O
LIVRO DOS ESPÍRITOS. CAPITULO X. LEI DE LIBERDADE.
FATALIDADE
Fatalidade nos
acontecimentos da vida, segundo o sentimento ligado a essa palavra só existe no tocante à escolha feita
pelo Espírito ao reencarnar, de sofrer esta ou aquela prova; ao escolhê-la ele
traça para si mesmo uma espécie de destino, que é a própria consequência da
posição em que se encontra. São as provas de natureza física, porque, no
tocante às provas morais e às tentações, o Espírito, conservando o seu
livre-arbítrio sobre o bem e o mal, é sempre senhor de ceder ou resistir.
Um bom Espírito, ao vê-lo fraquejar, pode correr em seu auxílio, mas não pode
influir sobre ele a ponto de subjugar-lhe a vontade. Um Espírito mau, ou seja
inferior, ao lhe mostrar ou exagerar um perigo físico, pode abalá-lo e
assustá-lo, mas a vontade do Espírito encarnado não fica por isso menos
livre de qualquer entrave.
Existem pessoas que
parecem perseguidas por uma fatalidade, independentemente de sua maneira de
agir, são,
talvez, provas que devem sofrer e que elas mesmas escolheram. O destino que é
quase sempre a consequência da própria falta. Em meio dos males que possam
os afligir, devem cuidar que a consciência esteja pura e assim sentirão meio
consolados.
Comentário
de Kardec: As
ideias justas ou falsas que fazemos das coisas nos fazem vencer ou fracassar,
segundo o nosso caráter e a nossa posição social. Achamos mais simples e menos
humilhante para o nosso amor-próprio atribuir os nossos fracassos à sorte ou ao
destino, do que a nós mesmos. Se a influência dos Espíritos contribui algumas
vezes para isso, podemos sempre nos subtrair a ela, repelindo as ideias más que
forem sugeridas.
Tem pessoas que escapam
de um perigo mortal e cai em outro, e tem seres que acham ser uma fatalidade,
mas fatal mesmo é não poder escapar à morte. Fatal, no verdadeiro sentido da palavra, só no
instante da morte. Chegando esse momento, de uma forma ou de outra, a ela
não podem se furtar.
Se a hora da morte não chegar ninguém morre antes
do tempo. Mas chegando a hora de
partir, nada os livrará. Deus sabe com antecedência qual o gênero de morte
por que partirão daqui, e frequentemente tem Espírito que também o sabem,
pois isso lhe foi revelado quando fez a escolha desta ou daquela existência.
Da infalibilidade da hora
da morte as precauções que se tomam para evitá-la são inúteis porque, as precauções são sugeridas
com o fim de evitar uma morte que os ameaça; são um dos meios para que ela não
se verifique.
A finalidade da
Providência ao fazer o ser humano correr perigos que não devem ter consequências,
é quando a vida da pessoa se encontra
em perigo, é essa uma advertência que ela mesma desejou, a fim de te desviar do
mal e te tornar melhor. Quando escapa a esse perigo, ainda sob a influência do
risco por que passam pensam com maior ou menor intensidade, sob a ação mais ou
menos forte dos bons Espíritos, em os tornar melhor. O mau Espírito retornando
(digo mau, subentendendo o mal que ainda nele existe), pensa que escapará da
mesma maneira a outros perigos e deixam que as paixões se desencadeiem de novo.
Pelos perigos que correrão. Deus os recorda das suas fraquezas e a fragilidades
da existência deles. Se examinarmos a
causa e a natureza do perigo, veremos que, na maioria das vezes, as consequências
foram à punição de uma falta cometida ou de um dever negligenciado. Deus os
adverte para refletirem sobre eles mesmos a se emendarem.
O Espírito sabe quais as lutas que terá de sustentar
para evitar a morte antecipada, e que, se Deus o permitir, não sucumbirá.
Há seres humanos que
enfrentam os perigos do combate com certa convicção de que há sua hora não
chegou, porque tem o
pressentimento do seu fim, como o pode ter o de que ainda não morrerá.
