O LIVRO DOS
ESPÍRITOS. PARTE SEGUNDA. MUNDO ESPÍRITA
OU DOS ESPÍRITOS. CAPÍTULO X.
OCUPAÇÕES E
MISSÕES DOS ESPÍRITOS.
Os
Espíritos cuidam de outra coisa, além do seu melhoramento pessoal, pois concorrem
para a harmonia do Universo, executando a vontade de Deus, do qual são os
ministros. A vida espírita é uma ocupação contínua, mas nada tem de penosa
como a da Terra, pois não está sujeita à fadiga corpórea nem às angústias
da necessidade.
Os
Espíritos inferiores e imperfeitos desempenham também um papel útil no
Universo, onde todos
têm deveres a cumprir. O último dos pedreiros não concorre também para a
construção do edifício como o arquiteto?
Os
Espíritos todos
têm de habitar em toda parte e adquirir o conhecimento de todas as coisas,
presidindo sucessivamente às funções concernentes a todos os planos do
Universo. Mas, como se diz no Eclesiastes, há um tempo para cada coisa.
Assim, este cumpre hoje o seu destino neste mundo, aquele o cumprirá ou já
cumpriu em outro tempo, sobre a Terra, na água, no ar etc.
Todos devem percorrer os diferentes
graus da escala, para se aperfeiçoarem. Deus, que é justo, não poderia ter dado
a uns a ciência sem trabalho, enquanto outros só a adquirem de maneira penosa.
Comentário
de Kardec: Da
mesma maneira, entre os seres humanos, ninguém chega ao supremo grau de
habilidade numa arte qualquer sem ter adquirido os conhecimentos necessários na
prática das funções mais ínfimas dessa arte.
Os
Espíritos da ordem mais elevada, nada mais tendo a adquirir, entregam-se ainda
a ocupações.
A eterna ociosidade seria um
suplício eterno.
A natureza
de suas ocupações eles recebem diretamente as ordens de Deus, e
transmitem por todo o Universo e velam pela sua execução.
As ocupações
dos Espíritos são incessantes sim, se entendermos que o seu pensamento está
sempre em atividade, pois eles vivem pelo pensamento. Mas é necessário
não equiparar as ocupações dos Espíritos com as ocupações materiais dos
seres humanos. Sua própria atividade é um gozo, pela consciência que eles
têm de ser úteis.
Concebe-se
isso para os bons Espíritos; mas para os inferiores eles têm ocupações apropriadas à sua
natureza.
Entre os
Espíritos há os que são ociosos ou que não se ocupam de alguma coisa útil, mas
esse estado é temporário e subordinado ao desenvolvimento de sua
inteligência. Certamente que os há, como entre os seres humanos,
vivendo apenas para si mesmos; mas essa ociosidade lhes pesa e, cedo ou
tarde, o desejo de progredir lhes faz sentir a necessidade de atividade, e
são então felizes de poderem tornar-se úteis. Falamos de Espíritos que
atingiram o ponto necessário para terem consciência de si mesmos e de seu
livre-arbítrio. Porque, em sua origem, eles são como crianças
recém-nascidas que agem mais por instinto do que por uma vontade
determinada.
Os
Espíritos examinam os nossos trabalhos de arte e se interessam por eles, ou
seja, examinam
o que pode provocar elevação dos Espíritos e seu progresso.
Um Espírito
que teve uma especialidade na Terra, um pintor, um arquiteto, por exemplo,
se interessa de preferência pelos trabalhos que constituíram o objeto de sua
predileção durante a vida, isto é, se for bom, se interessará por eles na
proporção que lhe permitam ajudar a elevação das almas a Deus. Esqueceis,
aliás, que um Espírito que praticou uma arte na existência em que o
conhecestes, pode ter praticado outra em outra existência, porque
é necessário que tudo saiba para tornar-se perfeito. Assim, segundo o seu
grau de adiantamento, pode ser que nenhuma delas constitua uma
especialidade para ele. E isso o que eu entendo quando digo que tudo se
confunde num objetivo geral. Notai ainda isto: o que é sublime para nós,
no nosso mundo atrasado, não passa de infantilidade, comparado com o que
há nos mundos mais avançados. Como queremos que os Espíritos que habitam
esses mundos, onde existem artes desconhecidas para nós, admirem o que,
para eles, não é mais que um trabalho escolar? Já o disse: eles examinam
aquilo que pode provar o progresso.
Concebemos
que assim deve ser para os Espíritos bastante adiantados. Mas falamos dos
Espíritos mais vulgares, que não se elevaram ainda acima das ideias
terrenas. Para
esses é diferente. Seu ponto de vista é mais limitado e podem admirar aquilo
mesmo que admirais.
Os
Espíritos vulgares se imiscuem algumas vezes em nossas ocupações e em nossos
prazeres e estão
incessantemente ao nosso redor e tomam parte, às vezes bastante ativa
naquilo que fazemos, segundo a sua natureza. E é bom que o façam, para
impulsionar os seres humanos nos diferentes caminhos da vida, excitar ou
moderar as suas paixões.
