e as preces da vossa vítima, que já vos perdoou e ora por vós, o que é um grande mérito aos olhos de Deus e apressará a sua libertação.

Refleti, pois, enquanto é tempo, porque a justiça de Deus pesará sobre vós, como sobre todos os outros Espíritos rebeldes. Lembrai-vos de que o mal que fazeis neste momento terá forçosamente um fim, enquanto que, se persistirdes no vosso endurecimento, os vossos sofrimentos aumentarão sem cessar.

Quando estivestes na Terra, não consideráveis estúpido, sacrificar um grande bem por uma pequena e breve satisfação? O que ganhais com o que estais fazendo? O triste prazer de atormentar alguém, que nem sequer vos impede de ser infeliz, por mais que afirmeis o contrário, e mais infeliz ainda vos fará no futuro!

Ao lado disso, vede o que perdeis: observai os Bons Espíritos que vos cercam e dizei se a sua sorte não é preferível à vossa. A felicidade que desfrutam será também vossa, quando o quiserdes. O que é necessário para tanto? Implorar a Deus o seu auxílio, e fazer o bem em vez de fazer o mal. Bem sei que não podeis transformar-vos de um momento para outro; mas Deus não quer o impossível; o que deseja é apenas a boa vontade. Tentai, portanto, e nós vos ajudaremos. Fazei que bem logo possamos dizer em vosso favor a prece pelos Espíritos em arrependimento, e não mais vos classificar entre os maus Espíritos, enquanto esperamos o momento de vos contar entre os bons.


Observação: A cura das obsessões graves requer muita paciência, perseverança e devotamento. Exige também tato e habilidade, para a condução ao bem de Espíritos quase sempre muito perversos, endurecidos e astuciosos, pois que os há rebeldes até o último grau. Na maioria dos casos, devemos guiar-nos pelas circunstâncias. Mas, seja, qual for à natureza do Espírito, o certo é que nada se obtém pelo constrangimento ou pela ameaça, pois toda a influência depende do ascendente moral. Outra verdade, igualmente verificada pela experiência, e que a lógica comprova, é a completa ineficácia de exorcismos, fórmulas, palavras sacramentais, amuletos, talismãs, práticas exteriores ou quaisquer símbolos materiais.

A obsessão demasiado prolongada pode ocasionar desordens patológicas, exigindo por vezes um tratamento simultâneo ou consecutivo, seja magnético ou médico, para o restabelecimento do organismo. A causa tendo sido afastada, ainda resta combater os efeitos.



Bibliografia: O Evangelho Segundo o Espiritismo. Mensagem sobre preces lidas e divulgadas pelo Médium Getulio Pacheco Quadrado.



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