O LIVRO DOS ESPÍRITOS.
CAPÍTULO V. LEI DE CONSERVAÇÃO. PRIVAÇÕES VOLUNTÁRIAS. MORTIFICAÇÕES.
A lei de
conservação obriga-nos a prover as necessidades do corpo físico, pois sem a energia
e a saúde o trabalho é impossível.
O ser
humano é censurável por procurar o bem-estar, o qual é um desejo
natural. Deus só proíbe o abuso, por ser contrário à conservação, e não
considera um crime a procura do bem-estar, se este não for conquistado às
expensas de alguém e se não enfraquecer as vossas forças morais nem as
vossas forças físicas.
As
privações voluntárias, com vistas a uma expiação igualmente voluntária, têm
algum mérito aos olhos de Deus, praticando o bem aos outros e será considerado
como maior mérito.
Existem
privações voluntárias que sejam meritórias. A dos prazeres inúteis, porque
liberta o ser humano da matéria e eleva sua alma. O meritório é se
resistir à tentação que nos convida aos excessos e ao gozo das coisas
inúteis; é retirar do necessário para dar aos que o não têm. Mas se a
privação nada mais for que um fingimento, será apenas considerado uma
irrisão.
A vida de
mortificações no ascetismo tem sido praticada desde toda a Antiguidade e nos
diferentes povos; e ela é meritória sob algum ponto de vista.
Se servir senão ao que a pratica
e o impede de fazer o bem, é considerado egoísta, qualquer que seja o
pretexto sob o qual se disfarce. Submeter-se a privações no trabalho pelos
outros é a verdadeira caridade cristã.
A abstenção
de certos alimentos prescrita entre diversos povos, funda-se na razão, onde tudo aquilo de que
o ser humano se possa alimentar, sem prejuízo para a sua saúde, é
permitido. Mas os legisladores puderam interditar alguns alimentos com uma
finalidade útil. E para dar maior crédito às suas leis apresentaram-nas
como provindas de Deus.
A alimentação
animal para o ser humano na nossa constituição física, a carne nutre a carne, pois do
contrário o ser perece. A lei de conservação impõe ao ser o dever de
conservar as suas energias e a sua saúde para poder cumprir a lei do trabalho.
Devendo alimentar-se, portanto, segundo o exige a sua organização.
A abstenção
de alimentos animais ou outros como expiação é meritória se o ser se privar
em favor dos outros, pois Deus não pode ver mortificação quando não há
privação séria e útil. Eis porque os Espíritos Bons dizem,
que os que só se privam em aparência são hipócritas.
As mutilações
praticadas no corpo do ser humano ou dos animais poderia ser considerado útil
se fosse para agradar a Deus. Pois o que é inútil não pode ser agradável
a Ele, e o que é prejudicial lhe é sempre desagradável. Porque, Deus só é
sensível aos sentimentos que elevam a alma para Ele, e são praticando as
suas leis, em vez de violá-las, que poderemos sacudir o jugo de nossa
matéria terrena.
Os únicos sofrimentos que elevam a
Deus são os naturais, porque vêm Dele. Os sofrimentos voluntários não servem
para nada, quando nada valem para o bem de outros. O que agrada a Deus são os que visitam o
indigente, e o consolam, o que chora e trabalha pelo que está enfermo, e
sofrem privações para o alívio dos infelizes e então sua vida será útil e sempre
agradável a Deus. Já nos sofrimentos voluntários a que se sujeita o ser
humano, não tem em vista senão a si mesmo, pode ser julgado tratar-se de
egoísmo; quando alguém sofre pelos outros, pratica a caridade; são esses
os preceitos do Cristo.
Se não
devemos criar para nós sofrimentos voluntários que não são de nenhuma
utilidade para os outros, devemos, no entanto, preservar-nos dos que prevemos
ou dos que nos ameaçam. Pois o instinto de conservação foi dado a todos os
seres contra os perigos e os sofrimentos. Fustiguemos o nosso Espírito e
não o nosso corpo, mortifiquemos o nosso orgulho, sufoquemos o nosso
egoísmo que se assemelha a uma serpente a nos devorar o coração e faremos
mais pelo nosso adiantamento do que por meio de rigores que não mais
pertencem a este século.
BIBLIOGRAFIA: O LIVRO DOS ESPÍRITOS.
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