O LIVRO DOS ESPÍRITOS. PARTE SEGUNDA. MUNDO
ESPÍRITA OU DOS ESPÍRITOS. CAPÍTULO VII. RETORNO A VIDA CORPORAL. OS
DIFICIENTES MENTAIS E A LOUCURA.
A opinião de que os
cretinos e os idiotas teriam uma alma de natureza inferior não tem fundamento.
Eles têm uma alma humana frequentemente mais
inteligente do que pensamos, e que sofre com a insuficiência dos meios de
que dispõe para se comunicar, como o mudo sofre por não poder falar.
O objetivo da Providência
ao criar seres desgraçados como os cretinos e os idiotas, é que são os Espíritos em punição que vivem em
corpos de idiotas. Esses Espíritos sofrem com o constrangimento a que estão
sujeitos e pela impossibilidade de manifestar-se através de órgãos
não desenvolvidos ou defeituosos.
Não é exato dizer que os
órgãos não exercem influência sobre as faculdades.
— Jamais foi dito que os órgãos não exercem
influência. Eles a exercem e muito grande sobre a manifestação das
faculdades, mas não produzem as faculdades. Esta a diferença. Um bom
músico, com um mau instrumento, não fará boa música, o que não o impede de
ser um bom músico.
Comentário
de Kardec: É necessário distinguir o estado normal do estado
patológico. No estado normal, o moral supera o obstáculo material. Mas há casos
em que a matéria oferece tal resistência que as manifestações são entravadas ou
desnaturadas, como na idiotia e na loucura. Esses são casos patológicos, e em
tal estado à alma não goza de toda a sua liberdade. A própria lei humana a
isenta da responsabilidade dos seus atos.
O mérito da existência
para seres que, como os idiotas e os cretinos não podendo fazer o bem nem o
mal, não podem progredir, trata-se de uma expiação imposta ao abuso que tenham feito de certas faculdades; é
um tempo de suspensão.
Um corpo de idiota pode
então encerrar um Espírito que tivesse um ser humano de gênio, numa existência
precedente.
O gênio torna-se às vezes uma desgraça, quando dele
se abusa.
Comentário
de Kardec: A superioridade moral não está sempre na razão da
superioridade intelectual, e os maiores gênios podem ter muito a expiar; daí
resulta frequentemente para eles uma existência inferior às que já tenham
vivido, e uma causa de sofrimentos. Os entraves que o Espírito prova em suas
manifestações são para ele como as cadeias que constrangem os movimentos de um ser
vigoroso. Pode-se dizer que os cretinos e os idiotas são estropiados do
cérebro, como o coxo o é das pernas e o cego dos olhos.
O idiota, no estado de
Espírito, tem consciência de seu estado mental, muito frequentemente. Compreende que as cadeias
que entravam seu desenvolvimento são uma prova e uma expiação.
A situação do Espírito na
loucura é quando o Espírito, quando em liberdade, recebe diretamente suas
impressões e exerce diretamente a sua ação sobre a matéria; mas,
encarnado, encontra-se em condições totalmente diferentes e na contingência de
não a fazer senão com a ajuda de órgãos especiais. Que uma parte ou
conjunto desses órgãos sejam alterados, e a sua ação ou suas impressões,
no que respeita a esses órgãos, ficam interrompidos. Se ele perde os
olhos, fica cego; sem os ouvidos, fica surdo etc. Imagina agora se o órgão que
preside aos efeitos da inteligência e da vontade for parcial ou
inteiramente atacado ou modificado, e fácil te será compreender que o
Espírito, só tendo então a seu serviço órgãos incompletos ou alterados,
deve entrar numa perturbação de que, por si mesmo e no seu foro íntimo,
tem perfeita consciência, mas cujo curso já não pode deter.
É então sempre o corpo e
não o Espírito o desorganizado; mas é necessário não perder de vista que, da mesma maneira que o
Espírito age sobre a matéria, esta reage sobre ele numa certa medida, e
que o Espírito pode encontrar-se momentaneamente impressionado
pela alteração dos órgãos através dos quais se manifesta e recebe as
suas impressões. Pode acontecer que, com o tempo, quando a loucura
durou bastante, a repetição dos mesmos atos acabe por exercer sobre o
Espírito uma influencia da qual ele não se livrará senão depois da sua
completa separação de toda impressão material.
A razão por que a loucura
leva algumas vezes ao suicídio, é que o Espírito sofre pelo constrangimento a que está submetido e pela
impotência para manifestar-se livremente. Por isso busca libertar-se
por intermédio da morte.
Após a morte, o Espírito
se ressente da perturbação de suas Faculdades durante algum tempo, até que
esteja completamente desligado da matéria, como o ser humano que, ao
acordar, sente por algum tempo da perturbação em que o sono o mergulhara.
A alteração do cérebro
pode reagir sobre o Espírito após a morte pela lembrança. Um peso oprime o Espírito, e como ele
não teve consciência de tudo o que se passou durante a sua loucura, é
necessário um certo tempo para que se ponha ao corrente. É por isso
que quanto mais tenha durado a loucura durante a vida, mais longamente
durará a tortura, o constrangimento após a morte. O Espírito desligado do corpo
se ressente por algum tempo da impressão dos seus ligamentos.
BIBLIOGRAFIA: O LIVRO
DOS ESPÍRITOS.
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