Para afastar os maus Espíritos
Ai de vós, escribas e fariseus hipócritas, que limpais por fora o copo e o
prato e estais, por dentro, cheios de rapinas e impurezas. – Fariseus cegos,
limpai primeiramente o interior do copo e do prato, a fim de que também o
exterior fique limpo. – Ai de vós, escribas e fariseus hipócritas, que vós
assemelhais a sepulcros branqueados, que por fora parecem belos aos olhos dos
homens, mas que, por dentro, estão cheios de toda espécie de podridões. –
Assim, pelo exterior, pareceis justos aos olhos dos homens, mas, por dentro,
estais cheios de hipocrisia e de iniquidades. (S. MATEUS, 23:25 a 28.)
PREFÁCIO. Os maus Espíritos somente procuram os lugares onde encontrem
possibilidades de dar expansão à sua perversidade. Para os afastar, não basta
pedir-lhes, nem mesmo ordenar lhes que se vão; é preciso que o homem elimine de
si o que os atrai. Os Espíritos maus farejam as chagas da alma, como as moscas
farejam as chagas do corpo. Assim como se limpa o corpo, para evitar a
bicheira, também se deve limpar de suas impurezas a alma, para evitar os maus
Espíritos. Vivendo num mundo onde estes pululam, nem sempre as boas qualidades
do coração nos põem a salvo de suas tentativas; dão, entretanto, forças para
que lhes resistamos.
Prece. – Em nome de Deus Todo-Poderoso, afastem-se de mim os maus
Espíritos, servindo-me os bons de antemural contra eles. Espíritos malfazejos,
que inspirais maus pensamentos aos homens; Espíritos velhacos e mentirosos, que
os enganais; Espíritos zombeteiros, que vos divertis com a credulidade deles,
eu vos repilo com todas as forças de minha alma e fecho os ouvidos às vossas
sugestões; mas, imploro para vós a misericórdia de Deus. Bons Espíritos que vos
dignais de assistir-me, dai-me a força de resistir à influência dos Espíritos
maus e as luzes de que necessito para não ser vítima de suas tramas.
Preservai-me do orgulho e da presunção; isentai o meu coração do ciúme, do
ódio, da malevolência, de todo sentimento contrário à caridade, que são outras
tantas portas
abertas ao Espírito do mal.
Para pedir a corrigenda de um defeito
PREFÁCIO. Os nossos maus instintos resultam da imperfeição do nosso
próprio Espírito e não da nossa organização física; a não ser assim, o homem se
acharia isento de toda espécie de responsabilidade. De nós depende a nossa
melhoria, pois todo aquele que se acha no gozo de suas faculdades tem, com
relação a todas as coisas, a liberdade de fazer ou de não fazer. Para praticar
o bem, de nada mais precisa senão do querer. (Cap. XV, nº
10; cap. XIX, nº 12.)
Prece. – Deste-me, ó meu Deus, a inteligência necessária a
distinguir o que é bem do que é mal. Ora, do momento em que reconheço que uma
coisa é do mal, torno-me culpado, se não me esforçar por lhe resistir. Preserva-me
do orgulho que me poderia impedir de perceber os meus defeitos e dos maus
Espíritos que me possam incitar a perseverar neles. Entre as minhas
imperfeições, reconheço que sou particularmente propenso a...; e, se não
resisto a esse pendor, é porque contraí o hábito de a ele ceder.
