O LIVRO DOS ESPÍRITOS.
CAPÍTULO VIII.EMANCIPAÇÃO DA ALMA.DUPLA VISTA.
O fenômeno
designado pelo nome de dupla vista(1) tem relação com o sonho e o
sonambulismo?
— Tudo isso não é mais do que uma mesma coisa. Isso a que chamas dupla
vista é ainda o Espírito em maior liberdade, embora o corpo não esteja
adormecido. A dupla vista é a vista da alma.
A dupla vista é
permanente?
— A faculdade, sim; o seu exercício, não. Nos mundos menos materiais que
o vosso, os Espíritos se desprendem mais facilmente e se põem em comunicação
apenas pelo pensamento, sem excluir, entretanto, a linguagem articulada; também
a dupla vista é para a maioria uma faculdade permanente; seu estado normal pode
ser comparado ao dos vossos sonâmbulos lúcidos, e essa é também a razão por que
eles se manifestam a vós mais facilmente do que os encarnados de corpos mais
grosseiros.
A dupla vista se
desenvolve espontaneamente ou pela vontade de quem a possui?
— Na maioria das vezes, ela é espontânea, mas a vontade também, muitas
vezes, desempenha um grande papel. Assim, podes tomar, por exemplo, certas
pessoas chamadas leitoras da sorte, algumas das quais possuem esta faculdade de
dupla vista e nisso a que chamas visão.
A dupla vista é
suscetível de se desenvolver pelo exercício?
— Sim, o trabalho sempre conduz ao progresso, e o véu que encobre as
coisas se torna transparente.
Esta faculdade se
liga à organização física?
— Por certo, a organização
desempenha o seu papel; há organizações que se mostram refratárias. De onde
vem que a dupla vista pareça hereditária em certas famílias?
— Similitude de organizações, que se
transmite, como as outras qualidades físicas; e depois, desenvolvimento da
faculdade por uma espécie de educação, que também se transmite de um para outro.
É verdade que
certas circunstâncias desenvolvem a dupla vista?
— A doença, a proximidade de um perigo, uma grande comoção podem
desenvolvê-la. O corpo se encontra às vezes num estado particular que permite
ao Espírito ver o que não podeis ver com os olhos do corpo.
Comentário de
Kardec: Os tempos de crise e de calamidades, as grandes emoções, todas
as causas enfim, de superexcitação moral provocam às vezes o desenvolvimento da
dupla vista. Parece que a Providência nos dá, em presença do perigo, o meio de
conjugar. Todas as seitas e todos os partidos perseguidos oferecem
numerosos exemplos a respeito.
As pessoas dotadas
de dupla vista sempre têm consciência disso?
— Nem sempre; para elas, é coisa inteiramente natural, e muitas dessas
pessoas acreditam que se todos se observassem nesse sentido, perceberiam ser
como elas.
Poder-se-ia atribuir
a uma espécie de dupla vista a perspicácia de certas pessoas que, sem nada
terem de extraordinário, julgam as coisas com mais precisão do que as outras?
— É sempre a alma que irradia mais livremente e julga melhor do que sob
o véu da matéria.
Esta faculdade
pode, em certos casos, dar a presciência das coisas?
— Sim; ela dá também os pressentimentos, porque há muitos graus desta
faculdade e o mesmo indivíduo pode ter todos os graus ou não ter mais do
que alguns.
(1) Kardec usou as duas
expressões: “Segunda vista” e “dupla vista”, com evidente preferência pelo
primeiro. Em português, sendo mais comum “dupla vista”, demos preferência a
esta. (N. do T.)
BIBLIOGRAFIA. O LIVRO DOS ESPÍRITOS.
MATÉRIA DIVULGADA PELO MÉDIUM GETULIO PACHECO QUADRADO.
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