domingo, 22 de novembro de 2015

A SAUDADES

Vencido pela profunda angústia da minha mágoa, despertei quando o jovem rosto da manhã adornado de luz e o mar de nuvens viajeiras, me convidaram para o banquete do dia.
Levantei e percebi que não fora um pesadelo... A presença da sua ausência era a mais pura e triste realidade...
Não sei dizer ao certo se é a presença da ausência ou a ausência da presença ou, talvez seja, simplesmente, saudade...
Lá fora tudo respirava perfume e os braços do vento, carregando o pólen da vida, cantavam nos ramos do arvoredo delicada canção...
Saí a correr, tentando fugir da furna escura dos meus padecimentos.
A presença invisível do bem-amado fazia-me arder em febre de ansiedade, enquanto os pés ligeiros das horas corriam à frente impondo-me fadiga e desconforto...
Embriagado pela saudade, meu ser ansiava pela paz...
Em vão tentei exaurir as forças para livrar-me da dor, mas não lograva libertar-me do punhal da melancolia cravado no coração, e da lembrança da sua ausência...
Quando, enfim, a tarde se escondeu no longe das montanhas altaneiras, outra vez tombei em mim mesmo, extenuado e só...
Naquele momento desejei que o Todo Poderoso me dominasse com os fortes recursos da Soberana Misericórdia, livrando-me de mim mesmo...
Parecia que não mais suportaria o espinho da saudade cravado em meu peito, já dorido e exausto...
A ausência da sua presença queimava as fibras mais sutis da minha alma.
E a presença da sua ausência feria-me o coração dilacerado e só...
A noite devorou o dia e, ao escancarar a sua boca negra, mostrou a primeira estrela engastada no manto escuro, vencendo as sombras...
Minutos depois, miríades de astros brilhantes compuseram o diadema da vitória total da luz...
Só então, solitário e meditativo, compreendi como a minha canção de dor chegara ao ouvidos do Criador, que me respondeu em vibrações fulgurantes de esperanças à distância...
Só então compreendi que não há escuridão que resista a um simples raio de luz, e decidi acender a chama da esperança em minha alma.
E, só então, pude ouvir o Sublime Cancioneiro do silêncio e Suas melodias repletas de sons e paz, convidando-me a confiar em Seu infinito poder e entregar-me aos braços suaves da esperança...
*   *   *
Se o manto escuro da saudade pesa sobre os seus ombros, ilumine-se com as pérolas da oração sincera em favor do bem-amado que partiu.
Preencha a ausência da presença com a lembrança dos momentos compartilhados nas horas alegres, e confie no reencontro feliz.
Redação do Momento Espírita, com base no cap. LII do livro
Estesia, pelo Espírito Rabindranath Tagore, psicografia de Divaldo Pereira Franco, ed. Leal.
Disponível no livro Momento Espírita, v.1 e no CD Momento Espírita, v.4, ed. Fep.


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