Esse pressentimento lhe é dado pelos seus Espíritos protelares, que
desejam adverti-lo para que esteja pronto a partir, ou reerguem a sua
coragem nos momentos em que se faz necessário. Também lhe pode vir da
intuição da existência por ele escolhida, ou da missão que aceitou e sabe
que deve cumprir.)
Os que pressentem a morte
geralmente a temem menos do que os outros, por que aquele que a
pressente pensa mais como Espírito do que como ser humano:
compreende a sua libertação e a espera.
A morte não pode ser
evitada quando chega a sua hora, e se o mesmo acontece com todos os acidentes
no curso da vida, é que são em geral
consideradas, coisas demasiado pequenas, das quais podem prevenir
dirigindo o pensamento do ser humano no sentido de evitá-las porque não
gostam do sofrimento material. Mas isso é de pouca importância para o
curso da vida que escolheram. A fatalidade, na verdade, só consiste nestas duas
horas: a em que devem aparecer e desaparecer deste mundo.
Há fatos que devem
ocorrer forçosamente e que a vontade dos Espíritos não pode conjurar, dado que quando em Espírito, viram e pressentiram ao fazer a sua escolha. Mas que
não devem acreditar que tudo o que acontece esteja escrito como se diz. Um
acontecimento é quase sempre a consequência de uma coisa que fizeram por
um ato de sua livre vontade, de tal maneira que se não tivessem praticado
aquele ato, o acontecimento não se verificaria. Somente as grandes dores, os
acontecimentos importantes e capazes de influir na evolução moral são
previstos por Deus, porque são úteis à purificação e à instrução.
Pode o ser humano, por
sua vontade e pelos seus atos, evitar acontecimentos que deviam realizar-se e vice-versa,
desde que esse desvio aparente possa
caber na ordem geral da vida que ele escolheu. Além disso, para fazer o
bem, como é do seu dever e único objetivo da vida, ele pode impedir o mal,
sobretudo aquele que possa contribuir para um mal ainda maior.
O ser humano que
comete um assassinato, não sabe ao escolher a sua existência, que se tornará
assassino. Sabe
apenas que, ao escolher uma vida de lutas, terá a probabilidade de matar
um de seus semelhantes, mas ignora se o fará ou não, porque estará quase
sempre nele tomar a deliberação de cometer o crime. Ora, aquele que
delibera sobre alguma coisa é sempre livre de fazê-la ou não. Se o Espírito
soubesse com antecedência que, como ser humano, devia cometer um
assassínio, estaria predestinado a isso. Não há ninguém predestinado ao
crime e que todo crime, como todo e qualquer ato, é sempre o resultado da
vontade e do livre-arbítrio. Sempre são confundidos duas coisas bastante
distintas, os acontecimentos materiais da existência e os atos da vida
moral. Quanto aos atos da vida moral, emanam sempre do próprio ser humano,
que tem sempre, por conseguinte, a liberdade de escolha: para os seus atos
não existe jamais a fatalidade.
As pessoas que nunca
conseguem êxito na vida e que um mau gênio parece perseguir, em todos os seus
empreendimentos, pode sim ser fatalidade
se assim o quiserem, mas decorrente da escolha do gênero de existência,
porque essas pessoas quiseram ser experimentadas por uma vida de
decepções, a fim de exercitarem a sua paciência e a sua resignação. Não
creiamos, entretanto, que seja isso o que fatalmente acontece; muitas
vezes é apenas o resultado de haverem elas tomado um caminho errado, que
não está de acordo com a sua inteligência e as suas aptidões. Aquele
que quer atravessar um rio a nado, sem saber nadar, tem grande probabilidade de
morrer afogado. Assim acontece na maioria das ocorrências da vida. Se o ser
humano não empreendesse mais do que aquilo que está de acordo com as suas
faculdades, triunfaria quase sempre; o que o perde é o seu amor-próprio e
a sua ambição, que o desviam do caminho para tomar por vocação o
simples desejo de satisfazer certas paixões. Então fracassa e a culpa é
sua; mas, em vez de reconhecer o erro, prefere acusar a sua estrela. Há o
que teria sido um bom operário, ganhando honradamente a vida, mas se fez mau
poeta e morre de fome. Haveria lugar para todos, se cada um soubesse
ocupar seu lugar.