Não me
criaste culpado, pois que és justo, mas com igual aptidão para o bem e para o
mal; se tomei o mau caminho, foi por efeito do meu livre-arbítrio. Todavia,
pela mesma razão que tive a liberdade de fazer o mal, tenho a de fazer o bem e,
conseguintemente, a de mudar de caminho. Meus atuais defeitos são restos das
imperfeições que conservei das minhas precedentes existências; são o meu pecado
original, de que me posso libertar pela ação da minha vontade e com a ajuda dos
Espíritos bons. Bons Espíritos que me protegeis, e, sobretudo tu, meu
anjo-da-guarda, dai-me forças para resistir às más sugestões e para sair
vitorioso da luta. Os defeitos são barreiras que nos separam de Deus e cada um
que eu suprima será um passo dado na senda do progresso que dele me há de
aproximar. O Senhor, em sua infinita misericórdia, houve por bem conceder-me a
existência atual, para que servisse ao meu adiantamento. Bons Espíritos
ajudai-me a aproveitá-la, para que me não fique perdida e para que, quando ao
Senhor aprouver ma retirar, eu dela saia melhor do que entrei. (Cap. V, nº 5;
cap. XVII, nº 3.)
Para pedir a força de resistir a uma tentação
PREFÁCIO. Duas origens pode ter qualquer pensamento mau: a própria
imperfeição de nossa alma, ou uma funesta influência que sobre ela se exerça.
Neste último caso, há sempre indício de uma fraqueza que nos sujeita a receber
essa influência; há, por conseguinte, indício de uma alma imperfeita. De sorte
que aquele que venha a falir não poderá invocar por escusa a influência de um
Espírito estranho, visto que esse Espírito não o teria arrastado ao mal, se o
considerasse inacessível à sedução. Quando surge em nós um mau pensamento,
podemos, pois, imaginar um Espírito maléfico a nos atrair para o mal, mas a cuja
atração podemos ceder ou resistir, como se se tratara das solicitações de uma
pessoa viva. Devemos, ao mesmo tempo, imaginar que, por seu lado, o nosso anjo
guardião, ou Espírito protetor, combate em nós a má influência e espera com
ansiedade a decisão que tomemos. A nossa hesitação em praticar o mal é a voz do
Espírito bom, a se fazer ouvir pela nossa consciência. Reconhece-se que um
pensamento é mau, quando se afasta da caridade, que constitui a base da
verdadeira moral, quando tem por princípio o orgulho, a vaidade, ou o egoísmo;
quando a sua realização pode causar qualquer prejuízo a outrem; quando, enfim,
nos induz a fazer aos outros o que não quereríamos que nos fizessem. (Cap.
XXVIII, nº 15; cap. XV, nº10.)
Prece. – Deus Todo-Poderoso, não me deixes sucumbir à tentação que me
impele a falir. Espíritos benfazejos, que me protegeis, afastai de mim este mal
pensamento e dai-me a força de resistir à sugestão do mal. Se eu sucumbir,
merecerei expiar a minha falta nesta vida e na outra, porque tenho a liberdade
de escolher.
Ação de graças pela vitória alcançada sobre uma tentação
PREFÁCIO. Aquele que resistiu a uma tentação deve-o à assistência dos
bons Espíritos, a cuja voz atendeu. Cumpre-lhe agradecê-lo a Deus e ao seu
anjo-de-guarda.
Prece. – Meu Deus, agradeço-te o haveres permitido eu saísse vitorioso da
luta que acabo de sustentar contra o mal. Faze que essa vitória me dê a força
de resistir a novas tentações. E a ti, meu anjo guardião, agradeço a
assistência com que me valeste. Possa a minha submissão aos teus conselhos
granjear-me de novo a tua proteção!
Para pedir um conselho
PREFÁCIO. Quando estamos indecisos sobre o fazer ou não fazer uma coisa,
devemos antes de tudo propor-nos a nós mesmos as questões seguintes:
1ª – Aquilo que eu hesito em fazer pode acarretar qualquer prejuízo a outrem?
2ª – Pode ser proveitoso a alguém?
3ª – Se agissem assim comigo, ficaria eu satisfeito?
