domingo, 15 de outubro de 2017

ESPÍRITO E MATÉRIA.

O LIVRO DOS ESPÍRITOS. PARTE PRIMEIRA. AS CAUSAS PRIMÁRIAS.
CAPÍTULO II. ELEMENTOS GERAIS DO UNIVERSO. ESPÍRITO E MATÉRIA.

Só Deus sabe se a matéria existe desde toda a eternidade, ou foi criada por ele num certo momento.
Há, entretanto, uma coisa que a nossa razão nos deve indicar: é que Deus, modelo de amor e de caridade, jamais esteve inativo.
 No nosso ponto de vista, definimos geralmente a matéria como aquilo que tem extensão, podendo impressionar os sentidos e é impenetrável.
Mas a matéria existe em estados que não percebemos. Ela pode ser, por exemplo, tão etérea e sutil que não produza nenhuma impressão nos nossos sentidos: entretanto, será sempre matéria, embora não o seja para nós.
A definição da matéria é que ela é o liame que escraviza o espírito; é o instrumento que ela usa, e sobre o qual, ao mesmo tempo, exerce a sua ação.

Comentário de Kardec: De acordo com isto, pode-se dizer que a matéria é o agente, o intermediário com a ajuda do qual e sobre o qual  o Espírito atua.

O Espírito é o princípio inteligente do universo.
Quanto a sua natureza íntima não é fácil analisar na nossa linguagem. Para nós, ele não é nada, porque não é coisa palpável; mas nenhuma coisa é o nada e o nada não existe.
O Espírito é sinônimo de inteligência, sendo a inteligência um atributo essencial do Espírito; mas um e outro se confundem num princípio comum, de maneira que para nós, são uma e a mesma coisa.
 Quanto ao Espírito se é independente da matéria, ou não é mais do que uma propriedade desta, podemos dizer que são distintos, mas é necessária a união do Espírito e da matéria para dar inteligência a esta.
Esta união é igualmente necessária para a manifestação do Espírito para nós por que não estamos organizados para perceber o Espírito sem a matéria; Nossos sentidos não foram feitos para isso.
Podemos conhecer o Espírito sem a matéria e a matéria sem este, pelo pensamento.
Assim existem dois elementos gerais do Universo: a matéria e o Espírito e acima de ambos, Deus, o criador, o pai de todas as coisas. Essas três coisas são o princípio de tudo o que existe, a trindade universal. Mas ao elemento material é necessário ajuntar o fluido universal, que exerce o papel de intermediário entre o Espírito e a matéria propriamente dita, demasiada grosseira para que o Espírito possa exercer alguma ação sobre-ela, embora, de certo ponto de vista, se pudesse considerá-lo como elemento material, ele se distingue por propriedades especiais. Se fosse simplesmente matéria não haveria razão para que o Espírito não o fosse também. Ele esta colocado entre o Espírito e a matéria; é fluido, como a matéria e matéria; suscetível em suas inumeráveis combinações com esta, e sob a ação do Espírito de produzir infinita variedade de coisas, das quais não conhecemos mais do que uma ínfima parte. Esse fluido universal, ou primitivo, ou elementar, sendo o agente de que o Espírito se serve, é o princípio sem o qual a matéria permaneceria em perpétuo estado de dispersão, e não adquiriria jamais as propriedades que a gravidade lhe dá.
Podemos considerar esse fluido como designamos por eletricidade, porque ele é suscetível de inumeráveis combinações. O que chamamos fluido elétrico, fluido magnético, são modificações do fluido universal, que é, propriamente falando, uma matéria mais perfeita, mais sutil, que se pode considerar como independente.
Sendo o espírito em si mesmo alguma coisa, não seria mais exato e menos sujeito a confusões, designarmos esses dois elementos gerais pelas expressões: matéria inerte e matéria inteligente podemos dizer:
Que as palavras pouco nos importam. Cabe a nós formular a nossa linguagem, de maneira a nos entendermos. Nossas disputas provêm, quase sempre, de não nos entendermos sobre as palavras. Porque a nossa linguagem é incompleta para as cosias que não nos tocam os sentidos.

Comentário de Kardec: Um fato patente domina todas as hipóteses: vemos matéria sem inteligência e um princípio inteligente independente da matéria. A origem e a conexão dessas duas coisas nos são desconhecidas. Que elas tenham ou não uma fonte comum e os pontos de contato necessários; que a inteligência tenha existência própria, ou que seja uma propriedade, um efeito; que seja mesmo, segundo a opinião de alguns, uma emanação da Divindade, — é o que ignoramos. Elas nos aparecem distintas, e é por isso que a consideramos formando dois princípios constituintes do Universo. Vemos acima de tudo isso, uma inteligência que domina todas as outras, que as governa, que delas se distingue por atributos essenciais: é a esta inteligência suprema que chamamos Deus.


BIBLIOGRAFIA: O LIVRO DOS ESPÍRITOS.

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