O LIVRO DOS ESPÍRITOS. CAPOÍTULO II.ENCARNAÇÃO DOS ESPÍRITOS. A AMA.
O que é a alma?
— Um Espírito
encarnado.
. O que era a alma,
antes de unir-se ao corpo?
— Espírito.
As almas e os
Espíritos são, portanto, uma e a mesma coisa?
— Sim, as almas não
são mais do que os Espíritos. Antes de ligar-se ao corpo, a alma é um dos seres
inteligentes que povoam o mundo invisível, e depois reveste temporariamente um
invólucro carnal, para se purificar e esclarecer.
Há no homem outra
coisa, além da alma e do corpo?
— Há, o liame que
une a alma e o corpo.
Qual é a natureza
desse liame?
— Semimaterial:
quer dizer, um meio-termo entre a natureza do Espírito e a do corpo. E isso é
necessário para que eles possam comunicar-se. É por meio desse liame que o
Espírito age sobre a matéria, e vice-versa.
Comentário de
Kardec: O homem é assim formado de três partes essenciais:
1°.) O corpo ou ser
material, semelhante ao dos animais e animado pelo mesmo princípio vital;
2°.) A alma,
Espírito encarnado, do qual o corpo é a habitação;
3°.) O períspirito,
princípio intermediário, substância semimaterial, que serve de primeiro
envoltório ao Espírito e une a alma ao corpo. Tais são, num fruto, a semente, a
polpa e a casca.
. A alma é
independente do princípio vital?
— O corpo não é
mais que o envoltório, sempre o repetimos.
O corpo pode
existir sem a alma?
— Sim e não
obstante, desde que o corpo deixa de viver, a alma o abandona. Antes do
nascimento, não há uma união decisiva entre a alma e o corpo, ao passo que,
após o estabelecimento dessa união, a morte do corpo rompe os liames que a unem
a ele, e a alma o deixa. A vida orgânica pode animar um corpo sem alma, mas a
alma não pode habitar um corpo sem vida orgânica.
O que seria o nosso
corpo, se não tivesse alma?
— Uma massa de
carne sem inteligência; tudo o que quiserdes, menos um homem.
. O mesmo Espírito
pode encarnar-se de uma vez em dois corpos diferentes?
— Não. O Espírito é
indivisível e não pode animar simultaneamente duas criaturas diferentes.
(Ver, no “Livro dos Médiuns”, o capítulo “Bicorporeidade e transfiguração”).
Que pensar da
opinião dos que consideram a alma como o princípio da vida material?
— Simples questão
de palavras, com a qual nada temos. Começai por vos entenderdes.
Alguns Espíritos, e
antes deles alguns filósofos, assim definiram a alma: Uma centelha anímica
emanada do Grande Todo. Por que essa contradição?
— Não há
contradição; depende da significação das palavras. Por que não tendes uma
palavra para cada coisa?
Comentário de
Kardec: A palavra alma é empregada para exprimir as coisas mais
diferentes. Uns chamam alma ao princípio da vida, e nessa acepção é exato
dizer, figuradamente, que a alma é uma centelha anímica, emanada do Grande
Todo. Essas últimas palavras se referem à fonte universal do princípio vital,
em que cada ser absorve uma porção, que devolve ao todo após a morte. Esta
ideia não exclui absolutamente a de um ser moral, distinto, independente da
matéria e que conserva a sua individualidade. É a este ser que se chama
igualmente alma e nesta acepção pode-se dizer que a alma é um Espírito
encarnado. Dando a alma diferentes definições, os Espíritos falaram segundo as
aplicações que faziam da palavra e segundo as ideias terrestres de que estavam
ainda mais ou menos imbuídos. Isso decorre da insuficiência da linguagem
humana, que não tem um termo para cada ideia, o que acarreta uma multidão de
mal entendidos e discussões. Eis porque os Espíritos superiores dizem que
devemos, primeiro, nos entendermos quanto as palavras [1].
Que pensar da
teoria da alma subdividida em tantas partes quantos são os músculos, presidindo
cada uma as diferentes funções do corpo?
