segunda-feira, 19 de outubro de 2020

TRANSMISSÃO OCULTA DO PENSAMENTO.

 


O LIVRO DOS ESPÍRITOS. CAPÍTULO VIII. DA EMANCIPAÇÃO DA ALMA.

TRANSMISSÃO OCULTA DO PENSAMENTO.

Através do acima, a mesma ideia, a de uma descoberta, por exemplo, pode surgir em diversos lugares ao mesmo tempo durante o sono, por que os Espíritos se comunicam entre si. Pois bem, quando o corpo desperta, o Espírito se recorda do que aprendeu e o ser humano acredita ser o autor da invenção. Assim, muitos podem descobrir a mesma coisa ao mesmo tempo. Quando dizemos: uma ideia está no ar, usamos através de uma figura de linguagem mais justa do que acreditamos; cada um, sem saber, contribui para propagá-la.

 Nosso próprio Espírito revela, assim, muitas vezes a outros Espíritos e sem nosso conhecimento, o que se faz objeto de nossas preocupações quando acordados.

Os Espíritos podem se comunicar mesmo que o corpo esteja completamente acordado, porque o Espírito não está fechado no corpo como numa caixa; ele irradia por todos os lados. Eis por que pode se comunicar com outros Espíritos, até mesmo acordados, embora o faça mais dificilmente.

Duas pessoas perfeitamente acordadas têm muitas vezes, instantaneamente, a mesma ideia, porque são dois Espíritos simpáticos que se comunicam e veem reciprocamente seus respectivos pensamentos. Até mesmo quando o corpo não dorme.

 Existe, entre os Espíritos que se encontram, uma comunicação de pensamentos que faz com que duas pessoas se vejam e se compreendam, sem ter necessidade dos sinais exteriores da linguagem. Pode-se dizer que falam a linguagem dos Espíritos.

LETARGIA, CATALEPSIA, MORTES APARENTES:

Os letárgicos e os catalépticos veem e ouvem geralmente pelo Espírito; o Espírito tem conhecimento dos fatos, mas não pode se comunicar.

Não podem se comunicar porque o estado do corpo se opõe a isso; esse estado peculiar dos órgãos vos dá a prova de que existe no ser humano outra coisa além do corpo, uma vez que o corpo não funciona mais, mas o Espírito ainda age.

Na letargia, o corpo não está morto, uma vez que há funções vitais que permanecem. A vitalidade se encontra em estado latente, como na crisálida, mas não está aniquilada. Portanto, o Espírito está unido ao corpo enquanto este vive. Mas quando os laços são rompidos pela morte real há a desagregação dos órgãos, a separação é completa e o Espírito não retorna mais. Quando um ser humano aparentemente morto retorna à vida, é que o processo da morte não estava consumado.

Pode-se, por meio de cuidados dados a tempo, reatar os laços prestes a se romper e tornar à vida um ser que, por falta de socorro, estaria definitivamente morto. Para provar isso temos a prova disso todos os dias. O magnetismo é frequentemente, nesse caso, um poderoso meio, porque restitui ao corpo o fluido vital que lhe falta e que era insuficiente para manter o funcionamento dos órgãos.

 A letargia e a catalepsia têm o mesmo princípio, que é a perda momentânea da sensibilidade e do movimento por uma causa fisiológica. Diferem em que, na letargia, a suspensão das forças vitais é geral e dá ao corpo todas as aparências da morte.

Na catalepsia, é localizada e pode afetar uma parte mais ou menos extensa do corpo, de maneira a deixar a inteligência livre para se manifestar, o que não permite confundi-la com a morte. A letargia é sempre natural; a catalepsia é algumas vezes espontânea, mas pode ser provocada ou desfeita artificialmente pela ação magnética.