Se o que pensamos fazer, somente a nós nos interessa, lícito nos é pesar as
vantagens e os inconvenientes pessoais que nos possam advir. Se interessa a
outrem e se, resultando em bem para um, redundará em mal para outro, cumpre,
igualmente, pesemos a soma de bem ou de mal que se produzirá, para nos
decidirmos a agir, ou a abster-nos. Enfim, mesmo em se tratando das melhores
coisas, importa ainda consideremos a oportunidade e as circunstâncias
concomitantes, porquanto uma coisa boa, em si mesma, pode dar maus resultados
em mãos inábeis, se não for conduzida com prudência e circunspecção. Antes de
empreendê-la, convém consultemos as nossas forças e meios de execução. Em todos
os casos, sempre podemos solicitar a assistência dos nossos Espíritos
protetores, lembrados desta sábia advertência: Na dúvida, abstém-te. (Cap.
XXVIII, nº 38.)
Prece. – Em nome de Deus Todo-Poderoso, inspirai-me, bons Espíritos que
me protegeis, a melhor resolução a ser tomada na incerteza em que me encontro.
Encaminhai meu pensamento para o bem e livrai-me da influência dos que tentarem
transviar-me.
Nas aflições da vida
PREFÁCIO. Podemos pedir a Deus
favores terrenos e Ele no-los pode conceder, quando tenham um fim útil e sério.
Mas, como a utilidade das coisas sempre a julgamos do nosso ponto de vista e
como as nossas vistas se circunscrevem ao presente, nem sempre vemos o lado mal
do que desejamos. Deus, que vê muito melhor do que nós e que só o nosso bem
quer, pode recusar o que peçamos como um pai nega ao filho o que lhe seja
prejudicial. Se não nos é concedido o que pedimos, não devemos por isso
entregar-nos ao desânimo; devemos pensar, ao contrário, que a privação do que
desejamos nos é imposta como prova, ou como expiação, e que a nossa recompensa
será proporcionada à resignação com que a houvermos suportado. (Cap. XXVII, nº
6; cap. II, nos 5 a 7.)
Prece. – Deus Onipotente, que vês as nossas misérias, digna-te de
escutar, benevolente, a súplica que neste momento te dirijo. Se é desarrazoado
o meu pedido, perdoa-me; se é justo e conveniente segundo as tuas vistas, que
os bons Espíritos, executores das tuas vontades, venham em meu auxílio para que
ele seja satisfeito.
Como quer que seja, meu Deus, faça-se a tua vontade. Se os meus desejos não
forem atendidos, é que está nos teus desígnios experimentar-me e eu me submeto
sem me
queixar. Faze que por isso nenhum desânimo me assalte e que nem a minha fé nem
a minha resignação sofram qualquer abalo.
Ação de graças por um favor obtido
PREFÁCIO. Não se devem considerar como sucessos ditosos apenas o que seja
de grande importância. Muitas vezes, coisas aparentemente insignificantes são
as que mais influem em nosso destino. O homem facilmente esquece o bem, para,
de preferência, lembrar-se do que o aflige. Se registrássemos, dia a dia, os
benefícios de que somos objeto, sem os havermos pedido, ficaríamos, com frequência,
espantados de termos recebido tantos e tantos que se nos varreram da memória, e
nos sentiríamos humilhados com a nossa ingratidão. Todas as noites, ao
elevarmos a Deus a nossa alma, devemos recordar em nosso íntimo os favores que
Ele nos fez durante o dia e agradecer-lhos. Sobretudo no momento mesmo em que
experimentamos o efeito da sua bondade e da sua proteção, é que nos cumpre, por
um movimento espontâneo, testemunhar-lhe a nossa gratidão. Basta, para isso,
que lhe dirijamos um pensamento, atribuindo-lhe o benefício, sem que se faça
mister interrompamos o nosso trabalho. Não consistem os benefícios de Deus
unicamente em coisas materiais. Devemos também agradecer-lhe as boas ideias, as
felizes inspirações que recebemos. Ao passo que o egoísta atribui tudo isso aos
seus méritos pessoais e o incrédulo ao acaso, aquele que tem fé rende graças a
Deus e aos bons Espíritos. São desnecessárias, para esse efeito, longas frases.
