O LIVRO DOS ESPÍRITOS. CAPÍTULO XI. LEI DE JUSTIÇA, AMOR E CARIDADE.
CARIDADE E AMOR AO PRÓXIMO.
O verdadeiro sentido da palavra caridade como
a entendia Jesus, chama-se benevolência para com todos, indulgência para as
imperfeições alheias, perdão das ofensas.
Comentário de Kardec: O amor e a caridade são
o complemento da lei de justiça, porque amar ao próximo é fazer-lhe todo o bem
possível, que desejaríamos que nos fosse feito. Tal é o sentido das palavras de
Jesus: “Amai-vos uns aos outros, como irmãos”.
A
caridade, segundo Jesus, não se restringe à esmola, mas abrange todas as
relações com os nossos semelhantes, quer se trate de nossos inferiores, iguais
ou superiores. Ela nos manda ser indulgentes, porque temos necessidade de
indulgência, e nos proíbe humilhar o infortúnio, ao contrário do que comumente
se pratica. Se um rico nos procura, atendemo-lo com excesso de consideração e
atenção, mas se é um pobre, parece que não nos devemos incomodar com ele.
Quanto mais, entretanto, sua posição é lastimável, mais devemos temer
aumentar-lhe a desgraça pela humilhação. O ser humano verdadeiramente bom
procura elevar o inferior aos seus próprios olhos, diminuindo a distância entre
ambos.
Jesus ensinou
ainda: “Amai aos vossos inimigos”. Ora, um amor pelos nossos inimigos não é
contrário às nossas tendências naturais, e a inimizade não provém de uma falta
de simpatia entre os Espíritos. Realmente não se pode ter, para com os inimigos, um amor
terno e apaixonado. E não foi isso que ele quis dizer. Amar aos inimigos é
perdoá-los e pagar-lhes o mal com o bem. É assim que nos tornamos
superiores; pela vingança nos colocamos abaixo deles.
O ser
humano reduzido a pedir esmolas se degrada moral e fisicamente: se
embrutece. Numa sociedade baseada na lei de Deus e na justiça,
deve-se prover a vida do fraco, sem humilhação para ele. Deve-se
assegurar a existência dos que não podem trabalhar sem deixá-los à
mercê do acaso e da boa vontade.
Não devemos condenar a esmola, pois não é a esmola que é
censurável, mas quase sempre a maneira por que ela é dada. O ser humano de
bem, que compreende a caridade segundo Jesus, vai ao encontro do
desgraçado sem esperar que ele lhe estenda a mão.
A verdadeira
caridade é sempre boa e benevolente; tanto está no ato quanto na maneira
de fazê-la. Um serviço prestado com delicadeza tem duplo valor; se o for
com altivez, a necessidade pode fazê-lo aceito, mas o coração mal
será tocado.
Lembrai-vos
ainda de que a ostentação apaga aos olhos de Deus o mérito do benefício.
Jesus disse: “Que a vossa mão esquerda ignore o que faz a direita”. Com
isso, ele vos ensina a não manchar a caridade pelo orgulho.
É
necessário distinguir a esmola propriamente dita da beneficência. O mais
necessitado nem sempre é o que pede: o temor da humilhação retém
o verdadeiro pobre, que quase sempre sofre sem se queixar. É a esse
que o ser humano verdadeiramente humano sabe assistir sem ostentação.
Amai-vos
uns aos outros, eis toda lei, divina lei pela qual Deus governa os mundos.
O amor é a lei de atração para os seres vivos e organizados, e a atração é
a lei de amor para a matéria inorgânica.
Não
olvideis jamais que o Espírito, qualquer que seja o seu grau de adiantamento,
sua situação como reencarnado ou na erraticidade, este
sempre colocado entre um superior que o guia e aperfeiçoa e um inferior
perante o qual tem deveres iguais a cumprir. Sede, portanto, caridosos,
não somente dessa caridade que vos leva a tirar do bolso o óbolo que
friamente atirais ao que ousa pedir-vos, mas ide ao encontro das misérias
ocultas. Sedes indulgentes para com os erros dos vossos semelhantes. Em
lugar de desprezar a ignorância e o vício, instruí-os e moralizai-os. Sedes
afáveis e benevolentes para com todos os que vos suo inferiores; sede-o
mesmo para com os mais ínfimos seres da Criação, e tereis obedecido à lei de
Deus.
Não há
seres humanos reduzidos à mendicidade por sua própria culpa. Mas se uma boa educação moral
lhes tivesse ensinado a lei de Deus, não teriam caído nos excessos que os
levaram à perda. E é disso, sobretudo, que depende o melhoramento do nosso
globo.
BIBLIOGRAFIA:
O LIVRO DOS ESPÍRITOS.
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