domingo, 15 de novembro de 2020

PARÁBOLA DA FESTA DE NÚPCIAS.

 


CAPÍTULO XVIII. MUITOS OS CHAMADOS E POUCOS OS ESCOLHIDOS.

PARÁBOLA DA FESTA DE NÚPCIAS.

 

Falando ainda por parábolas que era o seu jeito disse Jesus: O Reino dos Céus é semelhante a um rei, que desejando comemorar as bodas a seu filho, mandou os seus servos a chamar os convidados para as bodas, mas eles recusaram ir alegando certos compromissos. E então enviou de novo outros servos, com este recado aos convidados: Preparei o meu jantar, mandei matar os meus touros e os animais cevados, e tudo está pronto; vinde às bodas. Mas eles desprezaram o convite, e se foram, um para a sua casa de campo, outro para o seu tráfico. Outros, porém, lançaram mão dos servos que ele enviara, e os mataram depois de muitos ultrajes. E o rei, tendo ouvido isto, se irou; e enviou seus exércitos, acabarem com aqueles homicidas, e pôs fogo à sua cidade. Então disse  aos seus servos: As bodas, com efeito, estão preparadas, mas os que foram convidados não foram dignos de se acharem no banquete. Ide, pois às saídas das ruas, e a quanta acharem, convidai-os para as bodas. Os servos então saíram pelas ruas, e trouxeram todos os que acharam, maus e bons; e a sala então ficou cheia de convidados que se puseram a mesa. Logo depois o rei para ver os que estavam à Mesa, viu que ali havia um homem que não estava vestido com veste nupcial, e disse-lhe: Amigo, como entraste aqui, não tendo veste nupcial? E o homem emudeceu. E então disse o rei a sua gente: Atai os seus de pés e as mãos e lançai-o nas trevas exteriores: e aí que haverá prantos e ranger de dentes. Porque são muitos os chamados e poucos os escolhidos.

Diante disso o incrédulo ri desta parábola, que lhe pareceu de uma pueril ingenuidade, por não compreender do porque tanta dificuldade para realização de um banquete, e ainda mais quando os convidados chegam a ponto de resistir, e serem massacrados. “As parábolas diz ele, o incrédulo, são, sem dúvida, imagens, mas mesmo assim, mister se torna que não ultrapassem os limites do possível”.

O mesmo se pode dizer de todas as alegorias, das fábulas mais engenhosas, se não lhes descobrimos o sentido oculto. Jesus compunha as suas com os hábitos mais vulgares da vida e as adaptava aos costumes e ao caráter do povo a quem falava.

A maioria delas tinha por fim fazer penetrar nas massas populares a ideia da vida espiritual; e seu sentido só parece incompreensível para os que não se colocam nesse ponto de vista.

Nesta parábola, por exemplo, Jesus compara o Reino dos Céus, onde tudo é felicidade e alegria, a uma festa nupcial. Os primeiros convidados são os Hebreus, que Deus havia chamado em primeiro lugar para o conhecimento da sua lei. Os enviados do rei são os profetas, que os vinham exortar a seguirem a trilha da verdadeira felicidade; mas cujas palavras foram pouco escutadas; cujas advertências foram desprezadas, e muitos deles foram mesmo massacrados, como os servos da parábola. Os convidados que deixaram de comparecer, alegando que tinham de cuidar de seus campos e de seus negócios, representam as pessoas mundanas, que, absorvidas pelas coisas terrenas, mostram-se indiferentes para as coisas celestes.

Isso era a crença comum dos judeus de então que a sua nação devia conquistar a supremacia sobre todas as outras. Pois não havia Deus prometido a Abraão que a sua posterioridade cobriria a Terra inteira? Tomando sempre a forma pelo fundo, eles se julgavam destinados a uma dominação efetiva, no plano material.

Antes da vinda do Cristo, com exceção dos hebreus, todos os povos eram politeístas e idólatras. Se alguns homens superiores haviam atingido a ideia da unidade divina, essa, entretanto permanecia como sistema pessoal, pois em nenhuma parte foi aceita como verdade fundamental, a não ser por alguns iniciados, que ocultavam os seus conhecimentos sob formas misteriosas, impenetráveis à compreensão do povo. Os Hebreus foram os primeiros que praticaram publicamente o monoteísmo. Foi a eles que Deus transmitiu a sua lei; primeiro através de Moisés, depois através de Jesus. Desse pequeno foco partiu a luz que devia expandir-se pelo mundo inteiro, triunfar do paganismo e dar a Abraão uma posterioridade espiritual “tão numerosa como as estrelas do firmamento”.

Entretanto os judeus, embora repelindo a idolatria, haviam negligenciado a lei moral, para se dedicar à prática mais fácil do culto exterior. O mal chegara ao cúmulo: a nação, dominada pelas facções e divididas pelas seitas; a própria incredulidade havia atingido até mesmo o santuário. Foi então que Jesus apareceu enviado para chamá-los à observação da lei, e para abrir-lhes os novos horizontes da vida futura. Os primeiros convidados ao banquete da fé universal, eles repeliram, as palavras do celeste Messias, e o sacrificaram. Foi assim que perderam o fruto que deviam colher da sua própria iniciativa.

Fora, contudo, injusto acusar o povo inteiro por essa situação. A responsabilidade coube principalmente aos fariseus e aos saduceus, que puseram a nação a perder, os primeiros pelo seu orgulho e fanatismo, e os segundos pela sua incredulidade. São eles, sobretudo, que Jesus compara aos convidados que se negaram a comparecer ao banquete de núpcias, e acrescenta que o rei, vendo isso, mandou convidar a todos os que fossem encontrados nas ruas, bons e maus. Fazia entender assim que a palavra seria pregada a todos os outros povos, pagãos e idólatras, e que estes, aceitando-a, seriam admitidos à festa de núpcias em lugar dos primeiros convidados.

Mas não basta ser convidado; não basta dizer-se cristão, nem tampouco sentar-se à mesa para participar do banquete celeste. É necessário, antes de tudo, e como condição expressa, vestir a túnica nupcial, ou seja, purificar o coração e praticar a lei segundo o espírito, pois essa lei se encontra inteira nestas palavras: Fora da caridade não há salvação. Mas entre todos os que ouvem a palavra divina, quão poucos são os que guardam e a aproveitam! Quão poucos se tornam dignos de entrar no Reino dos Céus! Foi por isso que Jesus disse: Muitos serão os chamados e poucos os escolhidos.

Bibliografia: O Evangelho Segundo o Espiritismo. Mensagem lida e divulgada pelo Médium Getulio Pacheco Quadrado.

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