OS
DEVERES DOS MARIDOS – POR LUCIANO SUBIRÁ
29/08/2018
Tanto o
homem como a mulher receberam de Deus atribuições para a vida familiar –
algumas iguais, algumas diferentes. Por exemplo, ao criar a mulher para ser uma
ajudadora do seu marido (Gn 2.18), o Pai Celeste definiu o papel do homem como
cabeça (ou governo) do lar; e é justamente por este aspecto que queremos
começar abordando os deveres do marido.
Também
encontramos nas Escrituras ordens claras sobre a responsabilidade do marido de
amar (honrar) sua esposa (Ef 5.25) e, o que separamos como um papel ainda
distinto, ser amante (físico) de sua mulher (1 Co 7.3-5). Entendemos ainda que,
quando criou o homem e o estabeleceu no Éden, o Senhor deu-lhe duas distintas
funções: lavrar e guardar o jardim (Gn 2.15). Logo, mesmo antes de criar a
mulher e estabelecer a família (que já existiam em seu propósito eterno), o
Criador definiu o papel do homem como provedor e protetor de sua futura
família.
Portanto,
os cinco principais deveres do marido – de procurar agradar e fazer feliz sua
mulher, são:
1. Ser o
cabeça do lar;
2. Amar
sua esposa;
3. Ser
amante (sexual) de sua esposa;
4. Ser
provedor;
5. Ser
protetor.
O MARIDO DEVE SER O CABEÇA DO LAR
Alguns
homens, erroneamente interpretam sua função de cabeça do lar como uma posição
em que os outros (principalmente sua própria esposa) devem reconhecê-lo. Mas
quando falamos dos deveres dos maridos, queremos enfatizar o papel que ele, o
homem da casa, deve cumprir.
É lógico
que parte dos deveres da esposa é reconhecer e submeter-se a esta posição do
marido, mas há alguns homens que querem que outros reconheçam neles um encargo
que eles mesmo nunca assumiram! A negligência de muitos esposos “empurram” suas
mulheres a assumirem deveres e funções que não pertencem a elas, e no fim
muitos deles ainda reclamam de alguém ter “usurpado” sua posição! Portanto,
repito, o propósito deste ensino é ajudar os maridos a entenderem o que eles
precisam fazer quanto à responsabilidade de governo que lhes foi dada pelo
Senhor.
“Quero, entretanto, que saibais ser
Cristo o cabeça de todo homem, e o homem, o cabeça da mulher, e Deus, o cabeça
de Cristo”. (1 Coríntios 11.3)
A
importância do assunto é destacada na expressão usada pelo apóstolo: “quero que
saibais que”… Não podemos ignorar os princípios divinos para o funcionamento da
família! E um deles é o homem como governo de seu lar:
“Porque o marido é o cabeça da mulher,
como também Cristo é o cabeça da igreja, sendo este mesmo o salvador do corpo”.
(Efésios 5.23)
É claro
que assumir a função de cabeça do lar também exigirá que o marido venha a saber
COMO fazer isto. Falaremos sobre esta questão depois de definir qual é o nível
de autoridade que o Senhor determinou que o homem exercesse em sua própria
casa.
Qual é a autoridade do marido sobre a sua esposa?
Há uma
verdade bíblica que tem sido pouco compreendida por muitos casais cristãos.
