CAPÍTULO XVIII. MUITOS OS
CHAMADOS E POUCOS OS ESCOLHIDOS.
PARÁBOLA DA FESTA DE NÚPCIAS.
Falando ainda por parábolas que era o
seu jeito disse Jesus: O Reino dos Céus é semelhante a um rei, que desejando
comemorar as bodas a seu filho, mandou os seus servos a chamar os convidados
para as bodas, mas eles recusaram ir alegando certos compromissos. E então enviou
de novo outros servos, com este recado aos convidados: Preparei o meu jantar,
mandei matar os meus touros e os animais cevados, e tudo está pronto; vinde às
bodas. Mas eles desprezaram o convite, e se foram, um para a sua casa de
campo, outro para o seu tráfico. Outros, porém, lançaram mão dos servos
que ele enviara, e os mataram depois de muitos ultrajes. E o rei, tendo ouvido
isto, se irou; e enviou seus exércitos, acabarem com aqueles homicidas, e pôs
fogo à sua cidade. Então disse aos seus servos: As bodas, com
efeito, estão preparadas, mas os que foram convidados não foram dignos de se
acharem no banquete. Ide, pois às saídas das ruas, e a quanta acharem,
convidai-os para as bodas. Os servos então saíram pelas ruas, e trouxeram todos
os que acharam, maus e bons; e a sala então ficou cheia de convidados que se
puseram a mesa. Logo depois o rei para ver os que estavam à Mesa, viu que ali
havia um homem que não estava vestido com veste nupcial, e disse-lhe: Amigo,
como entraste aqui, não tendo veste nupcial? E o homem emudeceu. E então disse
o rei a sua gente: Atai os seus de pés e as mãos e lançai-o nas trevas
exteriores: e aí que haverá prantos e ranger de dentes. Porque são muitos os
chamados e poucos os escolhidos.
Diante
disso o incrédulo ri desta parábola, que lhe
pareceu de uma pueril ingenuidade, por não compreender do porque tanta
dificuldade para realização de um banquete, e ainda mais quando os convidados
chegam a ponto de resistir, e serem massacrados. “As parábolas diz ele, o
incrédulo, são, sem dúvida, imagens, mas mesmo assim, mister se torna que não
ultrapassem os limites do possível”.
O mesmo se pode dizer de todas as
alegorias, das fábulas mais engenhosas, se não lhes descobrimos o sentido
oculto. Jesus compunha as suas com os hábitos mais vulgares da vida e as
adaptava aos costumes e ao caráter do povo a quem falava.
A maioria delas tinha por fim fazer
penetrar nas massas populares a ideia da vida espiritual; e seu sentido só
parece incompreensível para os que não se colocam nesse ponto de vista.
Nesta parábola, por exemplo, Jesus
compara o Reino dos Céus, onde tudo é felicidade e alegria, a uma festa
nupcial. Os primeiros convidados são os Hebreus, que Deus havia chamado em
primeiro lugar para o conhecimento da sua lei. Os enviados do rei são os
profetas, que os vinham exortar a seguirem a trilha da verdadeira felicidade;
mas cujas palavras foram pouco escutadas; cujas advertências foram desprezadas,
e muitos deles foram mesmo massacrados, como os servos da parábola. Os
convidados que deixaram de comparecer, alegando que tinham de cuidar de seus
campos e de seus negócios, representam as pessoas mundanas, que, absorvidas
pelas coisas terrenas, mostram-se indiferentes para as coisas celestes.
Isso era a crença comum dos judeus de
então que a sua nação devia conquistar a supremacia sobre todas as outras. Pois
não havia Deus prometido a Abraão que a sua posterioridade cobriria a Terra
inteira? Tomando sempre a forma pelo fundo, eles se julgavam destinados a uma
dominação efetiva, no plano material.
Antes da vinda do Cristo, com exceção
dos hebreus, todos os povos eram politeístas e idólatras. Se alguns homens
superiores haviam atingido a ideia da unidade divina, essa, entretanto
permanecia como sistema pessoal, pois em nenhuma parte foi aceita como verdade
fundamental, a não ser por alguns iniciados, que ocultavam os seus
conhecimentos sob formas misteriosas, impenetráveis à compreensão do povo. Os
Hebreus foram os primeiros que praticaram publicamente o monoteísmo. Foi a eles
que Deus transmitiu a sua lei; primeiro através de Moisés, depois através de
Jesus. Desse pequeno foco partiu a luz que devia expandir-se pelo mundo
inteiro, triunfar do paganismo e dar a Abraão uma posterioridade
espiritual “tão numerosa como as estrelas do firmamento”.
Entretanto os judeus, embora
repelindo a idolatria, haviam negligenciado a lei moral, para se dedicar à
prática mais fácil do culto exterior. O mal chegara ao cúmulo: a nação, dominada
pelas facções e divididas pelas seitas; a própria incredulidade havia atingido
até mesmo o santuário. Foi então que Jesus apareceu enviado para chamá-los à
observação da lei, e para abrir-lhes os novos horizontes da vida futura. Os primeiros
convidados ao banquete da fé universal, eles repeliram, as palavras do celeste
Messias, e o sacrificaram. Foi assim que perderam o fruto que deviam colher da
sua própria iniciativa.
Fora, contudo, injusto acusar o povo
inteiro por essa situação. A responsabilidade coube principalmente aos fariseus
e aos saduceus, que puseram a nação a perder, os primeiros pelo seu orgulho e
fanatismo, e os segundos pela sua incredulidade. São eles, sobretudo, que Jesus
compara aos convidados que se negaram a comparecer ao banquete de núpcias, e
acrescenta que o rei, vendo isso, mandou convidar a todos os que fossem
encontrados nas ruas, bons e maus. Fazia entender assim que a palavra seria
pregada a todos os outros povos, pagãos e idólatras, e que estes, aceitando-a, seriam
admitidos à festa de núpcias em lugar dos primeiros convidados.
Mas não basta ser convidado; não
basta dizer-se cristão, nem tampouco sentar-se à mesa para participar do
banquete celeste. É necessário, antes de tudo, e como condição expressa, vestir
a túnica nupcial, ou seja, purificar o coração e praticar a lei segundo o
espírito, pois essa lei se encontra inteira nestas palavras: Fora da
caridade não há salvação. Mas entre todos os que ouvem a palavra
divina, quão poucos são os que guardam e a aproveitam! Quão poucos se tornam
dignos de entrar no Reino dos Céus! Foi por isso que Jesus disse: Muitos
serão os chamados e poucos os escolhidos.
Bibliografia: O Evangelho Segundo o Espiritismo.
Mensagem lida e divulgada pelo Médium Getulio Pacheco Quadrado.
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