O LIVRO DOS ESPÍRITOS. PARTE
SEGUNDA. MUNDO ESPÍRITA OU DOS ESPÍRITOS.
CAPÍTULO II.
ENCARNAÇÕES DOS ESPÍRITOS. A
ALMA.
A alma é um Espírito encarnado, e antes
de unir-se ao corpo era um Espírito.
As almas e
os Espíritos são, portanto, uma e a mesma coisa.
As almas não são mais que Espíritos.
Antes de ligar-se ao corpo, a alma é um dos seres inteligentes que povoam
o mundo invisível, e depois reveste temporariamente um invólucro carnal,
para se purificar e esclarecer.
No ser
humano além da alma e do corpo, existe o liame que une a
alma e o corpo.
A natureza
desse liame é semimaterial; quer dizer, um meio-termo entre a
natureza do Espírito e a do corpo. E isso é necessário, para que eles
possam comunicar-se. E por meio desse liame que o Espírito age sobre a
matéria, e vice-versa.
Comentário
de Kardec: O ser humano é, assim, formado
de três partes essenciais:
1° O corpo, ou ser material, semelhante aos dos animais e animado
pelo mesmo princípio vital;
2° A alma. Espírito encarnado, do qual o corpo é a habitação;
3° O perispírito. princípio intermediário, substância
semimaterial, que serve de primeiro envoltório ao Espírito e
une a alma ao corpo. Tai são num fruto, a semente, a polpa e a casca.
O corpo não é mais que o envoltório
do Espírito.
O corpo pode
existir sem a alma; e não obstante, desde que o corpo
deixa de viver, a alma o abandona. Antes do nascimento não há uma união
decisiva entre a alma e o corpo, ao passo que, após o estabelecimento
dessa união, a morte do corpo rompe os liames que a unem a ele, e a alma o
deixa. A vida orgânica pode animar um corpo sem alma, mas a alma não pode
habitar um corpo sem vida orgânica.
O nosso
corpo, se não tivesse alma, seria uma massa de carne
sem inteligência; tudo o que quisermos, menos um ser humano.
O mesmo
Espírito não pode encarnar-se de uma vez em dois corpos diferentes.
O Espírito é indivisível e não pode
animar simultaneamente duas criaturas diferentes.
A opinião
dos que consideram a alma como o princípio da vida material, não passa de simples questão de palavras, com a qual nada temos. Comecemos
por nos entendermos.
Alguns
Espíritos, e antes deles alguns filósofos, assim definiram a alma: Uma
centelha anímica emanada do Grande Todo. Quanto a contradição não
existe: tudo depende da significação das palavras.
Comentário
de Kardec: A palavra alma é empregada
para exprimir as coisas mais diferentes. Uns chamam alma ao principio da vida,
e nessa acepção é exato dizer figuradamente, que a alma é uma
centelha anímica emanada do Grande Todo. Essas últimas palavras se referem à
fonte universal do principio vital, em que cada ser absorve uma porção, que
devolve ao todo após a morte. Esta ideia não exclui absolutamente a de um ser
moral, distinto, independente da matéria, e que conserva a sua individualidade.
É a este ser que se chama igualmente alma. E nesta acepção pode dizer-se
que a alma é um Espírito encarnado. Dando da alma diferentes definições, os
Espíritos falaram segundo as aplicações que faziam da palavra e segundo as ideias
terrestres de que estavam ainda mais ou menos imbuídos. Isso decorre da
insuficiência da linguagem humana, que não tem um termo para cada ideia, o que
acarreta uma multidão de mal-entendidos e discussões. Eis porque os Espíritos
superiores dizem que devemos primeiro, nos entendermos quanto às palavras(1).
O
pensamento da teoria da alma subdividida em tantas partes quantos são os
músculos, presidindo cada uma às diferentes funções do corpo, podemos dizer que isso também depende do sentido que se atribui à
palavra alma. Se por ela se entende o fluido vital, está certo;
se entende o Espírito encarnado, está errado. Já foi dito que o Espírito é
indivisível: ele transmite o movimento aos órgãos através do fluido
intermediário, sem por isso se dividir.