SONAMBULISMO

Já no sonambulismo natural tem relação com os sonhos, porque o Espírito sente uma situação de independência mais completa do que no sonho. É explicado porque então suas faculdades abrangem maior amplidão e passa a ter percepções que não tem no sonho, que é um estado de sonambulismo imperfeito. No sonambulismo, o Espírito atinge a plena posse de si, é inteiramente ele mesmo; os órgãos materiais, estando de alguma forma em catalepsia, não recebem mais as impressões exteriores. Esse estado se manifesta principalmente durante o sono. É o momento em que o Espírito pode deixar provisoriamente o corpo, estando este entregue ao indispensável repouso da matéria. Quando os fatos do sonambulismo se produzem, é que o Espírito, preocupado com uma coisa ou outra, se entrega a uma ação qualquer que necessita da utilização de seu corpo, do qual se serve, então, de uma maneira semelhante ao que se faz com uma mesa ou com qualquer outro material no fenômeno das manifestações físicas, ou até mesmo de vossa mão, no caso das comunicações escritas. Nos sonhos de que se tem consciência, os órgãos, incluindo o da memória, começam a despertar e recebem imperfeitamente as impressões produzidas pelos objetos ou as causas exteriores e as comunicam ao Espírito, que, em repouso, não se apercebe a não ser de sensações confusas e frequentemente sem nexo e sem nenhuma razão de ser aparente, misturadas que estão com vagas lembranças, seja desta ou de existências anteriores. Fica então fácil compreender por que os sonâmbulos, enquanto no estado sonambúlico, não têm nenhuma lembrança do que ocorreu, e por que os sonhos, dos quais se conserva a memória, não têm muitas vezes o menor sentido. Digo muitas vezes porque pode acontecer que sejam a consequência de uma lembrança precisa de acontecimentos de uma vida anterior e, algumas vezes, até mesmo uma espécie de intuição do futuro.

O sonambulismo chamado magnético tem relação com o sonambulismo natural; a diferença é que ele é provocado.

A natureza do agente chamado fluido magnético, vem a ser modificação do fluido universal. É Fluido vital, eletricidade animalizada.

A causa da clarividência sonambúlica, vem a ser a alma que vê.

O sonâmbulo não pode ver através de corpos opacos, porque não há corpos desta natureza, a não ser para nossos órgãos grosseiros; já foi dito que, para o Espírito, a matéria não é obstáculo, uma vez que ele a atravessa livremente. Frequentemente, o sonâmbulo diz que vê pela fronte, pelo joelho, etc., porque nós, inteiramente presos à matéria, não compreendemos que se possa ver sem o auxílio dos órgãos da visão. Ele mesmo, pelo desejo que temos, em acreditar termos a necessidade desses órgãos, mas se o deixássemos livre compreenderíamos que vemos por todas as partes de nosso corpo ou, melhor dizendo, vemos de fora de nosso corpo.

Mesmo que clarividência do sonâmbulo possa pertencer a sua alma ou ao seu Espírito, ele não consegue ver tudo e se engana frequentemente, é porque não é dado aos Espíritos imperfeitos tudo ver e conhecer; pois devemos saber que eles ainda participam de nossos erros e preconceitos. Além disso, quando estão ligados à matéria, não usufruem de todos os dons ou faculdades do Espírito. Deus deu ao ser humano a faculdade do sonambulismo com um objetivo útil e sério, e não para o que não deve saber; eis por que os sonâmbulos não podem dizer tudo.

As ideias inatas do sonâmbulo e de como ele pode falar com exatidão de coisas que ignora quando acordado, é porque o sonâmbulo possui mais conhecimentos do que supomos; e apenas se acham adormecidos, porque seu corpo é um entrave para que possa se lembrar das coisas. Ele é como nós, um Espírito encarnado na matéria para cumprir sua missão e o estado em que entra o desperta dessa letargia. Já nos foi dito repetidamente, que vivemos muitas vezes; é essa mudança que faz o sonâmbulo e qualquer outro Espírito perder materialmente o que pôde aprender em uma existência anterior. Ao entrar no estado que chamamos de transe, ele se recorda, mas nem sempre de uma maneira completa; sabe, mas não poderia dizer de onde lhe vem o que sabe nem como possui esses conhecimentos. Passado o transe, toda lembrança se apaga e ele volta à obscuridade.