Trata-se da questão da autoridade do homem sobre sua própria casa, começando
pela relação marido e mulher (este é o primeiro nível vivido antes – e depois –
da chegada dos filhos). A Palavra de Deus nos mostra claramente que a mulher,
enquanto na condição de filha, estava sob a autoridade de seu pai. Esta
autoridade dava ao pai o direito de validar (ou não) o voto que sua filha fazia
ao Senhor:
“Falou Moisés aos cabeças das tribos dos
filhos de Israel, dizendo: Esta é a palavra que o Senhor ordenou: Quando um
homem fizer voto ao Senhor ou juramento para obrigar-se a alguma abstinência,
não violará a sua palavra; segundo tudo o que prometeu, fará. Quando, porém,
uma mulher fizer voto ao Senhor ou se obrigar a alguma abstinência, estando em
casa de seu pai, na sua mocidade, e seu pai, sabendo do voto e da abstinência a
que ela se obrigou, calar-se para com ela, todos os seus votos serão válidos;
terá de observar toda a abstinência a que se obrigou. Mas, se o pai, no dia em
que tal souber, o desaprovar, não será válido nenhum dos votos dela, nem lhe
será preciso observar a abstinência a que se obrigou; o Senhor lhe perdoará,
porque o pai dela a isso se opôs”. (Números 30.1-5)
Agora
perceba, na continuação da instrução divina sobre a questão dos votos, no texto
bíblico, que o homem, ao casar-se, assume diante de Deus exatamente a mesma
autoridade que o pai tinha sobre sua filha quando esta ainda vivia, como
solteira, em sua casa. Ao casar-se, o marido passava então a ter a mesma
autoridade de validar (ou não) os votos de sua esposa:
“Porém, se ela se casar, ainda sob seus
votos ou dito irrefletido dos seus lábios, com que a si mesma se obrigou, e seu
marido, ouvindo-o, calar-se para com ela no dia em que o ouvir, serão válidos
os votos dela, e lhe será preciso observar a abstinência a que se obrigou. Mas,
se seu marido o desaprovar no dia em que o ouvir e anular o voto que estava
sobre ela, como também o dito irrefletido dos seus lábios, com que a si mesma
se obrigou, o Senhor lho perdoará. No tocante ao voto da viúva ou da
divorciada, tudo com que se obrigar lhe será válido. Porém, se fez voto na casa
de seu marido ou com juramento se obrigou a alguma abstinência e seu marido o
soube, e se calou para com ela, e lho não desaprovou, todos os votos dela serão
válidos; e lhe será preciso observar toda a abstinência a que a si mesma se
obrigou. Porém, se seu marido lhos anulou no dia em que o soube, tudo quanto
saiu dos lábios dela, quer dos seus votos, quer da abstinência a que a si mesma
se obrigou, não será válido; seu marido lhos anulou, e o Senhor perdoará a ela.
Todo voto e todo juramento com que ela se obrigou, para afligir a sua alma, seu
marido pode confirmar ou anular. Porém, se seu marido, dia após dia, se calar
para com ela, então, confirma todos os votos dela e tudo aquilo a que ela se
obrigou, porquanto se calou para com ela no dia em que o soube. Porém, se lhos
anular depois de os ter ouvido, responderá pela obrigação dela.”. (Números
30.6-15)
Num dia
destes, depois de realizar uma cerimônia de casamento, minha filha Lissa, com
apenas nove anos na ocasião, perguntou-me porque que, em nossa cultura, é o pai
que entra com a noiva para entregá-la ao noivo. Respondi a ela que o casamento
é o momento em que os filhos deixam pai e mãe para unirem-se através da aliança
matrimonial e formarem sua própria família. Também aproveitei para ensinar a
ela que, no momento em que o pai está entregando sua filha ao noivo, a
autoridade que o pai tinha sobre sua filha está sendo transferida ao marido.
Estas verdades não precisam ser ensinadas somente aos maridos (e depois do
casamento); deveríamos ensinar isto aos nossos filhos desde a infância, preparando-os
para o relacionamento mais importante que um dia virão a ter.
Quando as
mulheres ouvem falar de submissão ao marido só depois de serem adultas,
provavelmente vão reagir de forma contrária ao conceito que parece ser de
domínio ou controle, quando na verdade retrata proteção. A Lissa sabe que ter
um pai que é seu protetor, provedor, líder e que não abusa da autoridade que
tem é uma grande bênção! E desde sua infância ela está sendo preparada para que
um dia esta autoridade (abençoadora e não-abusiva) do pai seja transferida ao
seu marido na ocasião do casamento.
Autoridade x Autoritarismo
A Bíblia
faz uma clara distinção entre a autoridade e o autoritarismo, que podemos
definir como sendo o uso errado (ou abuso) da autoridade. Segundo o Dicionário
Houaiss da Língua Portuguesa, autoritário é alguém “que se firma numa
autoridade forte, ditatorial; dominador, impositivo”.