“Obrigado, meu Deus, pelo bom pensamento que me foi inspirado”, diz mais do que
muitas palavras. O impulso espontâneo, que nos faz atribuir a Deus o que de bom
nos sucede, dá testemunho de um ato de reconhecimento e de humildade, que nos
granjeia a simpatia dos bons Espíritos.
(Cap. XXVII, nos 7 e 8.)
Prece. – Deus infinitamente bom, que o teu nome seja bendito pelos
benefícios que me hás concedido. Indigno eu seria, se os atribuísse ao acaso
dos acontecimentos, ou ao meu próprio mérito. Bons Espíritos, que fostes os
executores das vontades de Deus, agradeço-vos e especialmente a ti, meu anjo
guardião. Afastai de mim a ideia de orgulhar-me do que recebi e de não o
aproveitar somente para o bem. Agradeço-vos, em particular,...
Ato de submissão e de resignação
PREFÁCIO. Quando um motivo de aflição nos advém, se lhe procurarmos a
causa, amiúde reconheceremos estar numa imprudência ou imprevidência nossa, ou,
quando não, em um ato anterior. Em qualquer desses casos, só de nós mesmos nos
devemos queixar. Se a causa de um infortúnio independe completamente de
qualquer ação nossa, é ou uma prova para a existência atual, ou expiação de
falta de uma existência anterior, caso, este último, em que, pela natureza da
expiação, poderemos conhecer a natureza da falta, visto que somos sempre
punidos por aquilo em que pecamos. (Cap. V, nos 4, 6 e seguintes.)
No que nos aflige, só vemos, em geral, o presente e não as ulteriores consequências
favoráveis que possa ter a nossa aflição. Muitas vezes, o bem é a consequência
de um mal passageiro, como a cura de uma enfermidade é o resultado dos meios
dolorosos que se empregaram para combatê-la. Em todos os casos devemos
submeter-nos à vontade de Deus, suportar com coragem as tribulações da vida, se
queremos que elas nos sejam levadas em conta e que se nos possam aplicar estas
palavras do Cristo: “Bem-aventurados os que sofrem.” (Cap. V, nº 18.)
Prece. – Meu Deus, és soberanamente justo; todo sofrimento, neste mundo,
há, pois, de ter a sua causa e a sua utilidade. Aceito a aflição que acabo de
experimentar, como expiação de minhas faltas passadas e como prova para o
futuro.
Bons
Espíritos que me protegeis, dai-me forças para suportá-la sem lamentos. Fazei
que ela me seja um aviso salutar; que me acresça a experiência; que abata em
mim o orgulho, a ambição, a tola vaidade e o egoísmo, e que contribua assim
para o meu adiantamento.
(Outra) – Sinto, ó meu Deus, necessidade de te pedir me dês forças para
suportar as provações que te aprouve destinar-me. Permite que a luz se faça
bastante viva em meu espírito, para que eu aprecie toda a extensão de um amor
que me aflige porque me quer salvar. Submeto-me resignado, ó meu Deus; mas, a
criatura é tão fraca, que temo sucumbir, se me não amparares. Não me abandones
Senhor, que sem ti nada posso.
(Outra) – A ti dirigi o meu olhar, ó Eterno, e me senti fortalecido. És a
minha força, não me abandones. Ó meu Deus, sinto-me esmagado sob o peso das
minhas iniquidades.
Ajuda-me.
Conheces a fraqueza da minha carne, não desvies de mim o teu olhar! Ardente
sede me devora; faze brotar a fonte da água viva onde eu me dessedente. Que a
minha boca só se abra para te entoar louvores e não para soltar queixas nas
aflições da minha vida. Sou fraco, Senhor, mas o teu amor me sustentará. Ó
Eterno, só tu és grande, só tu és o fim e o objetivo da minha vida! Bendito
seja o teu nome, se me fazes sofrer, porquanto és o Senhor e eu o servo infiel.
Curvarei a fronte sem me queixar, porquanto só tu és grande, só tu és a meta.