 A experiência mostra que os sonâmbulos também recebem comunicações de outros Espíritos que lhes transmitem o que devem dizer e suprem sua insuficiência. Isso se vê especialmente nas prescrições médicas Espíritas: o Espírito do sonâmbulo vê o mal, e um outro lhe indica o remédio.

A visão à distância em alguns sonâmbulos, é explicada, que assim como a alma se transporta durante o sono, o mesmo pode acontecer no sonambulismo.

O desenvolvimento maior ou menor da clarividência sonambúlica prende-se à organização física e à natureza do Espírito encarnado.

Existem disposições físicas que permitem ao Espírito se desprender mais ou menos da matéria.

As faculdades, os dons dos quais desfruta o sonâmbulo, são até certo ponto as mesmas que o Espírito tem após a morte. Justifica-se porque é preciso levar em conta a influência da matéria à qual ainda está ligado.

A maioria dos sonâmbulos podem ver os outros Espíritos. Porém isso depende do grau e da natureza de sua lucidez, mas algumas vezes não se dá conta disso de início e os toma por seres corpóreos. Isso acontece principalmente com aqueles que não possuem nenhum conhecimento do Espiritismo. Ainda não compreendem a essência dos Espíritos. Isso os espanta e eis por que acreditam estar vendo pessoas vivas.

 O mesmo efeito se produz no momento da morte naqueles que acreditam ainda estarem vivos. Nada a seu redor parece mudado, os Espíritos lhe parecem ter corpo semelhante ao nosso e tomam a aparência do próprio corpo como um corpo real.

O sonâmbulo vê à distância por que é a alma que vê e não o corpo.

Uma vez que é a alma que se transporta, pode o sonâmbulo experimentar em seu corpo as sensações de calor e frio do lugar onde se encontra sua alma, e que está, muitas vezes, bem longe de seu corpo, é porque a alma não deixou inteiramente o corpo; está sempre ligada a ele por um laço que é o condutor das sensações. Quando duas pessoas se correspondem de uma cidade a outra por meio da eletricidade, é a eletricidade o laço entre seus pensamentos. Por esse laço se comunicam como se estivessem ao lado uma da outra.

Dependendo do bom ou mau uso que um sonâmbulo faça de sua faculdade, pode influir sobre o estado de seu Espírito após sua morte.

ÊXTASE.

A diferença existente entre o êxtase e o sonambulismo, é que o êxtase é um sonambulismo mais purificado; já a alma do extático é ainda mais independente.

O Espírito do extático penetra nos mundos superiores, e ele os vê e compreende a felicidade daqueles que os habitam. Deseja, por isso, lá permanecer. Mas existem mundos inacessíveis aos Espíritos que não são suficientemente depurados.

Dependendo do estado de pureza, o extático exprime o desejo de deixar a Terra, e fala sinceramente e não sente atuar nele o instinto de conservação, por que: por que ele vê sua posição futura melhor do que sua vida presente, faz esforços para romper os laços que o prendem à Terra.

Se o extático ficasse abandonado a si mesmo, sua alma poderia deixar seu corpo, e morrer. Por isso é preciso fazê-lo voltar apelando para tudo o que pode prendê-lo à vida na Terra e, principalmente, fazendo-o compreender que, se romper a cadeia que o retém aqui, será a maneira certa de não permanecer onde ele vê que seria feliz.

Existem coisas que o extático pretende ver e que são fruto de uma imaginação impressionada pelas crenças e preconceitos terrenos. Pois o que ele vê é real para ele, mas como seu Espírito está sempre sob a influência das ideias terrenas pode vê-lo à sua maneira ou, melhor dizendo, pode se exprimir numa linguagem apropriada a seus preconceitos ou às ideias em que foi educado, ou aos vossos, a fim de melhor se fazer compreender. É, principalmente, nesse sentido que ele pode errar.