Assim
como Deus é o cabeça de Cristo e Cristo o cabeça do homem (1 Co 11.3), com o
exercício de uma autoridade abençoadora e não dominadora ou ditatorial, assim
também deve ser o exercício da autoridade do marido no lar. O Senhor Jesus
ensinou-nos que os valores do Reino de Deus são diferentes dos valores deste
sistema mundano e dos da nossa inclinação carnal. Ele claramente advertiu-nos a
não buscar dominar aos outros e nem tampouco usarmos de autoridade para sermos
servidos; pelo contrário, Ele nos ensinou a exercer uma liderança servidora:
“Mas Jesus, chamando-os para junto de
si, disse-lhes: Sabeis que os que são considerados governadores dos povos
têm-nos sob seu domínio, e sobre eles os seus maiorais exercem autoridade. Mas
entre vós não é assim; pelo contrário, quem quiser tornar-se grande entre vós,
será esse o que vos sirva; e quem quiser ser o primeiro entre vós será servo de
todos. Pois o próprio Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir
e dar a sua vida em resgate por muitos”. (Marcos 10.42-45)
Portanto,
o principal papel do homem como cabeça do lar é servir sua mulher (e depois – e
também – aos seus filhos). Claro que isto envolve dar direção e tomar decisões,
só não envolve abuso, tirania e falta de respeito. Quando Pedro escreveu aos
presbíteros, que eram os líderes responsáveis pelo governo das igrejas locais
(1 Tm 5.17), mostrou como deveriam exercer a autoridade que Deus lhes confiou:
“Nem como dominadores dos que vos foram
confiados, antes, tornando-vos modelos do rebanho”. (1 Pedro 5.3)
Governar
não é dominar, é conduzir por meio de respeito (não de mera imposição). Alguns
maridos não entendem a posição dada por Deus à mulher de ajudadora (falaremos
mais sobre isso adiante) e agem como se elas não devessem dar opinião alguma
sobre nada. A verdade é que o homem deve aprender a ouvir sua esposa e que, o
próprio Deus, certa ocasião teve que orientar a Abraão, o pai da fé, a fazer
isso:
“ Disse, porém, Deus a Abraão: Não te
pareça isso mal por causa do moço e por causa da tua serva; atende a Sara em
tudo o que ela te disser; porque por Isaque será chamada a tua descendência”.
(Gênesis 21.12)
Se ser o
cabeça do lar envolvesse tomar decisões sozinho, sem consultar a esposa, Deus
jamais teria trazido esta orientação! Falaremos mais sobre isto ao falar dos
deveres das esposas, que envolve ser uma ajudadora.
O governo espiritual do lar
Ser o
cabeça do lar envolve conduzir não apenas as questões naturais da vida
familiar, mas também (e principalmente) o governo espiritual do lar. Ao falar
sobre as qualificações necessárias para quem deseja o episcopado, o apóstolo
Paulo fala sobre a importância de, antes de desejar governar a casa de Deus,
governar bem a própria casa:
“E que governe bem a própria casa,
criando os filhos sob disciplina, com todo o respeito pois, se alguém não sabe
governar a própria casa, como cuidará da igreja de Deus?”. (1 Timóteo 3.3,4)
Ao dar as
mesmas orientações a Tito, o apóstolo deixa claro que os filhos não devem
apenas ser bem educados por seus pais, mas devem ser crentes! Esta
característica revela uma família que é governada espiritualmente:
“Por esta causa, te deixei em Creta,
para que pusesses em ordem as coisas restantes, bem como, em cada cidade,
constituísses presbíteros, conforme te prescrevi: alguém que seja
irrepreensível, marido de uma só mulher, que tenha filhos crentes que não são
acusados de dissolução, nem são insubordinados”. (Tito 1.5,6)
O chefe
de família deve conduzir sua casa no temor do Senhor. Isto não é missão apenas
de um candidato ao ministério, mas de todo cristão! Porque o ministro deve
servir de exemplo, dele é requerido o modelo que os demais cristãos devem
seguir (1 Tm 4.11). Preparei um capítulo, dentro desta seção, intitulado “A
Vida Espiritual da Família”, onde detalho esta questão do governo espiritual do
lar. Portanto, aqui faremos apenas menção deste aspecto do dever do marido de
governar, também no quesito espiritual, a sua família.
O “espírito de Jezabel”
Há um
espírito (leia-se “atitude” ou “comportamento” – embora eu creia que há, de
fato, um espírito maligno que instiga esta forma de agir) que tem trazido muita
destruição nos matrimônios – e também nas igrejas – que quero chamar de
“espírito de Jezabel”.
A razão
de assim denominá-lo é porque vejo que, na carta à igreja de Tiatira, o próprio
Senhor Jesus também o fez. Na carta à igreja de Pérgamo ele menciona o conselho
de Balaão (Ap 2.14) e o quanto isto foi nocivo a Israel. Ao referir-se a esta
mulher como Jezabel, penso que Ele não falava de seu nome literal, mas de como
a sua atitude reproduzia o comportamento de uma das mais abomináveis
personagens na narrativa bíblica.
