quarta-feira, 11 de novembro de 2020

EXPIAÇÃO E ARREPENDIMENTO.

 


0 LIVRO DOS ESPÍRITOS. PARTE QUARTA. ESPERANÇAS E CONSOLAÇÕES. CAPÍTULO II. PENALIDADES E PRAZERES TERRENOS. EXPIAÇÃO E ARREPENDIMENTO.

 

O arrependimento se verifica no estado espiritual, mas pode também verificar-se no estado corpóreo, quando bem compreendermos a distinção entre o bem e o mal.

A consequência do arrependimento no seu estado espiritual vem se o desejo for uma nova encarnação para se purificar. O Espírito compreende as imperfeições que o impedem de ser feliz e aspira a uma nova existência, onde possa expiar as suas faltas.

A consequência do arrependimento no estado corpóreo é adiantar-se ainda na vida presente, se houver tempo para reparação das faltas. Quando a consciência reprova e mostra uma imperfeição, sempre se pode melhorar.

Há seres humanos que só possuem o instinto do mal, sendo inacessíveis ao arrependimento.

Mas devem progredir sem cessar. Aquele que nesta vida só possui o instinto do mal, numa outra terá o do bem, e é para isso que renasce muitas vezes, pois é necessário que todos avancem e atinjam o alvo, uns com mais rapidez, e outros de maneira mais demorada, segundo os seus desejos. Aquele que só tem o instinto do bem já está purificado, porque pode ter tido o do mal numa existência anterior.

O ser humano perverso, que durante a vida não reconheceu suas faltas, sempre as reconhecerá depois da morte. Sempre as reconhece e então sofre mais porque sente todo o mal que praticou ou do qual foi à causa voluntária. Entretanto, o arrependimento nem sempre é imediato. Há Espíritos que se obstinam no mau caminho apesar dos sofrimentos, mas, cedo ou tarde, reconhecerão haver tomado uma senda falsa e o arrependimento se manifestará. É para esclarecê-los que os bons Espíritos trabalham e que eles mesmos podem trabalhar.

Há Espíritos que sem serem maus, sejam indiferentes à própria sorte. São os que não se ocupam de nada útil: estão na expectativa.

Mas sofrem de acordo com a situação, e como em tudo deve haver progresso, este se manifesta pela dor.

Têm eles o desejo de abreviar seus sofrimentos, mas não dispõem de bastante energia para querer o que os poderia aliviar. Quantas pessoas entre nós preferem morrer na miséria a trabalhar.

Tem Espíritos que veem o mal que resulta de suas imperfeições, e alguns agravam a sua posição e prolongam o seu estado de inferioridade praticando o mal como Espírito e desviam os seres do bom caminho.

São os de arrependimento tardio que agem assim. O Espírito que se arrepende pode se deixar novamente arrastar ao caminho do mal por outros Espíritos ainda mais atrasados.

Tem Espíritos de notória interioridade que são acessíveis aos bons sentimentos e às preces feitas em seu lavor. E tem outros  Espíritos, que nos pareceriam mais esclarecidos, revelam um endurecimento e um cinismo a toda prova.

A explicação é que a prece só tem efeito em favor do Espírito que se arrepende. Aquele que, impulsionado pelo orgulho, se revolta contra Deus e persiste nos seus erros, exagerando-os ainda, como o fazem infelizes Espíritos, nada pode receber da prece e nada receberá até o dia em que uma luz de arrependimento o esclareça.

Comentário de Kardec:  Não se deve esquecer que após a morte do corpo físico, o Espírito não é subitamente transformado. Se sua vida foi repreensível é que ele era imperfeito. Ora, a morte não o torna imediatamente perfeito. Ele pode persistir nos seus erros, nas suas falsas opiniões, em seus preconceitos até que seja esclarecido pelo estudo pela reflexão e pelo sofrimento.

A expiação se realiza no estado corpóreo, através das provas a que o Espírito é submetido, e na vida espiritual, pelos sofrimentos morais decorrentes do seu estado de inferioridade.

Quanto ao arrependimento sincero durante a vida se é suficiente para extinguir as faltas e fazer que se mereça a graça de Deus. Podemos dizer que o arrependimento auxilia a melhora do Espírito, mas o passado deve ser expiado.

Se um criminoso dissesse que, tendo de expiar o passado, não precisa se arrepender, as consequências para ele seriam:

Se teimar no pensamento do mal, sua expiação será mais longa e  mais penosa.

Podemos, desde esta vida, resgatar as nossas faltas reparando-as. Mas não julguemos resgatá-las por algumas privações pueris ou por meio de doações de após a morte, quando de nada mais necessitamos. Deus não considera um arrependimento estéril, sempre fácil e que só custa o trabalho de bater no peito. A perda de um dedo, quando se presta um serviço, apaga maior número de faltas do que o cilício suportado durante anos, sem outro objetivo que o bem de si mesmo. O mal não é reparado senão pelo bem, e a reparação não tem mérito algum se não atingir o ser humano no seu orgulho ou nos interesses materiais. De que lhe serve restituir após a morte, como justificativa, os bens mal adquiridos, que foram desfrutados em vida e já não lhe servem para nada. De que lhe serve a privação de alguns gozos fúteis e de algumas superfluidades, se o mal que fez a outrem continua o mesmo. De que lhe serve, enfim, humilhar-se diante de Deus, se conserva o seu orgulho diante dos seres humanos.

Não há nenhum mérito em se assegurar, após a morte, um emprego útil para os bens que deixamos.

Nenhum mérito não é bem o termo: isso vale sempre mais do que nada; mas o mal é que aquele que dá ao morrer geralmente é mais egoísta do que generoso; quer ter as honras do bem sem lhe haver provado as penas. Aquele que se priva em vida tem duplo proveito: o mérito do sacrifício e o prazer de ver felizes os que beneficiou. Mas há sempre o egoísmo a dizer ao ser humano: O que dás tiras dos teus próprios gozos. E como o egoísmo fala mais alto que o desinteresse e a caridade, ele guarda em vez de dar, sob o pretexto das suas necessidades e das exigências da sua posição. Ah! Lastimai aquele que desconhece o prazer de dar, porque foi realmente deserdado de um dos mais puros e suaves gozos do ser. Deus, submetendo-o à prova da fortuna, tão escorregadia e perigosa para o seu futuro, quis dar-lhe em compensação à ventura da generosidade, de que ele pode gozar neste mundo.

Aquele que em artigo de morte reconhece as suas faltas, mas não tem tempo para repará-las, o arrependimento apressa a sua reabilitação, mas não o absolve. Tem ele o futuro pela frente, que jamais se lhe fecha.

BIBLIOGRAFIA: O LIVRO DOS ESPÍRITOS.

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