0 LIVRO DOS ESPÍRITOS. PARTE SEGUNDA. MUNDO ESPÍRITA OU DOS ESPÍRITOS.
CAPÍTULO IV. PLURALIDADE DAS EXISTÊNCIAS. TRANSMIGRAÇÃO PROGRESSIVA.
Desde o princípio de sua formação, o Espírito não goza
de plenitude de suas faculdades; porque
o Espírito, como o ser humano, tem também a sua infância. Em sua origem, os
Espíritos não têm mais do que uma existência instintiva, possuindo apenas a
consciência de si mesmo e de seus atos. Só pouco a pouco a inteligência se
desenvolve.
O estado da alma em sua primeira encarnação é o estado da infância na vida corpórea. Sua
inteligência apenas desabrocha: ela ensaia para a vida.
As almas dos nossos selvagens estão no estado de infância relativa, pois são almas já
desenvolvidas, dotadas de paixões.
As paixões, então, indicam desenvolvimento, sim, mas não perfeição. É um
sinal de atividade e de consciência própria; na alma primitiva, a inteligência
e a vida estão em estado de germes.
Comentário de Kardec: A vida dos Espíritos, no seu conjunto,
segue as mesmas fases da vida corpórea; passa gradativamente do estado de
embrião ao de infância, para chegar, por uma sucessão de períodos, ao estado de
adulto, que é o da perfeição, com a diferença de que nesta não existe o
declínio nem a decrepitude da vida corpórea; que a sua vida, que teve um
começo, não terá fim; que lhe é necessário, do nosso ponto de vista, um tempo
imenso para passar da infância espírita a um desenvolvimento completo e o seu
progresso realizar-se, não sobre uma esfera apenas, mas através de diversos
mundos. A vida do Espírito constitui-se, assim, de uma série de existências
corporais, sendo cada qual uma oportunidade de progresso, como cada existência
corporal se compõe de uma série de dias, nos quais o ser humano adquire maior
experiência e instrução. Mas, da mesma maneira que, na vida humana há dias
infrutíferos, na do Espírito, há existências corpóreas sem proveito, porque ele
não soube conduzi-las.
Por uma conduta perfeita não podemos vencer já nesta
vida todos os graus e nos tornar Espíritos puros, sem passar pelos
intermediários, pois o que o ser humano julga
perfeito está longe da perfeição; há qualidades que ele desconhece e nem
pode compreender. Pode ser tão perfeito quanto a sua natureza o permita,
mas esta não é a perfeição absoluta. Da mesma maneira que uma criança, por
mais precoce que seja, deve passar pela juventude antes de chegar à
maturidade, e um doente deve passar pela convalescença antes de recuperar
a saúde. Além disso, o Espírito deve adiantar-se em conhecimento e
moralidade e, se ele não progrediu senão num sentido, é necessário que o
faça no outro, para chegar ao alto da escala. Entretanto, quanto mais o ser
se adianta na vida presente, menos longas e penosas serão as provas
seguintes.
O ser humano pode assegurar-se nesta vida uma
existência futura menos cheia de amarguras sem
duvida, pode abreviar o caminho e reduziras dificuldades.
Somente
o desleixado fica sempre no mesmo ponto.
Descer em suas novas existências abaixo do que já
havia atingido pode em
sua posição social, sim; como Espírito, não.
A alma de um ser humano de bem não pode animar,
noutra encarnação, o corpo de um celerado, pois
ela não pode degenerar.
A alma de um ser humano perverso pode transformar-se
na de um ser de bem, se ela
se arrepender, e então será uma recompensa.
Comentário de Kardec: A marcha dos Espíritos é progressiva e
jamais retrógrada. Eles se elevam gradualmente na hierarquia, e não descem do
plano atingido. Nas suas diferentes existências corporais, podem descer como
ser humano, mas não como Espíritos. Assim, a alma de um poderoso da Terra pode
mais tarde animar um humilde artesão, e vice-versa. Porque as posições entre os
seres humanos são frequentemente determinadas pelo inverso da elevação dos sentimentos
morais. Herodes era rei, e Jesus carpinteiro.
A possibilidade de melhorar numa outra existência
não pode levar certas pessoas a permanecerem no mau caminho, com o pensamento
de que poderão corrigir-se mais tarde. Poder pode, mas aquele que assim pensa não acredita em nada e a ideia
de um castigo eterno não o coibiria mais, porque a sua razão a repele e
essa ideia conduz, à incredulidade. Se apenas se houvessem empregado os meios
racionais para orientar os seres, não existiriam tantos céticos. Um Espírito
imperfeito pode pensar como dizes, em sua vida corporal, mas, uma vez
liberto da matéria, pensará de outra maneira, porque logo perceberá que
calculou mal, e é então que trará, numa nova existência, um sentimento
diverso. É assim que se efetiva o progresso. E eis porque têm na
Terra uns seres humanos mais adiantados que outros. Uns já têm uma
experiência que os outros ainda não tiveram, mas que adquirirão pouco a
pouco. Deles depende impulsionar o próprio progresso ou retardá-lo
indefinidamente.
Comentário de Kardec: O ser humano que se encontra
numa posição má, deseja mudá-la o mais rapidamente possível. Aquele que se
persuadiu de que as tribulações desta vida são a consequência de suas próprias
imperfeições, procurará assegurar-se uma nova existência menos penosa, e este
pensamento o desviará mais da senda do mal que o pensamento do fogo eterno, no
qual não acredita.
Só podendo os Espíritos melhorar-se pelo sofrimento
e as tribulações da existência corporal, segue-se que a vida material seria uma
espécie de crivo ou de depurador, pelo qual
devem passar os seres do mundo espírita para chegarem à perfeição.
Eles
melhoram através dessas provas, evitando o mal e praticando o bem. Mas
somente depois de muitas encarnações ou depurações sucessivas é que
atingem, num tempo mais ou menos longo, e segundo os seus esforços,
o alvo para o qual se dirigem.
Não é o corpo que influi sobre o Espírito para melhorá-lo,
e sim o Espírito que influi sobre o corpo.
O
Espírito é tudo: e o corpo é uma veste que apodrece; eis tudo.
Comentário de Kardec: Temos, no suco da vinha, uma imagem
material dos diferentes graus de depuração da alma. Ele contém o licor
chamado espírito ou álcool, mas enfraquecido por grande quantidade de matérias
estranhas que lhe alteram a essência, e não chega à pureza absoluta senão
depois de muitas destilações, em cada uma das quais se despoja de alguma
impureza. O alambique é o corpo no qual ele deve entrar para se depurar; as
matérias estranhas são como o períspirito, que se purifica a si mesmo, à medida
que o Espírito se aproxima da perfeição.
BIBLIOGRAFIA: O LIVRO DOS ESPÍRITOS.
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