O LIVRO DOS
ESPÍRITOS. PARTE SEGUNDA. MUNDO ESPÍRITA OU DOS ESPÍRITOS. CAPÍTULO III.
RETORNO DA VIA CORPORAL À VIDA ESPIRITUAL.
SEPARAÇÃO DA
ALMA E DO CORPO.
A separação
da alma e do corpo não é dolorosa.
O corpo frequentemente sofre mais
durante a vida, que no momento da morte; neste, a alma nada sente. Os
sofrimentos que às vezes se provam no momento da morte são um prazer
para o Espírito, que vê chegar o fim do seu exílio.
Comentário
de Kardec: Na
morte natural, que se verifica pelo esgotamento da vitalidade orgânica em consequência
de idade, o ser humano deixa a vida sem perceber: é uma lâmpada que se apaga
por falta de energia.
A separação
da alma e do corpo, os liames que a retinham sendo rompidos, ela se
desprende.
A separação
se verifica quando a
alma se desprende gradualmente e não escapa como um pássaro cativo
subitamente libertado. Os dois estados se tocam e se confundem, de maneira
que o Espírito se desprende pouco a pouco dos seus liames; estes se soltam
e não se rompem.
Comentário
de Kardec: Durante
a vida, o Espírito está ligado ao corpo pelo seu envoltório material ou
perispírito; a morte é apenas a destruição do corpo, e não desse envoltório que
se separa do corpo, quando cessa a vida orgânica. A observação prova que no
instante da morte o desprendimento do Espírito não se completa subitamente- ele
se opera gradualmente, com lentidão variável, segundo os indivíduos. Para uns é
bastante rápido, e pode dizer-se que o momento da morte é também o da
libertação que se verifica logo após. Noutros, porém, sobretudo naqueles cuja
vida foi toda material e sensual, o desprendimento é muito mais
demorado e dura, às vezes alguns dias semanas e até mesmo meses, o que implica
a existência no corpo de nenhuma vitalidade, nem a possibilidade de retorno á
vida, mas a simples persistência de uma afinidade entre o corpo e o Espírito,
afinidade que está sempre na razão da preponderância que, durante a vida, o
Espírito deu à matéria. É lógico admitir que quanto mais o Espírito estiver
identificado com a matéria, mais sofrerá para separar-se dela. Por outro lado,
a atividade intelectual e moral, a elevação dos pensamentos operam um começo de
desprendimento, mesmo durante a vida corpórea e quando a morte chega, é quase
instantânea. Este é o resultado dos estudos efetuados sobre os indivíduos
observados no momento da morte. Essas observações provam ainda que a afinidade
que persiste, em alguns indivíduos, entre a alma e o corpo é às vezes, muito
penosa, porque o Espírito pode experimentar o horror da decomposição. Este caso
é excepcional e peculiar a certos gêneros de morte, verificando-se em alguns
suicídios.
Quanto à
separação definitiva entre a alma e o corpo na agonia, às vezes, a alma já deixou o corpo, que
nada mais tem do que a vida orgânica. O ser humano não tem mais
consciência de si mesmo, e, não obstante, ainda lhe resta um sopro de
vida. O corpo é uma máquina que o coração põe em movimento. Ele se mantém
enquanto o coração lhe fizer circular o sangue pelas veias e para isso não
necessita da alma.
No momento
da morte, a alma sente, muitas vezes, que se quebram os liames que
a prendem ao corpo, e então emprega todos os seus esforços para os
romper de uma vez. Já parcialmente separada da matéria, vê o futuro
desenrolar-se ante ela e goza por antecipação do estado de Espírito.
Uma pálida
ideia nos da o exemplo da larva, que primeiro se arrasta pela terra, depois se
fecha na crisálida, numa morte aparente, para renascer numa existência
brilhante, podendo dar-nos uma ideia da vida terrena, seguida do túmulo e por
fim de uma nova existência.
A imagem é boa, mas é necessário não
toma-la ao pé da letra, como sempre fazemos.
A sensação
que experimenta a alma, no momento em que se reconhece no mundo dos Espíritos, depende
do que fizeram. Se fizeram o mal com o desejo de desfazê-lo, estará, no
primeiro momento, envergonhado de o haver feito. Para o justo, é muito
diferente: ele se sente aliviado de um grande peso porque não receia
nenhum olhar perseguidor.
O Espírito
encontra imediatamente aqueles que conheceu na Terra e que morreram antes dele segundo
a afeição que tenham mantido reciprocamente. Quase sempre eles o vêm
receber na sua volta ao mundo dos Espíritos e o ajudam a se libertar das
faixas da matéria. Vê também a muitos que havia perdido de vista
durante a passagem pela Terra; vê os que estão na erraticidade, bem como
os que se encontram encarnados, que vai visitar.
Na morte violenta
ou acidental, quando os órgãos ainda não se debilitaram pela idade ou pelas
doenças, a separação da alma e a cessação da vida se verificam simultaneamente; mas,
em todos os casos, o instante que os separa é muito curto.
Após a
decapitação, por exemplo, o ser humano conserva por alguns instantes a
consciência de si mesmo.
Frequentemente ele a conserva por
alguns minutos, até que a vida orgânica se extinga de uma vez. Mas muitas
vezes a preocupação da morte lhe faz perder a consciência antes do
instante do suplício.
Comentário de Kardec: Não
se trata, aqui, senão da consciência que o supliciado pode ter de si mesmo como
ser humano, por meio do corpo, e não como Espírito. Se não perdeu essa
consciência antes do suplicio, ele pode conservá-la por alguns instantes, mas
de duração muito curta, e a perde necessariamente com a vida orgânica do
cérebro. Isso não quer dizer que o períspirito esteja inteiramente desligado do
corpo, mas pelo contrário, pois, em todos os casos de morte violenta, quando
esta não resulta da extinção gradual das forças vitais, os liames que unem o
corpo ao períspirito são mais tenazes, e o desprendimento completo é mais
lento.
BIBLIOGRAFIA: O LIVRO
DOS ESPÍRITOS.
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