“Tenho, porém, contra ti o tolerares que
essa mulher, Jezabel, que a si mesma se declara profetisa, não somente ensine,
mas ainda seduza os meus servos a praticarem a prostituição e a comerem coisas
sacrificadas aos ídolos”. (Apocalipse 2.20)
Jezabel,
na Bíblia, é um “modelo” que não deve ser seguido – tanto na questão do governo
do lar como na vida espiritual:
“Ninguém houve, pois, como Acabe, que se
vendeu para fazer o que era mau perante o Senhor, porque Jezabel, sua mulher, o
instigava”. (1 Reis 21.25)
O rei
Acabe, do ponto de vista espiritual, foi um dos piores reis que Israel teve.
Mas ninguém conseguiu ser pior do que ele em algo: “se vender para fazer o que
era mau perante o Senhor”. Entendo, com esta expressão “se vender” que Acabe
tinha valores que sabia que estava rompendo. Ele não estava apenas na
ignorância e cegueira espiritual. Acabe se vendeu diante da pressão de Jezabel
e de suas propostas. Ela, além de dominante, era manipuladora. Basta ver o
ocorrido no assassinato de Nabote:
“Então Acabe veio para sua casa,
desgostoso e indignado, por causa da palavra que Nabote, o jizreelita, lhe
falara; pois este lhe dissera: Não te darei a herança de meus pais. Tendo-se
deitado na sua cama, virou a rosto, e não quis comer. Mas, vindo a ele Jezabel,
sua mulher, lhe disse: Por que está o teu espírito tão desgostoso que não
queres comer? Ele lhe respondeu: Porque falei a Nabote, o jizreelita, e lhe
disse: Dá-me a tua vinha por dinheiro; ou, se te apraz, te darei outra vinha em
seu lugar. Ele, porém, disse: Não te darei a minha vinha. Ao que Jezabel, sua
mulher, lhe disse: Governas tu agora no reino de Israel? Levanta-te, come, e
alegre-se o teu coração; eu te darei a vinha de Nabote, o jizreelita.” (1 Reis
21.4-7)
Na
verdade, há momentos em que Acabe parecia um menino mimado e Jezabel age como
se fosse sua mãe. A pergunta que ela faz “Governas tu agora no reino de
Israel?” significa mais ou menos o seguinte: “quem é que manda aqui? Nabote ou
você?”. Mas a atitude dela de resolver a situação expressa a seguinte mensagem:
“se você não é homem para resolver isto, deixa que eu faço isto por você”… E 1
Reis 21.8-14 narra como Jezabel ordena que um falso testemunho seja levantado
contra Nabote para que ele seja apedrejado e, depois de morto, sua vinha fosse
confiscada. Jezabel é o exemplo de uma mulher dominante, manipuladora e
instigadora que controlou a vida de seu marido, levando-o para longe de Deus e
de Sua Palavra.
Não se deixar manipular
Apesar de
inicialmente falar de uma mulher específica, Jezabel, a abordagem bíblica
sempre foi clara no sentido de que o homem tome cuidado e não se deixe
manipular por mulher alguma. A mulher não precisa gritar ou tentar convencer o
homem a fazer algo à força. Não creio que Eva precisou de nada disto para
convencer Adão a comer do fruto proibido. As mulheres tem seu charme, suas
habilidades de persuasão e influência e, várias vezes vemos exemplos disto na
narrativa bíblica:
“Para que não faças aliança com os
moradores da terra; não suceda que, em se prostituindo eles com os deuses e
lhes sacrificando, alguém te convide, e comas dos seus sacrifícios e tomes
mulheres das suas filhas para os teus filhos, e suas filhas, prostituindo-se
com seus deuses, façam que também os teus filhos se prostituam com seus
deuses”. (Êxodo 34.15,16)
O Senhor
Deus trouxe estas advertências porque sabia muito bem que isto iria acontecer.
Como ocorreu várias vezes na história de Israel; o exemplo clássico se deu sob
o o que é chamado de “o conselho de Balaão” (Nm 31.16):
“Habitando Israel em Sitim, começou o
povo a prostituir-se com as filhas dos moabitas. Estas convidaram o povo aos
sacrifícios dos seus deuses; e o povo comeu e inclinou-se aos deuses delas”.