Os costumes sociais
que obrigam muitas vezes o ser humano a seguir um caminho errado, e se Isso a
que chamamos respeito humano não é um obstáculo ao exercício do livre-arbítrio,
devemos entender que são
os seres humanos que fazem os costumes sociais e não Deus; se a eles se
submetem, é que lhes convêm. Isso também é um ato de livre-arbítrio,
pois se quisessem poderiam rejeitá-los. Então, por que se lamentam. São os costumes sociais que eles
devem acusar, mas o seu tolo amor-próprio, que os leva a preferir morrer de
fome a infringi-los. Ninguém lhes pede conta desse sacrifício feito
à opinião geral, enquanto Deus lhes pedirá conta do sacrifício feito à
própria vaidade. Isso não quer dizer que se deva afrontar a opinião sem
necessidade, como certas pessoas que têm mais de originalidade que de verdadeira
filosofia. Tanto é desarrazoado exibir-se como um animal curioso, quanto é
sensato descer voluntariamente e sem reclamações, se não se pode permanecer no
alto da escada.
Há pessoas para as quais
a sorte é contrária, outras parecem favorecidas por ela, em geral, porque sabem orientar-se
melhor. Mas isso pode ser também, um gênero de prova: o sucesso as
embriaga, elas se fiam no seu destino, e frequentemente vão pagar mais
tarde esse sucesso com reveses cruéis, que poderiam ter evitado com um
pouco de prudência.
A explicação sobre a
sorte que favorece certas pessoas em circunstâncias que não dependem da vontade
nem da inteligência, como no jogo, é que certos Espíritos escolheram antecipadamente determinadas
espécies de prazer, e a sorte que os favorece é uma tentação. Aquele que
ganha como ser humano perde como Espírito: é uma prova para o seu orgulho e a
sua cupidez.
A fatalidade que parece
presidir aos destinos do ser humano na vida material se seria também
resultado livre-arbítrio, é que cada um escolheu a sua prova aqui; quanto mais rude ela for, se
melhor a suportarem, mais se elevam. Os que passam a vida na abundância e
no bem-estar são Espíritos covardes que permanecem estacionários. Assim, o
número dos infortunados ultrapassa de muito o dos felizes do mundo, visto
que os Espíritos procuram, na sua maioria, as provas que lhes sejam mais
frutuosas. Eles veem muito bem a futilidade de vossas grandezas e dos
vossos prazeres. Aliás, a vida mais feliz é sempre agitada, sempre
perturbada: não seria assim tão somente pela ausência da dor.
Trata-se de uma velha
supertição a frase nascido sob uma boa estrela, segundo a qual as estrelas estariam ligadas
ao destino de cada ser humano; alegoria que certas pessoas fazem a tolice
de tomar ao pé da letra.
Temos nesta resposta, de maneira clara e precisa
uma exposição sucinta do que podemos chamar a dinâmica espírita do
aperfeiçoamento humano. Através das quedas e advertências, dos riscos e do auxílio
dos bons Espíritos, o ser humano de boa vontade irá vencendo os seus maus
pendores e se preparando, já nesta existência, para uma vida melhor no futuro.
Longe de nos desanimar, nossas quedas devem ser transformadas em degraus da
escada do nosso melhoramento espiritual. Como se vê, a “auto-salvação” de que
alguns religiosos nos acusam não e mais do que o desenvolvimento da vontade e
da razão da criatura, sob a dispensação da graça de Deus, através de seus
mensageiros, os bons Espíritos.
BIBLIOGRAFIA: O LIVRO DOS ESPÍRITOS
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