Comentário
de Kardec: Os Espíritos se ocupam das coisas deste mundo
na razão da sua elevação ou da sua inferioridade. Os Espíritos superiores têm,
sem dúvida, a faculdade de as considerar nos seus mínimos aspectos, mas não o
fazem senão na medida em que isso seja útil ao progresso. Os Espíritos
inferiores somente ligam a essas coisas uma importância relativa ás lembranças
que ainda estão presentes em sua memória, e às ideias materiais que ainda não
foram extintas.
Os
Espíritos que têm missões a cumprir cumprem-nas em estado errante e encarnado.
Podendo fazê-lo
num e noutro estado. Para certos Espíritos errantes essa é uma grande
ocupação.
As missões
de que podem ser encarregados os Espíritos errantes, são tão
variadas que seria impossível descrevê-las; existem aliás as que não
poderemos compreender.
Comentário
de Kardec: As missões dos Espíritos têm sempre o
bem por objeto. Seja como Espírito, seja como seres, são encarregados de ajudar
o progresso da humanidade, dos povos, ou dos indivíduos num circulo de ideias
mais ou menos largo, mais ou menos especial, de preparar as vias para certos
acontecimentos, de velar pela realização de certas coisas. Alguns têm missões
mais restritas e de certa maneira pessoais ou inteiramente locais, como de
assistir aos doentes, os agonizantes, os aflitos, de velar pelos que estão sob
a sua proteção de guias, de dirigi-los pelos seus conselhos ou pelos
bons pensamentos que lhes surgem. Pode se dizer que há tantos gêneros de
missões quantas as espécies de interesses a resguardar, seja no mundo físico ou
no mundo moral. O Espírito se adianta segundo a maneira por que desempenha a
sua tarefa.
0s Espíritos
não compreendem sempre os desígnios que estão encarregados de executar.
Há os que são instrumentos cegos, mas
outros sabem muito bem com que objetivo agem.
Quanto se há somente
Espíritos elevados no cumprimento de missões, podemos dizer que a
importância das missões está em relação com a capacidade e a oração do
Espírito. O estafeta que leva um despacho cumpre também uma missão, que
não é a do general.
A missão de
um Espírito ele a pede
e alegra-se de obtê-la.
A mesma
missão pode ser pedida por muitos Espíritos, onde há sempre muitos candidatos, mas nem
todos são aceitos.
A missão dos
Espíritos encarnados consiste em instruir os seres humanos, ajudá-los a avançar,
melhorar as suas instituições por meios diretos e materiais. Mas as missões são
mais ou menos gerais importantes. Aquele que cultiva a terra cumpre uma missão,
como aquele que governa ou aquele que instrui. Tudo se encadeia na
Natureza; ao mesmo tempo que o Espírito se depura pela
encarnação, também concorre por essa forma para o cumprimento dos
desígnios da Providencia. Cada um tem a sua missão neste mundo, porque
cada um pode ser útil em algum sentido.
A missão de
pessoas voluntariamente inúteis na Terra, é que existe efetivamente
pessoas que só vivem para si mesmas e não sabem tornar-se úteis para nada. São
pobres seres que devemos lamentar, porque expiarão cruelmente sua inutilidade
voluntária. Seu castigo começa frequentemente desde este mundo, pelo tédio e o desgosto
da vida.
Se poderiam
escolher suas provas, por que preferiram uma vida vazia, é porque entre os
Espíritos há também os preguiçosos que recuam diante de má vida de
trabalho. Deus os deixa fazer; compreenderão mais tarde e à sua própria
custa os inconvenientes de sua inutilidade e serão os primeiros a pedir
para reparar o tempo perdido. Talvez, também, tenham escolhido uma vida
mais útil, mas uma vez em ação a recusaram, deixando-se arrastar
pelas sugestões dos Espíritos que os incitavam à ociosidade.
Podemos
reconhecer que um ser humano tem uma missão real na Terra pelas
grandes coisas que ele realiza, pelo progresso que faz os seus semelhantes
realizarem.
Os seres
que têm uma missão importante são predestinados a ela às vezes antes
do nascimento e têm conhecimento; mas, na maioria das vezes, o ignoram. Só têm
um vago objetivo ao virem para a Terra; sua missão se desenha após o
nascimento e segundo as circunstâncias. Deus os impulsiona pela via em que
devem cumprir os seus desígnios.
Tudo o que um ser humano faz não é consequência
de uma missão predestinada; ele é frequentemente o instrumento de que um
Espírito se serve para fazer executar alguma coisa que considera útil. Por
exemplo, um Espírito julga que seria bom escrever um livro que ele escreveria
se estivesse encarnado; procura o escritor mais apto a compreender o
seu pensamento e a executá-lo; dá-lhe então a ideia e o dirige na
execução. Assim, este ser não veio à Terra com a missão de fazer a obra.