(Números 25.1,2)
Podemos
olhar para a vida de Sansão e perceber que, embora homem algum pudesse
“dobrá-lo” à força, as mulheres faziam isto com uma simples frase de chantagem
emocional: “Ah, você não me ama! Se me amasse não faria assim” … Veja o exemplo
do ocorrido, primeiro com a mulher filistéia com a qual ele se casou e, depois,
com Dalila:
“Ao sétimo dia, disseram à mulher de
Sansão: Persuade a teu marido que nos declare o enigma, para que não queimemos
a ti e a casa de teu pai. Convidastes-nos para vos apossardes do que é nosso,
não é assim? A mulher de Sansão chorou diante dele e disse: Tão-somente me
aborreces e não me amas; pois deste aos meus patrícios um enigma a decifrar e
ainda não mo declaraste a mim. E ele lhe disse: Nem a meu pai nem a minha mãe o
declarei e to declararia a ti? Ela chorava diante dele os sete dias em que
celebravam as bodas; ao sétimo dia, lhe declarou, porquanto o importunava;
então, ela declarou o enigma aos seus patrícios”. (Juízes 14.15-17)
“Então, ela lhe disse: Como dizes que me
amas, se não está comigo o teu coração? Já três vezes zombaste de mim e ainda
não me declaraste em que consiste a tua grande força. Importunando-o ela todos
os dias com as suas palavras e molestando-o, apoderou-se da alma dele uma
impaciência de matar. Descobriu-lhe todo o coração e lhe disse: Nunca subiu
navalha à minha cabeça, porque sou nazireu de Deus, desde o ventre de minha mãe;
se vier a ser rapado, ir-se-á de mim a minha força, e me enfraquecerei e serei
como qualquer outro homem”. (Juízes 16.15-17)
A frase
“se você me amasse não agiria assim” teve mais força sobre Sansão do que toda
força física que o Senhor pudesse ter manifestado em sua vida. O homem tem o
dever primário de assumir o governo do lar sem se deixar ser manipulado. É
lógico que, parte da função de ajudadora da mulher é auxiliar o marido a tomar
decisões com bons conselhos. Mas toda tentativa de controle e manipulação deve
ser firmemente resistida!
O HOMEM DEVE AMAR A SUA ESPOSA
O
primeiro conceito que quero abordar aqui é que amar é mais do que sentir algo.
É decidir doar-se! Se o amor (em especial o conjugal) fosse algo meramente
espontâneo – como é o conceito de paixão que muitos possuem – não haveria a
necessidade de recebermos uma ordem divina acerca de amar a esposa. Se Deus
ordenou (e então somos obrigados a obedecer) amar é porque podemos fazer isto
por escolha, por decisão. Gosto de uma declaração de John Stott que exprime bem
isto: “O amor cristão não é vítima de nossas emoções, mas servo de nossa
vontade.”
Eis o
mandamento divino:
“Maridos, amai vossa mulher, como também
Cristo amou a igreja e a si mesmo se entregou por ela, para que a santificasse,
tendo-a purificado por meio da lavagem de água pela palavra”. (Efésios 5.25)
Observe
que o padrão estabelecido por Deus é de que o marido não apenas ame a sua
esposa, mas faça isto dentro do mais alto padrão de entrega: “como também
Cristo amou a igreja e a si mesmo se entregou por ela”. Portanto, para entender
como o homem deve amar a sua esposa, é necessário refletir sobre o modo como
Cristo amou a Igreja.
Em
primeiro lugar, e destacando a ideia de que o amor é mais do que um sentimento
involuntário, é importante lembrar em que condição Jesus amou a Sua Igreja. Nós
não O amávamos; as Escrituras declaram que hoje “nós o amamos porque ele nos
amou primeiro” (1 Jo 4.19). Nosso amor é uma retribuição ao amor d’Ele, e não o
contrário. Na verdade, a Palavra de Deus ressalta que fomos amados por Ele
quando ainda éramos seus inimigos (Rm 5.8-10)! Portanto, o marido não deve
apenas amar a sua esposa se ela estiver demonstrando grande afeto ou paixão por
ele ou somente se ela estiver sendo uma “boa esposa”. Ele decide amar e a
“conquista” com seu amor!
A Bíblia
diz que a fé opera pelo amor (Gl 5.6). O amor nos faz enxergar o que a pessoa
ainda não é – o que ela se tornará como fruto de todo investimento de amor
feito. Foi exatamente isto que Jesus fez por nós e este é o padrão que devemos
repetir. Por conta deste inquestionável princípio bíblico, concordo com o que
Charles Stanley disse: “Quando um homem ama sua esposa corretamente ela se
torna mais do que ele sonhou e muito além do que ele merece.”
Em
segundo lugar, o texto bíblico diz que Jesus “a si mesmo se entregou por ela”.
O amor, portanto, é uma entrega sacrificial, uma doação de si mesmo! Este é o
conceito bíblico do amor. Jean Anouilh afirmou: “O amor é, acima de tudo, a
doação de si mesmo”. Porém, as Sagradas Escrituras já ensinavam esta verdade
muito tempo antes…
O bem de
quem amamos deve ser promovido ainda que em detrimento de nós mesmos. Isto é
amor sacrificial. É dar atenção mesmo quando cansado. É abrir mão de algo
importante em favor do cônjuge. É agradar ao outro, não a si mesmo.
