CAPÍTULO XXIII. MORAL ESTRANHA.
ABANDONAR PAI, MÃE E FILHOS.
Pois é São Mateus no capítulo XIX, versículo 29,
divulga as palavras de Jesus dizendo: E
todo o que deixar, por amor do meu nome, a casa, ou os irmãos, ou as irmãs, ou
o pai, ou a mãe, ou a mulher, ou os filhos, ou as fazendas, receberá cento por
um, e possuirá a vida eterna.
Já no capítulo XVIII, versículos 28 a 30, São
Lucas, afirma que Pedro diante das palavras de Jesus lhe respondeu: Eis aqui
estamos nós, que deixamos tudo e te seguimos. E Jesus em resposta a Pedro
acabou lhe dizendo: Em verdade vos digo que ninguém há que uma vez que deixou
pelo Reino de Deus a casa, ou os pais, ou os irmãos, ou a mulher, ou os filhos,
logo neste mundo não receba muito mais, e no século futuro a vida eterna.
E
no capítulo IX, versículos 61 e 62, São Lucas também deixou dito que o outro
disse: Eu, Senhor, seguir-te-ei, mas dá-me licença que eu vá primeiro dispor
dos bens que tenho em minha casa. E respondeu-lhe Jesus: Nenhum que mete a sua
mão ao arado, e olha para trás, é apto para o Reino de Deus.
Pois
é, procurando interpretar as palavras de Jesus, chega-se a seguinte conclusão: Sem
discutir as palavras, devemos procurar compreender o pensamento, que era
evidentemente este: Os interesses da vida futura estão acima de todos
os interesses e todas as considerações de ordem humana, porque isto
concorda com a essência da doutrina de Jesus, enquanto a idéia do abandono da
família seria a sua negação.
E
então se pergunta se não temos, aliás, sob os nossos olhos, a aplicação dessas
máximas no sacrifício dos interesses e das afeições da família pela pátria? Pois
é, condena-se um filho que deixa o pai, a mãe, os irmãos, a mulher e os
próprios filhos, para marchar em defesa do seu país? Não lhe reconhecemos, pelo
contrário, o mérito de deixar as doçuras do lar e o calor das amizades, para
cumprir um dever? Há, pois, deveres que se sobrepõem a outros. A lei não
sanciona a obrigação, para a filha de deixar os pais e seguir o esposo? O mundo
está cheio de casos em que as mais penosas separações são necessárias. Mas nem
por isso as afeições se rompem. O afastamento não diminui o respeito ou a
solicitude que se devem aos pais, nem a ternura para com os filhos. Vê-se,
assim, que mesmo tomada ao pé da letra, salvo a palavra odiar,
essas expressões não seriam a negação do mandamento que prescreve honrar ao pai
e à mãe, nem do sentimento de ternura paterna. Com mais forte razão, se as
analisarmos quanto ao seu espírito.
A
finalidade dessas expressões é mostrar, por uma figura, uma hipérbole, quanto é
imperioso o dever de cuidar da vida futura. Deviam, por isso mesmo, ser menos
chocantes para um povo e uma época em que, por força das circunstâncias, os
laços de família eram menos fortes do que numa civilização moralmente mais
avançada. Esses laços, mais fracos entre os povos primitivos, fortificam-se com
o desenvolvimento da sensibilidade e do senso moral. Aliás, a separação, em si
mesma, é necessária ao progresso, e isso tanto no tocante às famílias, quanto
às raças. Umas e outras se abastardam se não houver cruzamentos, se não se
misturarem entre si. É uma lei da natureza, que tanto interessa ao progresso
moral quanto ao progresso material.
Encaramos as coisas, na terra, apenas
do ponto de vista terreno. O Espiritismo no-las apresenta de mais alto,
mostrando-nos que os verdadeiros laços de afeição são os do Espírito e não os
do corpo; que esses laços não se rompem, nem pela separação, nem mesmo pela
morte do corpo; e que eles se fortificam na vida espiritual, pela depuração do
Espírito: consoladora verdade, que nos dá uma grande força para suportar as
vicissitudes da vida.
Bibliografia: O Evangelho Segundo o Espiritismo.
Mensagem divulgada pelo Médium Getulio Pacheco Quadrado.
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