— Isso também depende
do sentido que se atribuir à palavra alma. Se por ela se entende o fluido
vital, está certo; se o Espírito quando encarnado, está errado. Já dissemos que
o Espírito é indivisível, ele transmite o movimento aos órgãos através do
fluido intermediário, sem por isso se dividir.
Não obstante, há
Espíritos que deram esta definição.
— Os Espíritos
ignorantes podem tomar o efeito pela causa.
Comentário de
Kardec: A alma age por meio dos órgãos, e estes são animados pelo fluido vital
que se reparte entre eles, e com mais abundância nos que são os centros ou
focos de movimento. Mas essa explicação não pode aplicar-se à alma como sendo o
Espírito que habita o corpo durante a vida e o deixa com a morte.
Há qualquer coisa
de certo na opinião dos que pensam que a alma é externa e envolve o corpo?
— A alma não está
encerrada no corpo, como o pássaro numa gaiola. Ela irradia e se manifesta no
exterior, como a luz através de um globo de vidro ou como o som em redor de um
centro sonoro. É por isso que se pode dizer que ela é externa, mas não como um
envoltório do corpo. A alma tem dois envoltórios um, sutil e leve, o primeiro,
que chamas períspirito; o outro, grosseiro, material e pesado, que é o corpo. A
alma é o centro desses envoltório, como a amêndoa na casca, já o dissemos.
Que dizer da teoria
segundo a qual, na criança, a alma vai se completando a cada período da vida?
— O Espírito é
apenas um inteiro na criança, como no adulto; são os órgãos, instrumentos de
manifestação da alma, que se desenvolvem e se completam. Isto é ainda tomar o
efeito pela causa.
Por que todos os
Espíritos não definem a alma da mesma maneira?
— Os Espíritos não
são todos igualmente esclarecidos sobre essas questões. Há Espíritos ainda
limitados, que não compreendem as coisas abstratas, como as crianças entre vós.
Há também Espíritos pseudossábios que, para se imporem, como acontece ainda
entre vós, fazem rodeios de palavras. Além disso, mesmo os Espíritos
esclarecidos podem exprimir-se em termos diferentes, que no fundo têm o mesmo
valor, sobretudo quando se trata de coisas que a vossa linguagem é incapaz de
esclarecer; há então necessidade de figuras, de comparações, que tomais pela
realidade.
Que se deve
entender por alma do mundo?
— O princípio
universal da vida e da inteligência, de que nascem as individualidades. Mas os
que se servem dessa expressão, frequentemente não se entendem. A palavra alma
tem aplicação tão elástica que cada um a interpreta de acordo com as suas
fantasias. Têm-se às vezes atribuído uma alma à Terra, e por ela é necessário
entender o conjunto dos Espíritos abnegados que dirigem as vossas ações no bom
sentido, quando os escutais, e que são de certa maneira os lugares-tenentes de
Deus junto ao vosso globo.
Como é que tantos
filósofos antigos e modernos tem longamente discutidos sobre a Ciência
psicológica, sem chegar à verdade?
— Esses homens eram
os precursores da doutrina espírita eterna, e prepararam o caminho. Eram homens
e puderam enganar-se, porque tomaram pela luz as suas próprias ideias; mas os
seus mesmos erros, através dos prós e contras de suas doutrinas, servem para
evidenciar a verdade. Aliás, entre esses erros se encontram grandes verdades,
que um estudo comparativo vos fará compreender.
A alma tem, no
corpo, uma sede determinada e circunscrita?
— Não. Mas ela se
atua mais particularmente na cabeça, entre os grandes gênios e todos aqueles
que usam bastante o pensamento, e no coração dos que sentem bastante, dedicando
todas as suas ações a humanidade.
Que pensar da opinião
dos que situam a alma num centro vital?
— Que o Espírito se
encontra de preferência nessa parte do vosso organismo, que é o ponto a que se
dirigem todas as sensações. Os que a situam naquilo que consideram como o
centro da vitalidade, a confundem com o fluido ou princípio vital. Não
obstante, pode-se dizer que a sede da alma se encontra mais particularmente nos
órgãos que servem para as manifestações intelectuais e morais.
BIBLIOGRAFIA. O
LIVRO DOS ESPÍRITOS.MATÉRIA DIVULGADA PELO MÉDIUM GETULIO PACHECO QUADRADO.
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