O LIVRO DOS ESPÍRITOS.CAPÍTULO II. PARTE TERCEIRA.
POLITEÍSMO
O
Politeísmo mesmo sendo uma das crenças mais antigas e mais espalhadas, e
falsa, por que:
Porque a ideia de um Deus único só
podia aparecer como resultado do desenvolvimento mental do ser humano. Incapaz
na sua ignorância, de conceber um ser imaterial sem forma determinada
agindo sobre a matéria, ele lhe havia dado os atributos da natureza
corpórea, ou seja: uma forma e uma figura, e desde então tudo o que lhe parecia
ultrapassar as proporções da inteligência comum tornava-se para ele uma
divindade. Tudo quanto não compreendia devia ser obra de um poder
sobrenatural, e disso a acreditar em tantas potências distintas quantos os
efeitos pudesse ver não ia mais do que um passo. Mas em todos os tempos
houve seres esclarecidos que compreenderam a impossibilidade dessa
multidão de poderes para governar o mundo sem uma direção superior, e se
elevaram ao pensamento de um Deus único.
Os
fenômenos espíritas produzidos a tempos atrás, e conhecidos desde as primeiras
eras do mundo, contribuíram para a crença da pluralidade dos deuses, porque para os seres
humanos que chamavam deus a tudo o que era sobre-humano, os
Espíritos pareciam deuses. E também por isso quando um ser humano se
distinguia dentre os demais pelas suas ações, pelo seu gênio ou por um
poder oculto que o vulgo não podia compreender, faziam dele um deus e lhe
rendiam culto após a morte.
Comentário de Kardec: A palavra deus tinha
entre os antigos uma acepção muito extensa; não era, como em nossos dias, uma
designação do Senhor da Natureza, mas uma qualificação genérica de todos os
seres não pertencentes às condições humanas. Ora, tendo as manifestações
espíritas lhes revelado a existência de seres incorpóreos que agem como forças
da Natureza, eles os chamaram deuses, como nós os
chamamos Espíritos. Uma simples questão de palavras. Com a diferença
de que, em sua ignorância entretida deliberadamente pelos que tinham interesse
em mantê-la, elevaram templos e altares lucrativos a esses seres, enquanto para
nós eles não passam de criaturas nossas semelhantes mais ou menos
perfeitas, despojadas de seu envoltório terreno. Se estudarmos com atenção os
diversos atributos das divindades pagas, reconheceremos sem dificuldade todos
os que caracterizam os nossos Espíritos, em todos os graus da escala espírita,
seu estado físico nos mundos superiores, todas as propriedades do períspirito e
o papel que exercem no tocante às coisas terrenas.
O
Cristianismo vindo aclarar o mundo com a sua luz divina, não podia destruir uma
coisa que está na própria Natureza, mas fez que a adoração se voltasse
para aquele a que realmente pertence. Quanto aos Espíritos, sua lembrança
se perpetuou sob diversos nomes segundo os povos, e suas manifestações, que
jamais cessaram, foram diversamente interpretadas e frequentemente exploradas
sob o domínio do mistério. Enquanto a religião as considerava como
fenômenos miraculosos, os incrédulos as tomara por charlatanice. Hoje, graças a
estudos mais sérios, feitos a plena luz o Espiritismo, liberto das ideias
supersticiosas que o obscureceram através dos séculos, nos revela um dos
maiores e mais sublimes princípios da Natureza.
Bibliografia: O Livro dos Espíritos.
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