Num perigo iminente
PREFÁCIO. Pelos perigos que corremos, Deus nos adverte da nossa
fraqueza e da fragilidade da nossa existência. Mostra-nos que entre suas mãos
está a nossa vida e que ela se acha presa por um fio que se pode romper no
momento em que menos o esperamos.
Sob
esse aspecto, não há privilégio para ninguém, pois que às mesmas alternativas
se encontram sujeitos assim o grande, como o pequeno. Se examinarmos a natureza
e as consequências do perigo, veremos que estas, as mais das vezes, se
verificassem, teriam sido a punição de uma falta cometida, ou da falta do
cumprimento de um dever.
Prece. – Deus Todo-Poderoso, e tu, meu anjo guardião, socorrei-me!
Se tenho de sucumbir, que a vontade de Deus se cumpra. Se devo ser salvo, que o
restante da minha vida repare o mal que eu haja feito e do qual me arrependo.
Ação de graças por haver escapado a um perigo
PREFÁCIO. Pelo perigo que tenhamos corrido, mostra-nos Deus que, de um
momento para outro, podemos ser chamados a prestar contas do modo por que
utilizamos a vida. Avisa-nos, assim, que devemos tomar tento e emendar-nos.
Prece. – Meu Deus, meu anjo-de-guarda, agradeço-vos o socorro que me
proporcionastes no perigo de que estive ameaçado. Seja para mim um aviso esse
perigo e me esclareça sobre as faltas que me hajam colocado sob a sua ameaça.
Compreendo, Senhor, que nas tuas mãos está a minha vida e que ma podes tirar,
quando te apraza. Inspira-me, por intermédio dos bons Espíritos que me
assistem, o propósito de empregar utilmente o tempo que ainda me concederes de
vida neste mundo.
Meu anjo guardião, firma-me na resolução que tomo de reparar os meus erros e de
fazer todo o bem que esteja ao meu alcance, a fim de chegar menos onerado de
imperfeições ao mundo dos Espíritos, quando Deus determine o meu regresso para
lá.
À hora de dormir
PREFÁCIO. O sono tem por fim dar repouso ao corpo; o Espírito, porém, não
precisa de repousar. Enquanto os sentidos físicos se acham entorpecidos, a alma
se desprende, em parte, da matéria e entra no gozo das faculdades do Espírito.
O sono foi dado ao homem para reparação das forças orgânicas e também para a
das forças morais. Enquanto o corpo recupera os elementos que perdeu por efeito
da atividade da vigília, o Espírito vai retemperar-se entre os outros
Espíritos. Haure, no que vê, no que ouve e nos conselhos que lhe dão, ideias
que, ao despertar, lhe surgem em estado de intuição. É a volta temporária do
exilado à sua verdadeira pátria. É o prisioneiro restituído por momentos à
liberdade. Mas, como se dá com o presidiário perverso, acontece que nem sempre
o Espírito aproveita dessa hora de liberdade para seu adiantamento. Se conserva
instintos maus, em vez de procurar a companhia de Espíritos bons, busca a de
seus iguais e vai visitar os lugares onde possa dar livre curso aos seus
pendores. Eleve, pois, aquele que se ache compenetrado desta verdade, o seu
pensamento a Deus, quando sinta aproximar-se o sono, e peça o conselho dos bons
Espíritos e de todos cuja memória lhe seja cara, a fim de que venham
juntar-se-lhe, nos curtos instantes de liberdade que lhe são concedidos, e, ao
despertar, sentir-se-á mais forte contra o mal, mais corajoso diante da adversidade.
Prece. – Minha alma vai estar por alguns instantes com os outros
Espíritos. Venham os bons ajudar-me com seus conselhos. Faze, meu anjo
guardião, que, ao despertar, eu conserve durável e salutar impressão desse
convívio.