O
conceito de alguns maridos é que amar a esposa é dar-lhe presentes. Os
presentes podem expressar o amor e carinho, mas amar é muito mais do que isto!
Creio que foi diante deste princípio que J. Blanchard declarou: “É mais fácil
dar qualquer coisa que tenhamos do que dar-nos a nós mesmos.”
O amor
também tem a ver com a atitude de respeitar, de tratar bem:
“Maridos, amai a vossas mulheres, e não
as trateis asperamente”. (Colossenses 3.19 – TB)
Outra
versão diz o seguinte: “Marido, ame a sua esposa e não seja grosseiro com ela”
(Cl 3.19 – NTLH). O apóstolo Pedro ensinou sobre a atitude de consideração e
honra que o marido deve ter para com a sua esposa:
“Maridos, vós, igualmente, vivei a vida
comum do lar, com discernimento; e, tendo consideração para com a vossa mulher
como parte mais frágil, tratai-a com dignidade, porque sois, juntamente,
herdeiros da mesma graça de vida, para que não se interrompam as vossas
orações”. (1 Pedro 3.7)
Quando
leio a afirmação de Pedro acerca da mulher como parte mais frágil, recordo-me
de uma advertência clara que minha esposa Kelly me deu quando estávamos para
nos casar. Ela olhou bem nos meus olhos e disse: “Pense num vaso de porcelana
chinesa. Imagine um vasinho bem frágil que você nem pode apertar muito”. Quando
respondi que havia visualizado o tal vaso em minha mente, ela me disse: “Este
vasinho delicado sou eu. É o que você está levando para casa ao casar-se
comigo!”
É
desnecessário dizer que, muitas vezes ao longo destes anos de casado, faltou-me
esta consideração do vaso mais frágil. Às vezes numa discussão, outras na forma
errada de falar e ainda outras pela minha insensibilidade às emoções de minha
esposa. Não digo que nunca errei e nem que você não vai errar em relação a
isto. Mas a questão é como lidamos com isto quando erramos. Precisamos nos
arrepender diante de Deus quando não amamos a esposa assim como Cristo amou a
Igreja. Também precisamos nos arrepender com nossas esposas reconhecendo que
falhamos e pedindo perdão a elas. E então orarmos e nos policiarmos para não
viver sempre tropeçando na mesma área, pois é preciso crescer e se deixar ser
transformado pela ação do Espírito Santo.
Amar a
esposa é importar-se com ela (e com o que é importante para ela). Elie Wiesel
afirmou que “o oposto do amor não é o ódio, e sim a indiferença”. Fico abismado
com a atitude de muitos maridos com quem já conversei e aconselhei; muitos
deles acham que estão amando suas esposas pelo simples fato de não as odiarem
ou não se incomodarem de viver junto com elas. É um absurdo, mas infelizmente é
verdade!
Precisamos
crescer nesta área. E meditar na definição bíblica do amor que devemos
manifestar uns pelos outros:
“O amor é paciente, o amor é bondoso.
Não inveja, não se vangloria, não se orgulha. Não maltrata, não procura seus
interesses, não se ira facilmente, não guarda rancor. O amor não se alegra com
a injustiça, mas se alegra com a verdade. Tudo sofre, tudo crê, tudo espera,
tudo suporta.” (1 Coríntios 13.4-7 – NVI)
O HOMEM DEVE SER AMANTE DE SUA ESPOSA
Quero fazer
uma distinção entre o dever do homem de amar sua mulher (o que envolve o
carinho, apreço, dedicação, cuidado e valorização) e de ser amante de sua
mulher (o que conota a expressão física do amor, da intimidade e vida sexual do
casal). Aliás, o versículo bíblico que usamos como base deste ensino sobre os
deveres tem uma aplicação dirigida à vida sexual do casal:
“O marido conceda à esposa o que lhe é
devido, e também, semelhantemente, a esposa, ao seu marido. A mulher não tem
poder sobre o seu próprio corpo, e sim o marido; e também, semelhantemente, o
marido não tem poder sobre o seu próprio corpo, e sim a mulher”. (1 Coríntios
7.3,4)
Uma
verdade a ser destacada é que o prazer da esposa no ato sexual depende da
decisão, sensibilidade e dedicação do marido. Diz o ditado antigo que, em
matéria de prontidão sexual, o homem é como um fogão à gás (com acendedor
automático e estoque ilimitado de gás) e a mulher é como um fogão à lenha. O
casal australiano Alan e Bárbara Pease (autores do livro “Porque os homens
fazem sexo e as mulheres fazem amor” – Editora Sextante) afirmam o hipotálamo
(região neurológica ligada ao apetite sexual) do homem chega, em alguns casos,
a ser dez vezes mais desenvolvido que o da mulher.