Acontece o mesmo com alguns trabalhos de arte e com as descobertas.
Deve-se dizer ainda que durante o sono do corpo o Espírito encarnado se
comunica diretamente com o Espírito errante, e que se entendem sobre a
execução.
O Espírito
pode falir na sua missão por sua culpa, se não for um Espírito superior.
As consequências
para ele, é que terá de reiniciar a tarefa; está nisso a punição.
Depois sofrerá as consequências do mal que tenha causado.
Quando Deus
da uma missão a um certo Espírito, Ele não sabe se este será vitorioso ou não.
O Espírito
que encarna para cumprir uma missão, ele não tem as mesmas apreensões daquele
que o faz como prova, e sim tem experiência adquirida.
Existem
seres humanos que são os faróis do gênero humano, que o iluminam com luz do
gênio. Mas no seu número há os que se enganaram, e que ao par de grandes
verdades, propagaram grandes erros, e que podemos considerar sua tarefa como
falseada por eles próprios.
É que também estão abaixo da tarefa
que empreenderam. É necessário, entretanto, tomar em conta as circunstâncias;
os seres de gênio devem falar segundo o tempo, e um ensino que parece errôneo
ou pueril para uma época avançada poderia ser suficiente para o seu século.
Podemos
considerar a paternidade como uma missão e sem contradita, e ao
mesmo tempo um dever muito grande, que implica mais do que o ser humano pensa
na sua responsabilidade para o futuro. Deus põe a criança sob a tutela dos pais
para que estes a dirijam no caminho do bem. E lhes facilitou a tarefa dando à
criança uma organização débil e delicada, que a torna acessível a todas as
impressões. Mas há os que mais se ocupam de endireitar as árvores do
pomar e de fazê-las carregar de bons frutos do que endireitar o caráter do
filho. Se este sucumbir por sua culpa, terão de sofrer a pena, e os sofrimentos
da criança na vida futura recairão sobre eles, porque não fizeram o que lhes
competia para o seu adiantamento nas vias do bem.
Se uma
criança se transviar, apesar dos cuidados dos pais, estes não são responsáveis; mas
quanto mais as disposições da criança são más, mais a tarefa é
pesada e maior será o mérito se conseguirem desviá-la do mau caminho.
Se uma
criança se torna um bom adulto, apesar da negligência ou dos maus exemplos dos
pais, estes se beneficiam com isso, porque Deus é justo.
A natureza
da missão do conquistador que só tem em vista satisfazer a sua ambição e que,
para atingir o objetivo, não vacila diante de nenhuma das calamidades que vai espalhando, é porque, na
maioria das vezes, não é mais do que um
instrumento de que Deus se serve para o cumprimento de seus desígnios.
Essas calamidades são, muitas vezes, o meio de fazer avançar mais
rapidamente um povo.
Comentário
de Kardec: Os Espíritos encarnados têm ocupações
inerentes à sua existência corporal. No estado errante ou de desmaterialização
suas ocupações são proporcionais ao seu grau de adiantamento.
Uns percorrem os mundos,
instruindo-se e preparando-se para uma nova encarnação.
Outros, mais avançados, ocupam-se do
progresso dirigindo os acontecimentos e sugerindo pensamentos favoráveis;
assistem aos seres humanos de gênio que concorrem para o adiantamento da
Humanidade.
Outros se encarnam com uma missão de
progresso.
Outros tomam à sua tutela indivíduos,
famílias, aglomerações humanas, cidades e povos dos quais se tornam anjos da
guarda, gênios protetores e Espíritos familiares.
Outros, enfim, presidem aos fenômenos
da Natureza, dos quais são os agentes diretos.
Os Espíritos comuns se imiscuem nas
ocupações e divertimentos dos seres humanos.
Os Espíritos impuros ou imperfeitos
esperam, em sofrimentos e angústias, o momento em que praza a Deus
conceder-lhes os meios de se adiantarem. Se fazem o mal é pelo despeito de
ainda não poderem gozar do bem(1)
(1) Estas
anotações de Kardec dão-nos a visão de conjunto das funções dos Espíritos na Natureza
e justificam a sua afirmação de que os Espíritos são uma das forças naturais do
Universo. As doutrinas espiritualistas que acusam o Espiritismo de não
reconhecer a existência de classes de espíritos não humanos desconhecem este
quadro. O Espiritismo é monista e considera toda a evolução espiritual como um
processo único que se define na Humanidade, mas reconhece as fases pré-humanas
dessa evolução. Como vemos acima, os Espíritos estão em toda parte e exercem universalmente
a sua ação inteligente.
BIBLIOGRAFIA:
O LIVRO DOS ESPÍRITOS.
0 comentários:
Postar um comentário
ESTAMOS DISPOSIÇÃO DOS AMIGOS PARA ESCLARECER QUALQUER DÚVIDA.