O LIVRO DOS
ESPÍRITOS. PARTE PRIMEIRA. AS CAUSAS PRIMÁRIAS.
CAPÍTULO II.
ELEMENTOS GERAIS DO UNIVERSO. ESPÍRITO E MATÉRIA.
Só Deus sabe se a matéria
existe desde toda a eternidade, ou foi criada por ele num certo momento.
Há,
entretanto, uma coisa que a nossa razão nos deve indicar: é que Deus,
modelo de amor e de caridade, jamais esteve inativo.
No nosso ponto de vista, definimos geralmente
a matéria como aquilo que tem extensão, podendo impressionar os sentidos e é
impenetrável.
Mas a matéria existe em estados que não percebemos.
Ela pode ser, por exemplo, tão etérea e sutil que não produza nenhuma impressão
nos nossos sentidos: entretanto, será sempre matéria, embora não o seja
para nós.
A definição da matéria é
que ela é o
liame que escraviza o espírito; é o instrumento que ela usa, e sobre o qual, ao
mesmo tempo, exerce a sua ação.
Comentário
de Kardec: De
acordo com isto, pode-se dizer que a matéria é o agente, o intermediário com a ajuda
do qual e sobre o qual o Espírito atua.
O Espírito é o princípio inteligente do universo.
Quanto a sua natureza
íntima não é
fácil analisar na nossa linguagem. Para nós, ele não é nada, porque não é
coisa palpável; mas nenhuma coisa é o nada e o nada não existe.
O Espírito é sinônimo de
inteligência, sendo a inteligência
um atributo essencial do Espírito; mas um e outro se confundem num princípio
comum, de maneira que para nós, são uma e a mesma coisa.
Quanto ao Espírito se é independente da
matéria, ou não é mais do que uma propriedade desta, podemos dizer que são distintos, mas é necessária a união
do Espírito e da matéria para dar inteligência a esta.
Esta união é igualmente
necessária para a manifestação do Espírito para nós por que não estamos organizados para perceber o
Espírito sem a matéria; Nossos sentidos não foram feitos para isso.
Podemos conhecer o Espírito
sem a matéria e a matéria sem este, pelo pensamento.
Assim existem dois
elementos gerais do Universo: a matéria e o Espírito e acima de ambos, Deus, o criador, o
pai de todas as coisas. Essas três coisas são o princípio de tudo o que
existe, a trindade universal. Mas ao elemento material é necessário
ajuntar o fluido universal, que exerce o papel de intermediário entre o Espírito
e a matéria propriamente dita, demasiada grosseira para que o Espírito possa
exercer alguma ação sobre-ela, embora, de certo ponto de vista, se pudesse
considerá-lo como elemento material, ele se distingue por propriedades
especiais. Se fosse simplesmente matéria não haveria razão para que o Espírito
não o fosse também. Ele esta colocado entre o Espírito e a matéria; é
fluido, como a matéria e matéria; suscetível em suas inumeráveis
combinações com esta, e sob a ação do Espírito de produzir infinita
variedade de coisas, das quais não conhecemos mais do que uma ínfima
parte. Esse fluido universal, ou primitivo, ou elementar, sendo o agente de que
o Espírito se serve, é o princípio sem o qual a matéria permaneceria em
perpétuo estado de dispersão, e não adquiriria jamais as propriedades que
a gravidade lhe dá.
Podemos considerar esse
fluido como designamos por eletricidade, porque ele é suscetível de inumeráveis
combinações. O que chamamos fluido elétrico, fluido magnético, são modificações
do fluido universal, que é, propriamente falando, uma matéria mais
perfeita, mais sutil, que se pode considerar como independente.
Sendo o espírito em si
mesmo alguma coisa, não seria mais exato e menos sujeito a confusões, designarmos
esses dois elementos gerais pelas expressões: matéria inerte e matéria
inteligente podemos dizer:
Que as palavras pouco nos importam. Cabe a nós
formular a nossa linguagem, de maneira a nos entendermos. Nossas disputas provêm,
quase sempre, de não nos entendermos sobre as palavras. Porque a nossa
linguagem é incompleta para as cosias que não nos tocam os sentidos.
Comentário de Kardec: Um fato patente domina todas as
hipóteses: vemos matéria sem inteligência e um princípio inteligente
independente da matéria. A origem e a conexão dessas duas coisas nos são
desconhecidas. Que elas tenham ou não uma fonte comum e os pontos de contato
necessários; que a inteligência tenha existência própria, ou que seja uma
propriedade, um efeito; que seja mesmo, segundo a opinião de alguns, uma
emanação da Divindade, — é o que ignoramos. Elas nos aparecem distintas, e é
por isso que a consideramos formando dois princípios constituintes do Universo.
Vemos acima de tudo isso, uma inteligência que domina todas as outras, que as
governa, que delas se distingue por atributos essenciais: é a esta inteligência
suprema que chamamos Deus.
BIBLIOGRAFIA: O
LIVRO DOS ESPÍRITOS.
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