Esta
diferença de facilidade ou prontidão em se desfrutar a plenitude do momento de
intimidade física do casal, que é o orgasmo, é um problema antigo, que começou
lá no jardim do Éden:
“E à mulher disse: Multiplicarei
sobremodo os sofrimentos da tua gravidez; em meio de dores darás à luz filhos;
o teu desejo será para o teu marido, e ele te governará.” (Gênesis 3.16)
Depois do
pecado, da queda do homem, algumas consequências vieram em juízos liberados por
Deus. Entre eles, o Senhor afirma que agora a mulher teria seu sofrimento
aumentado na gravidez e na hora de dar à luz seus filhos; mas o Criador também
afirmou: “seu desejo será para teu marido, e ele te governará”. De que tipo de
desejo você acha que Deus está falando aqui? De acordo com a Concordância de
Strong, a palavra hebraica traduzida neste versículo como “desejo”, é “t
̂eshuwqah”, que significa: “desejo, anseio, avidez (de homem por mulher; de
mulher por homem; de animal selvagem para devorar)”. Não estamos falando de
nenhum outro tipo de desejo, senão do sexual. Mas Deus declarou à mulher: “seu
desejo será para teu marido, e ele te governará”.
De que
governo está sendo falado aqui? Lembre-se que esta é uma palavra de
maldição, de juízo, onde as coisas ficaram piores do que deveriam; e não
podemos ignorar o fato de que o Senhor já havia criado o homem primeiro para
governar e ser o cabeça do lar. Logo, esta expressão “ele te governará” (gosto
da versão que diz “dominará”) não se refere ao governo do lar, mas significa
que o desejo da mulher dependeria do homem para ser ou não satisfeito.
Penso que
foi neste momento que esta diferença de apetite (e prontidão) sexual ficou
estabelecida. Deus estava dizendo à mulher que, na questão do seu desejo
sexual, a decisão dela desfrutar isto ou não dependeria da escolha, da decisão
do seu marido. Ao longo da existência humana, muitos maridos (senão à maioria)
negaram – às vezes até por ignorância – o prazer às suas esposas.
Os
maridos devem saber trabalhar esta questão. Muitas vezes não semeiam nada
durante todo o dia e depois querem a colheita antes de irem dormir. Aprendi
quando ainda recém-casado que o casamento é algo parecido com um banco; para
“sacar” você primeiro tem que “depositar”. Paparicar sua esposa com elogios,
atenção, palavras carinhosas, gentilezas (que é a forma das mulheres de
receberem amor) poderá ajudá-lo muito a conquistar a inspiração de sua esposa
para um excelente momento de sexo (que é a forma do homem de receber amor).
Lembre-se que antes do clímax, vem o clima!
O HOMEM DEVE SER O PROVEDOR DE SUA ESPOSA
Outro
dever importante dos maridos está relacionado ao quesito provisão. O homem deve
ser o provedor das necessidades da mulher (e de toda a sua casa):
“Assim também os maridos devem amar a
sua mulher como ao próprio corpo. Quem ama a esposa a si mesmo se ama. Porque
ninguém jamais odiou a própria carne; antes, a alimenta e dela cuida, como
também Cristo o faz com a igreja; porque somos membros do seu corpo”. (Efésios
5.28-30)
Ao falar
de alimentar e cuidar da esposa, o apóstolo Paulo não está falando que o homem
tenha que cozinhar ou dar a comida na boca de sua esposa. Fala do seu papel de
trazer ao lar a provisão como uma expressão de seu cuidado por ela.
A mulher,
quando ainda solteira, tinha na pessoa de seu pai, o provedor. No entanto,
quando um casal contrai a aliança nupcial, estão (os dois) deixando pai e mãe
para unir-se e tornarem-se uma só carne (Gn 2.24). Salvo raríssimas exceções,
em situações realmente imprevistas e temporárias, nenhum casal deveria depender
financeiramente dos pais. É necessário que haja autonomia!