Quanto aos
Espíritos que deram esta definição, podemos dizer tratar-se de Espíritos ignorantes que podem tomar o efeito pela causa.
Comentário
de Kardec: A alma age por meio dos órgãos, e estes
são animados pelo fluido vital que se reparte entre eles, e com mais
abundância nos que são os centros ou focos de movimento. Mas essa explicação
não pode aplicar-se à alma como sendo o Espírito que habita o corpo durante a
vida e o deixa com a morte.
A alma não está encerrada no
corpo como o pássaro numa gaiola. Ela irradia e se manifesta no exterior,
como a luz através de um globo de vidro ou como o som ao redor de um
centro sonoro. É por isso que se pode dizer que ela é exterior, mas não
como um envoltório do corpo. A alma tem dois envoltórios: um sutil e leve,
o primeiro, que chamamos perispírito; o outro, grosseiro, material e
pesado, que é o corpo. A alma é o centro desses envoltórios.
Dessa outra
teoria, segundo a qual na criança, a alma vai se completando a cada período da
vida, podemos dizer que o Espírito é apenas um: inteiro na
criança, como no adulto; são os órgãos, instrumentos de manifestação da
alma, que se desenvolvem e se completam. Isto é ainda tomar o efeito pela
causa.
Os
Espíritos não definem a alma da mesma maneira, porque os Espíritos não são todos igualmente esclarecidos sobre
essas questões. Há Espíritos ainda limitados, que não compreendem as
coisas abstraías, como as crianças entre nós. Há também Espíritos pseudossábios, que
para se imporem, como acontece ainda entre nós, fazem rodeios de palavras.
Além disso, mesmo os Espíritos esclarecidos podem exprimir-se em termos
diferentes, que no fundo têm o mesmo valor, sobretudo quando se trata de
coisas que a nossa linguagem é incapaz de esclarecer.
Se deve
entender por alma do mundo o princípio universal da vida e da
inteligência de que nascem as individualidades. Mas os que se servem dessa
expressão, frequentemente, não se entendem. A palavra alma tem
aplicação tão elástica que cada um a interpreta de acordo com as suas
fantasias. Tem-se, às vezes, atribuído uma alma a Terra, e por ela é
necessário entender o conjunto dos Espíritos abnegados que dirigem as nossas
ações no bom sentido, quando os escutemos, e que são de certa maneira os
lugares-tenentes de Deus junto ao nosso globo.
Tantos
filósofos antigos e modernos têm longamente discutido sobre a Ciência psicológica,
sem chegar à verdade, por que esses seres humanos eram os
precursores da doutrina espírita eterna, e prepararam o caminho. Eram seres
e puderam enganar-se, porque tomaram pela luz as suas próprias ideias; mas
os seus mesmos erros, através dos prós e contras de suas doutrinas, servem
para evidenciar a verdade. Aliás, entre esses erros se encontram grandes
verdades, que um estudo comparativo nos fará compreender.
A alma não
tem no corpo, uma sede determinada e circunscrita. Mas ela se situa mais particularmente na cabeça, entre os grandes
gênios e todos aqueles que usam bastante o pensamento, e no coração dos
que sentem bastante, dedicando todas as suas ações à Humanidade.
A opinião
dos que situam a alma num centro vital, é que o Espírito se
encontra de preferência nessa parte do nosso organismo, que é o ponto a
que se dirigem todas as sensações. Os que a situam naquilo que consideram
como centro da vitalidade, a confundem com fluído ou princípio vital. Não
obstante, pode dizer-se que a sede da alma se encontra mais
particularmente nos órgãos que servem para as manifestações intelectuais e
morais.
BIBLIOGRAFIA: O LIVRO DOS ESPÍRITOS.
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