O
LIVRO DOS ESPÍRITOS. CAPÍTULO VI. LEI DE DESTRUIÇÃO. PENA DE MORTE.
A pena de morte desaparecerá um dia
da legislação humana?
— A pena de morte
desaparecerá incontestavelmente e sua supressão assinalará um progresso da
Humanidade. Quando os homens forem mais esclarecidos, a pena de morte será
completamente abolida da Terra. Os homens não terão mais necessidade de ser
julgados pelos homens. Falo de uma época que ainda está muito longe de vós.
Comentário de Kardec: O progresso
social ainda deixa muito a desejar, mas seríamos injustos para com a sociedade
moderna se não víssemos um progresso nas restrições impostas à pena de morte entre
os povos mais adiantados, e à natureza dos crimes aos quais se limita a sua
aplicação. Se compararmos as garantias de que a justiça se esforça para cercar
hoje o acusado, a humanidade com que o trata, mesmo quando reconhecidamente
culpado, com o que se praticava em tempos que não vão muito longe, não
poderemos deixar de reconhecer a via progressiva pela qual a Humanidade avança.
A lei de conservação dá ao homem o
direito de preservar a sua própria vida; não aplica ele esse direito quando
elimina da sociedade um membro perigoso?
— Há outros meios
de se preservar do perigo, sem matar. É necessário, aliás, abrir e não fechar
ao criminoso a porta do arrependimento.
Se a pena de morte pode ser banida
das sociedades civilizadas, não foi uma necessidade em tempos menos adiantados?
— Necessidade não é
o termo. O homem sempre julga uma coisa necessária quando não encontra nada
melhor. Mas, à medida que se esclarece, vai compreendendo melhor o que é justo
ou injusto e repudia os excessos cometidos nos tempos de ignorância, em nome da
justiça.
A restrição dos casos em que se
aplica a pena de morte é um índice do progresso da civilização?
— Podes duvidar disso? Não se revolta o teu
Espírito lendo os relatos dos morticínios humanos que antigamente se faziam em
nome da justiça e frequentemente em honra à Divindade; das torturas a que se
submetia o condenado e mesmo o acusado, para lhe arrancar, a peso do
sofrimento, a confissão de um crime que ele muitas vezes não havia cometido?
Pois bem, se tivesses vivido naqueles tempos, acharias tudo natural, e talvez,
como juiz, tivesses feito outro tanto. É assim que o que parece justo numa
época parece bárbaro em outra. Somente as leis divinas são eternas. As leis
humanas modificam-se com o progresso. E se modificarão ainda, até que sejam
colocadas em harmonia com as leis divinas(1).
Jesus disse: “Quem matar pela espada
perecerá pela espada”. Essas palavras não representam a consagração da pena de
talião? E a morte imposta ao assassino não é a aplicação dessa pena?
— Tomai tento!
Estais equivocados quanto a estas palavras, como sobre muitas outras. A pena de
talião é a justiça de Deus; é Ele quem a aplica. Todos vós sofreis a cada
instante essa pena, porque sois punidos naquilo em que pecais, nesta vida ou
numa outra. Aquele que fez sofrer o seu semelhante estará numa situação em que
sofrerá o mesmo. É este o sentido das palavras de Jesus. Pois não vos disse
também: “Perdoai aos vossos inimigos”? E não vos ensinou a pedir a Deus que
perdoe as vossas ofensas da maneira que perdoastes, ou seja, na mesma proporção
em que houverdes perdoado?
Compreendei bem
isso.
Que pensar da pena de morte imposta
em nome de Deus?
— Isso equivale a
tomar o lugar de Deus na prática da justiça. Os que agem assim revelam quanto
estão longe de compreender a Deus e quanto têm ainda a expiar. É um crime
aplicar a pena de morte em nome de Deus, e os que o fazem são responsáveis por
esses assassinatos.
(1) Definição perfeita
da concepção espírita da moral. Os princípios verdadeiros de moral são de
natureza eterna e os costumes dos povos se modificam através da evolução, em
direção daqueles princípios. A Sociologia materialista, tratando apenas dos
costumes, criou o falso conceito da relatividade da moral, já em declínio,
entrando no pensamento moderno. O homem intui cada vez de maneira mais clara as
leis divinas da moral, na proporção em que progride. Os seus costumes se
depuram e a sua moral se harmoniza com essas leis superiores. (N. do T.)
BIBLIOGRAFIA. O
LIVRO DOS ESPÍRITOS. MATÉRIA DIVULGADA PELO MÉDIUM GETULIO PACHECO QUADRADO.
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