VIDA A DOIS.
Um casal ao longo da convivência vai
experimentando a amarga desilusão de que o outro real é bem diferente daquele
idealizado. Ambos os cônjuges descobrem que o outro nem sempre concorda, nem
sempre entende a sua perspectiva e nem mesmo os anseios profundos que cada um
carrega dentro de si. Percebem que, por mais que tenham afinidades e sintonia
em muitos aspectos, cada um tem gostos pessoais distintos que se evidenciam no
modo de funcionar em ritmos diferentes nas mais variadas formas, incluindo a
forma de comer, dormir, descansar, trabalhar, bem como de desejar o sexo. As
ilusões e desconfortos com o outro real podem levar um casal a muitos
desentendimentos. Boa parte das brigas acontecem porque se ocupam tentando de
todas as formas fazer com que o outro se encaixe naquilo que foi imaginado
anteriormente pelas expectativas idealizadas da arrebatadora fase da paixão. O
professor Dr. Carlos "Catito" Grzybowski refere que os cônjuges nessa
saga, inconscientemente, se empreendem na brincadeira de serem “deus” um na
vida do outro, pois parecem tentar "criar o outro a sua imagem e
semelhança”. Seguindo nessas tentativas percebem-se cansados e vão se dando
conta de que se continuarem se relacionando por esse viés correm o risco de se
separar. Muitos seguem se separando de fato, ou pelo divórcio ou
relacionalmente.
No entanto, o casal que decidir permanecer junto e crescer terá a oportunidade
de experimentar uma linda história de amor.
Crescer como casal requer o envolvimento de ambos de forma comprometida e
proativa no sistema do casamento, incluindo as seguintes posturas:
·
Disposição
para o amor, respeito e serviço mutuo.
·
Disposição
para o diálogo, numa fala assertiva (habilidade de expressar opiniões e
sentimentos sem atropelar o outro) e numa escuta empática (habilidade de ouvir
levando em consideração a perspectiva e o sentimento do outro).
·
Renunciar
a expectativa do outro ser "deus", achando que tem a capacidade de
satisfazer todas as expectativas de felicidade e de preenchimento das penúrias
internas. Da mesma forma abdicar da tarefa de ser "deus", achando que
tem a responsabilidade de preencher os vazios e anseios por felicidade do
outro.
·
Coragem
para trabalhar as próprias imperfeições e mudanças necessárias.
·
Abertura
para o entendimento de que o amor ação vem antes do amor sentimento.
·
Aceitação
do outro em suas diferenças (personalidade, gostos, ritmos etc.).
·
Envolvimento
na construção da intimidade.
Os cônjuges vão experimentando o sentido da vida a dois na medida em que se
movem um em direção ao outro construindo o seu relacionamento como o vínculo
mais significativo. Na revelação mutua e continua amadurecem na aceitação um do
outro, o que aprofunda gradativamente a sua intimidade. Nessa dinâmica, ambos
experimentam a leveza que é conviver com alguém com quem se pode ser quem se é,
sem reservas, sem segredos, nem maquiagens ou coreografias. E certamente esse é
o melhor lugar para se estar, ao lado de alguém com quem livremente se pode ser
quem se é.
A aceitação facilita a intimidade e a liberdade de se expor vai libertando da
solidão e dos medos de se expor. refere Matew Kelly “nada liberta mais do
que não ter nada pra esconder”. Revelar opiniões, gostos, sentimentos,
sucessos, fracassos, sonhos, crenças, medos e necessidades é libertador quando
se é aceito pelo outro. As diferenças, ao invés de serem um incômodo, acabam
sendo acolhidas como um potencial de enriquecimento da vida a dois. O autor
enfatiza que a construção da intimidade é um processo de revelação mutua e
contínua. É preciso contar ao outro quem se é. O outro não tem a capacidade
mítica de ler pensamentos, nem mesmo o que se passa no coração. Simplesmente
porque não se é Deus e por não se ter bola de cristal.
A intimidade do casal se intensifica em níveis cada vez mais profundos na
medida em que ambos se encontram como pessoa. Compartilham a vida sem impor
vontades e mandos um ao outro. A solidão vai sendo substituída por um sentimento
de partilhar a existência em comunhão. Os cônjuges experimentam cada vez mais
estabilidade, segurança, validação e maturidade. O sentido de estar casado com
essa pessoa se afirma positivamente. Numa relação assim seguem maduros e livres
para se doar também aos demais, sem desvalorizar sua própria relação.
REFERÊNCIA
KELLY, Matthew. Os Sete Níveis da
Intimidade: a arte de amar e a alegria de ser amado. Rio de Janeiro:
Sextante, 2007.
MATÉRIA DIVULGADA PELO MÉDIUM GETULIO
PACHECO QUADRADO.
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