O LIVRO DOS ESPÍRITOS.
CAPÍTULO VIII. LEI DO PROGRESSO. MARCHA
DO PROGRESSO.
O ser
humano não tira de si mesmo a energia progressiva, e nem do resultado de
um ensinamento, e sim se desenvolve por si mesmo, naturalmente, mas nem todos progridem ao
mesmo tempo e da mesma maneira; os mais adiantados ajudam os outros a progredir.
O progresso moral segue sempre o progresso
intelectual, mas não o segue sempre imediatamente.
O progresso
intelectual pode conduzir ao progresso moral, dando-lhe a compreensão do
bem e do mal, pois então o ser humano pode escolher. O desenvolvimento do
livre-arbítrio segue-se ao desenvolvimento da inteligência e aumenta a
responsabilidade do ser humano pelos seus atos.
A
explicação de como os povos mais esclarecidos sejam frequentemente os mais
pervertidos, é que o progresso completo é o alvo a atingir, mas os povos, como os
indivíduos, não chegam a ele senão passo a passo. Até que tenham desenvolvido o
senso moral, eles podem servir-se da inteligência para fazer o mal. A
moral e a inteligência são duas forças que não se equilibram senão com o tempo.
Não é permitido
ao ser humano deter a marcha do progresso, mas pode entravá-la algumas vezes.
Existem seres humanos que entravam o
progresso de boa fé, acreditando favorecê-lo, porque o veem segundo o seu ponto
de vista, e frequentemente onde ele não existe. Mas é uma pequena pedra posta sob a roda de um grande carro
sem impedi-lo de avançar.
O
aperfeiçoamento da Humanidade segue sempre uma marcha progressiva e lenta,
porém
há o progresso regular e lento
que resulta da força das coisas; mas quando um povo não avança bastante rápido,
Deus lhe provoca, de tempos em tempos, um abalo físico ou moral que o transforma.
Comentário de Kardec: Sendo o progresso uma condição da natureza
humana, ninguém tem o poder de se opor a ele. É uma força viva que as más leis
podem retardar, mas não asfixiar. Quando essas leis se tornam de todo
incompatíveis com o progresso, ele as derruba, com todos os que as querem manter,
e assim será até que o ser humano harmonize as suas leis com a justiça
divina, que deseja o bem para todos, e não as leis feitas para o forte em
prejuízo do fraco.
O ser humano não
pode permanecer perpetuamente na ignorância, porque deve chegar ao fim
determinado pela Providência; ele se esclarece pela própria força das
circunstâncias. As revoluções morais, como as revoluções sociais, se infiltram
pouco a pouco nas ideias, germinam ao longo dos séculos e depois explodem
subitamente, fazendo ruir o edifício carcomido do passado, que não se encontra
mais de acordo com as necessidades novas e as novas aspirações.
O ser humano
geralmente não percebe, nessas comoções, mais do que a desordem e a confusão
momentâneas, que o atingem nos seus interesses materiais, mas aquele que eleva
o seu pensamento acima dos interesses pessoais admira os desígnios da
Providência que do mal fazem surgir o bem. São a tempestade e o furacão que
saneiam a atmosfera, depois de a haverem revolvido.
Não é verdade que a perversidade do ser humano
é bastante intensa, e não aprece que ele está recuando, em lugar de avançar,
pelo menos do ponto de vista moral. Deve-se observar
bem o conjunto e ver que ele avança, pois vai
compreendendo melhor o que é o mal, e dia a dia corrige os seus abusos. É
preciso que haja excesso do mal, para fazer-lhe compreender as necessidades do
bem e das reformas.
O maior
obstáculo do progresso vem a ser o orgulho e o egoísmo, isto se falando em ao
progresso moral, porque o intelectual avança sempre. Este aprece, aliás, à
primeira vista, duplicar a intensidade daqueles vícios desenvolvendo a ambição
e o amor das riquezas, que por sua vez incitam o ser humano às pesquisas que
lhe esclarecem o Espírito. É assim que tudo se relaciona no mundo moral como no
físico e que do próprio mal pode sair o bem. Mas esse estado de coisas durará
apenas algum tempo; modificar-se-á à medida que o ser humano compreender melhor
que, além do gozo dos bens terrenos, existe uma felicidade infinitamente maior
e infinitamente mais durável.
Comentário
de Kardec: Há duas espécies de progresso que mutuamente se apoiam e,
entretanto, não marcham juntas: progresso intelectual e o progresso moral.
Entre os povos civilizados, o primeiro recebe em nosso século todos os
estímulos desejáveis e por isso atingiu um grau até hoje desconhecido. Seria
necessário que o segundo estivesse no mesmo nível. Não obstante, se compararmos
os costumes sociais de alguns séculos atrás com os de hoje, teremos de ser
cegos para negar que houve progresso moral. Por que, pois, a marcha ascendente
da moral deveria mostrar-se mais lenta que a da inteligência? Por que não
haveria, entre o século décimo nono e o vigésimo quarto, tanta diferença nesse
terreno como entre o décimo quarto e o décimo nono? Duvidar disso seria
pretender que a Humanidade tivesse atingido o apogeu da perfeição, o que é
absurdo, ou que ela não é moralmente perfectível, o a experiência desmente.
Como se vê, por este comentário de
Kardec e pelas explicações dos Espíritos a que ele se refere, o Espiritismo
reconhece a necessidade desses movimentos periódicos da agitação natural, quer
dos elementos, quer dos povos, para a realização do progresso. Mas os admite
como fatos naturais e não como criações artificiais a que os seres humanos
devam dedicar-se, em obediência a doutrinas revolucionárias. O que
ele ensina é que o ser humano deve colocar-se, nesses momentos, acima de seus
mesquinhos interesses pessoais, para ver em sua amplitude a marcha irresistível
do progresso, auxiliando-a na medida do possível.
BIBLIOGRAFIA: O LIVRO DOS ESPÍRITOS.
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