O
LIVRO DOS ESPÍRITAS. CAPÍTULO XI. LEI DE JUSTIÇA, AMOR E CARIDADE. JUSTIÇA E
DIREITOS NATURAIS.
O sentimento de justiça é de tal modo natural que nos
revolta ao pensamento de uma injustiça. O progresso moral desenvolve sem
duvida esse sentimento, mas não o dá: Deus o pôs no coração do ser humano.
Eis porque encontramos frequentemente, entre os seres humanos simples e
primitivos, noções mais exatas de justiça do que entre pessoas de muito
saber.
A explicação de que os seres humanos entendam de
maneiras tão diferentes a justiça natural, e que um considere justo o que a
outro parece injusto. É que em geral se misturam paixões ao julgamento, alterando esse sentimento,
como acontece com a maioria dos outros sentimentos naturais e fazendo ver as
coisas sob um falso ponto de vista.
A definição da justiça consiste no respeito aos direitos
de cada um.
O que determina esses direitos, é que são determinados por duas coisas: a
lei humana e a lei natural. Tendo os seres humanos feitos leis apropriadas
aos seus costumes e ao seu caráter, essas leis estabeleceram direitos que
podem variar com o progresso. Vejamos se as nossas leis de hoje sem serem
perfeitas, consagram os mesmos direitos que as da Idade Média. Esses
direitos superados, que nos parecem monstruosos, pareciam justos e
naturais naquela época. O direito dos seres humanos, portanto, nem sempre
é conforme a justiça. Só regula algumas relações sociais, enquanto na vida
privada há uma infinidade de atos que. são de competência exclusiva do
tribunal da consciência.
Tirando o direito consagrado pela lei humana, a base
da justiça fundada sobre a lei natural, é baseada naquilo que o Cristo nos
disse: “Querer
para o outro o que queremos para nós mesmos”. Deus pôs no coração do ser humano
a regra de toda a verdadeira justiça, pelo desejo que tem cada um de ver os
seus direitos respeitados. Na incerteza do que deve fazer para o semelhante
em dada circunstância, que o ser humano pergunta a si mesmo como desejaria
que agissem com ele. Deus não poderia dar um guia mais seguro que a sua
própria consciência.
Comentário de Kardec: O critério da
verdadeira justiça é de fato o de se querer para o outro aquilo que se quer
para si mesmo, e não de querer para si o que se deseja para os outros, o que
não é a mesma coisa. Como não é natural que se queira o próprio mal, se
tomarmos o desejo pessoal por norma ou ponto de partida, podemos estar certos
de jamais desejar ao próximo senão o bem. Desde todos os tempos e em todas as
crenças, o ser humano procurou sempre fazer prevalecer o seu direito pessoal.
O sublime da religião cristã foi tomar o direito pessoal por base do
direito do próximo.
A necessidade de viver em sociedade acarreta para o ser
humano obrigações particulares, e a primeira de todas é a de respeitar os direitos dos semelhantes; aquele
que respeitar esses direitos será sempre justo. No nosso mundo, onde tantos seres
humanos não praticam a lei de justiça, cada um usa de represálias e vem
daí a perturbação e a confusão da nossa sociedade. A vida social
dá direitos e impõe deveres recíprocos.
O ser humano pode iludir-se quanto à extensão do seu
direito, o que pode fazer que ele conheça os seus limites. Limites estes do direito que reconhece para o
seu semelhante em relação a ele, na mesma circunstância e de maneira
recíproca.
Mas se cada um se atribui a si mesmo os direitos do
semelhante, em que se transforma a subordinação aos superiores, será isto a
anarquia de todos os poderes. Onde os direitos naturais são os mesmos para todos os seres
humanos, desde o menor até o maior. Deus não fez uns de limo mais puro que
outros e todos são iguais perante Ele. Esses direitos são eternos; os
estabelecidos pelos seres humanos perecem com as instituições. De resto, cada
qual sente bem a sua força ou a sua fraqueza, e saberá ter sempre uma
certa deferência para aquele que o merecer, por sua virtude e seu saber. E
importante assinalar isto, para que os que se julgam superiores conheçam
os seus deveres e possam merecer essas deferências. A subordinação não
estará comprometida, quando a autoridade for conferida à sabedoria.
O caráter do ser humano que venha a praticar a
justiça em toda a sua pureza, seria o do verdadeiro justo, a exemplo de Jesus; porque
praticaria também o amor ao próximo e a caridade, sem os quais não há a
verdadeira justiça.
BIBLIOGRAFIA:
O LIVRO DOS ESPÍRITOS.
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