O LIVRO DOS ESPÍRITOS. CAPÍTULO X. LEI DE LIBERDADE.
CONHECIMENTO DO
FUTURO.
Quanto à revelação do futuro ao ser humano,
no início lhe é
oculto e só em casos raros e excepcionais Deus lhe permite a sua
revelação.
O futuro é oculto ao ser
humano porque se ele
conhecesse o futuro, negligenciaria o presente e não agiria com a mesma
liberdade de agora, pois seria dominado pelo pensamento de que, se alguma
coisa deve acontecer, não adianta ocupar-se dela, ou então procuraria
impedi-la. Deus não quis que assim fosse afim de que cada um pudesse
concorrer para a realização das coisas, mesmo daquelas a que desejaria
opor-se. Assim é que mesmo sem o saber, quase sempre os acontecimentos são
preparados, os quais sobrevirão no curso da tua vida.
Mas se é útil que o futuro
permaneça oculto, Deus permite, às vezes, a sua revelação quando esse acontecimento antecipado
deve facilitar o cumprimento das coisas, em vez de embaraçá-lo, levando o
ser humano a agir dessa maneira diferente do que o Hfaria se não o
tivesse. Além disso, muitas vezes é uma prova. A perspectiva de um
acontecimento pode despertar pensamentos que sejam mais ou piores: se um
ser humano souber, por exemplo, que obterá uma fortuna com a qual não
contava, poderá ser tomado pelo sentimento de cupidez, pela alegria de
aumentar os seus gozos terrenos, pelo desejo de obtê-la mais cedo, aspirando
pela morte daquele que lhe deve deixar, ou então essa perspectiva
despertará nele bons sentimentos e pensamentos generosos. Se a previsão
não se realizar, será outra prova: a da maneira por que suportará a
decepção. Mas não deixará por isso de ter um mérito ou demérito
dos pensamentos bons ou maus que a crença mi previsão lhe provocou.
Desde que Deus tudo sabe, também sabe se um
ser humano deve ou não sucumbir numa prova. A necessidade da prova, que
nada pode revelar a Deus sobre aquele ser humano, é porque Deus deixa ao ser humano toda a
responsabilidade da sua ação, uma vez que ele tem a liberdade de fazer ou
não fazer. Podendo o ser humano escolher entre o bem e o mal, aprova tem
por fim colocá-lo ante a tentação do mal, deixando-lhe todo o mérito da
resistência. Mesmo Deus sabendo muito bem com antecedência, se ele vencerá
ou fracassará, não pode puni-lo nem recompensá-lo, na sua Justiça, por um ato
que ele não tenha praticado.
Comentário
de Kardec: É
assim entre os seres humanos. Por mais capaz que seja um aspirante por mais
certeza que se tenha de seu triunfo, não se lhe concede nenhum grau sem exame o
que quer dizer sem prova. Da mesma maneira, um juiz não condena um acusado
senão pela prova de um ato consumado, e não pela previsão de que ele pode ou
deve praticar esse ato.
Quanto
mais se reflete sobre as considerações que teria para o ser humano o
conhecimento do futuro, mais se vê como a Providência foi sábia ao ocultá-lo a
certeza de um acontecimento feliz o atiraria na inação; a de um acontecimento
desgraçado, no desânimo; e num caso como no outro suas forcas seriam
paralisadas. Eis porque o futuro não é mostrado ao ser humano senão
como um alvo que ele deve atingir pelos seus esforços, mas sem conhecer as
vicissitudes por que deve passar para atingi-lo. O conhecimento de todos os
incidentes da rota lhe tiraria a iniciativa e o uso do livre-arbítrio; ele se
deixaria arrastar pelo declive fatal dos acontecimentos sem exercitar as suas
faculdades. Quando o sucesso de uma coisa está assegurado ninguém mais se
preocupa com ela.
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