Prevendo próxima a morte
PREFÁCIO. A fé no futuro, a orientação do pensamento, durante a
vida, para os destinos vindouros, favorecem e aceleram o desligamento do
Espírito, por enfraquecerem os laços que o prendem ao corpo, tanto que, frequentemente,
a vida corpórea ainda se não extinguiu de todo, e a alma, impaciente, já alçou
o vôo para a imensidade. Ao contrário, no homem que concentra nas coisas
materiais todos os seus cuidados, aqueles laços são mais tenazes, penosa e
dolorosa é a separação e cheio de perturbação e ansiedade o despertar no
além-túmulo.
Prece. – Meu Deus, creio em ti e na tua bondade infinita e, por isso
mesmo, não posso crer hajas dado ao homem a inteligência, que lhe faculta
conhecer-te, e a aspiração pelo futuro, para o mergulhares no nada. Creio que o
meu corpo é apenas o envoltório perecível de minha alma e que, quando eu tenha
deixado de viver, acordarei no mundo dos Espíritos.
Deus
Todo-Poderoso sinto se rompem os laços que me prendem a alma ao corpo e que
dentro em pouco irei prestar contas do uso que fiz da vida que me foge. Vou
experimentar as consequências do bem e do mal que pratiquei. Lá não haverá
ilusões, nem subterfúgios possíveis. Diante de mim vai desenrolar-se todo o meu
passado e serei julgado segundo as minhas obras. Nada levarei dos bens da
Terra. Honras, riquezas, satisfações da vaidade e do orgulho, tudo, enfim, que
é peculiar ao corpo permanecerá neste mundo. Nem a mais mínima parcela de todas
essas coisas me acompanhará, nem me será de utilidade alguma no mundo dos
Espíritos. Apenas levarei comigo o que pertence à alma, isto é, as boas e as
más qualidades, para serem pesadas na balança da mais rigorosa justiça. E tanto
maior severidade haverá no meu julgamento, quanto maior número de ocasiões para
fazer o bem, que não fiz, me tenha proporcionado a posição que ocupei na Terra.
(Cap. XVI, nº 9.) Deus de misericórdia, que o meu arrependimento te chegue aos
pés! Digna-te de lançar sobre mim o manto da tua indulgência. Se te aprouver
prolongar a minha existência, seja esse prolongamento empregado em reparar,
tanto quanto em mim esteja, o mal que eu tenha praticado. Se soou, sem dilação
possível, a minha hora, levo comigo o consolador pensamento de que me será
permitido redimir-me, por meio de novas provas, a fim de merecer um dia a
felicidade dos eleitos.
Se não
me for dado gozar imediatamente dessa felicidade sem mescla, partilha tão só do
justo por excelência, sei que me não é defesa para sempre a esperança e que,
pelo trabalho, alcançarei o fim, mais tarde ou mais cedo, conforme os meus esforços.
Sei
que próximos de mim, para me receberem, estão Espíritos bons e o meu anjo de
guarda, aos quais dentro em pouco verei, como eles me vêem. Sei que, se o tiver
merecido, encontrarei de novo aqueles a quem amei na Terra e que aqueles que
aqui deixo irão juntar-se a mim, que um dia estaremos todos reunidos para
sempre e que, enquanto esse dia não chegar, poderei vir visitá-los. Sei também
que vou encontrar aqueles a quem ofendi. Possam eles perdoar-me o que tenham a
reprochar-me: o meu orgulho, a minha dureza, minhas injustiças, a fim de que a
presença deles não me acabrunhe de vergonha!
Perdoo
aos que me tenham feito ou querido fazer mal; nenhum rancor contra eles
alimento e peço-te, meu Deus, que lhes perdoes. Senhor dá-me forças para deixar
sem pena os prazeres grosseiros deste mundo, que nada são em confronto com as
alegrias sãs e puras do mundo em que vou penetrar e onde, para o justo, não há
mais tormentos, nem sofrimentos, nem misérias, onde somente o culpado sofre,
mas tendo a confortá-lo a esperança. A vós, bons Espíritos, e a ti, meu anjo
guardião, suplico que me não deixeis falir neste momento supremo. Fazei que a
luz divina brilhe aos meus olhos, a fim de que a minha fé se reanime, se vier a
abalar-se.·.
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