O cordão
umbilical deve ser cortado na questão material e financeira (além da questão do
governo do lar). Portanto, mesmo antes de casar-se, o homem já deve ser
responsável e ter condições de oferecer suprimento ao lar. Veja o que o livro
dos conselhos da sabedoria – Provérbios – diz acerca disto (em duas diferentes
versões):
“Cuida dos teus negócios lá fora,
apronta a lavoura no campo e, depois, edifica a tua casa”. (Provérbios 24.27)
“Não construa a sua casa, nem forme o
seu lar até que as suas plantações estejam prontas e você esteja certo de que
pode ganhar a vida”. (Provérbios 24.27 – NTLH)
A omissão
(deliberada) do cuidado natural de provisão para com a família é um pecado
muito grave:
“Ora, se alguém não tem cuidado dos seus
e especialmente dos da própria casa, tem negado a fé e é pior do que o
descrente”. (1 Timóteo 5.8)
Quando
Paulo fala de cuidado, o contexto é justamente o cuidado material. Qualquer
pessoa tem obrigação de cuidado para com seus familiares, mas a posição do
homem como provedor o coloca numa condição de maior responsabilidade. Isto não
quer dizer que ele tenha a obrigação de atender todos os caprichos da esposa ou
dos filhos, nem que tenha que ser rico, mas suprir o essencial.
Há muitas
situações em que a mulher também trabalha fora e coopera com a sustento. Não
creio que isto seja errado desde que o cuidado e criação dos filhos não seja
comprometido (o que, infelizmente, não tem acontecido com muitos casais que
trabalham fora). Também não vejo problema no fato da esposa, que também
trabalha fora, ganhar mais que o marido pois, se por um lado ele tem a
responsabilidade de suprir a casa, por outro lado nada o impede de ser ajudado.
Errado é trocar papéis – coisa que está acontecendo cada vez mais ultimamente –
e o homem ficar em casa enquanto a mulher traz o sustento. Embora eu acredite
que se é correto a mulher ajudar o marido a trazer o sustento do lar, também é
correto que o marido a ajude com os filhos e as tarefas da casa. Porém, um
acordo de cooperação mútua não deve levar o casal a trocar suas
responsabilidades e deveres.
O HOMEM DEVE SER O PROTETOR DE SUA ESPOSA
Mencionei
antes que, quando Deus criou o homem e o estabeleceu no Éden, deu-lhe duas
funções: lavrar e guardar o jardim.
“Tomou, pois, o Senhor Deus o homem, e o
pôs no jardim do Édem para o lavrar e guardar.” (Gênesis 2.15)
Portanto,
concluímos que, mesmo antes de criar a mulher e instituir a família, o Criador
definiu o papel do homem como provedor do lar (quem lavra o jardim para dele
extrair o sustento) e protetor de sua família (quem guarda de qualquer ameaça o
jardim).
Agora
vamos pensar em que tipo de proteção o Senhor tinha em mente quando deu esta
ordem a Adão. Quem mais havia no jardim? Ninguém! Nem mesmo Eva ainda havia
sido criada e o homem está literalmente sozinho no Éden. É evidente, portanto,
que Adão deveria proteger sua esposa do ataque maligno de Satanás (chamado
pelas Escrituras de a “antiga serpente” – Ap 12.9).
Quando se
fala de proteção, muitos machões pensam só no aspecto físico desta
responsabilidade e já se imaginam dando uma surra em quem “mexer” com sua
mulher. Mas o dever do marido de proteger sua esposa (e filhos) começa pela
responsabilidade de exercer devidamente seu papel de governo espiritual e
estender cobertura de oração pela sua casa. Também envolve o papel de ensinar
sua casa a andar na Palavra de Deus e, assim, protegê-los da influência do
mundo e do pecado (Dt 6.7 e 1 Co 14.35). Além da proteção espiritual, penso que
o homem ainda deva proteger sua esposa no âmbito emocional, sem excluir a proteção
física. Agrada-me a ideia de ser o guarda-costas de minha esposa e estar
disposto até mesmo a “levar bala por ela”.
Se temos
que amar a esposa como Cristo amou a Igreja (Ef 5.25), cuidar da esposa como
Cristo cuida da Igreja (Ef 5.29), então a lógica me leva a concluir que não há
como ignorar o fato de que, se Jesus protege a Sua Igreja (Mt 16.18), devemos
proteger nossas esposas!
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Autor: Luciano P. Subirá. É o responsável pelo
Orvalho.Com – um ministério de ensino bíblico ao Corpo de Cristo. Também é
pastor da Comunidade Alcance em Curitiba/PR. Casado com Kelly, é pai de dois
filhos: Israel e Lissa.