Nas revelações dos extáticos, quando a confiança que devemos ter, é que muito frequentemente se engana, principalmente quando pretende penetrar naquilo que deve permanecer em mistério para o homem, porque então revelará suas próprias ideias ou se tornará joguete de Espíritos enganadores que se aproveitam de seu entusiasmo para fasciná-lo.

As consequências que podemos tirar dos fenômenos do sonambulismo e do êxtase, seriam uma espécie de iniciação da vida passada e a vida futura que nós os seres humanos entrevemos. Se estudássemos esses fenômenos, aí encontraríamos a solução de mais de um mistério que a nossa razão procura inutilmente penetrar.

Aquele que estuda de boa-fé e sem prevenções, os fenômenos do sonambulismo e do êxtase, não pode ser nem materialista nem ateu.

DUPLA VISTA.

O fenômeno conhecido como dupla vista ou segunda vista tem relação com o sonho e o sonambulismo, sendo tudo isto a mesma coisa. O que chamamos de dupla vista é ainda o Espírito que está mais livre, embora o corpo não esteja adormecido. A dupla vista é a vista da alma.

A faculdade da dupla vista é permanente, e o exercício, não. Nos mundos menos materiais, os Espíritos se desprendem mais facilmente e se comunicam apenas por meio do pensamento, sem excluir, entretanto, a linguagem articulada. A dupla vista é também, para a maioria dos que lá habitam, uma faculdade permanente. Seu estado normal pode ser comparado ao dos nossos sonâmbulos lúcidos e é também por essa razão que eles se manifestam mais facilmente do que aqueles que estão encarnados nos corpos mais grosseiros.

A dupla vista se desenvolve mais frequentemente pela espontaneidade, e mas muitas vezes a vontade aí exerce um grande papel. Assim, por exemplo, em certas pessoas que se chamam adivinhos, algumas das quais têm essa faculdade, vereis que é exercitando a vontade que chegam a ter dupla vista, o que chamais de visão ou visões.

Há a possibilidade de se desenvolver a dupla vista pelo exercício. O trabalho sempre traz o progresso e faz desaparecer o véu que cobre as coisas.

Essa faculdade tem alguma ligação com a organização física, onde o organismo desempenha aí um papel; existem, porém, organismos que lhe são refratários.

A dupla vista parece ser hereditária em certas famílias, pela semelhança dos organismos que se transmite como as outras qualidades físicas. Além disso, a faculdade se desenvolve por uma espécie de educação que também se transmite de um para outro.

É certo que algumas circunstâncias provocam o desenvolvimento da dupla vista. A doença, a expectativa de um perigo, uma grande comoção podem desenvolvê-la. O corpo está algumas vezes num estado incomum, especial, que permite ao Espírito ver o que não podeis ver com os olhos do corpo.

 Em tempos de crise e de calamidades, as grandes emoções, todas as causas que superexcitam o moral7 provocam, algumas vezes, o desenvolvimento da dupla vista. Parece que a Providência, em presença do perigo, nos dá o meio de afastá-lo. Todas as seitas e facções políticas perseguidas nos oferecem numerosos exemplos disso.

As pessoas dotadas da dupla vista nem sempre têm consciência disso. Para elas é uma coisa totalmente natural, e muitos acreditam que, se todas as pessoas observassem o que se passa consigo mesmas, deveriam ser como eles.

Não Poderíamos atribuir a uma espécie de dupla vista a perspicácia de certas pessoas que, sem nada terem de extraordinário, julgam as coisas com mais precisão do que as outras. Porque é sempre a alma que irradia mais livremente e julga melhor que sob o véu da matéria.

Essa faculdade pode, em certos casos, dar a previsão das coisas, e também os pressentimentos, porque existem vários graus nessa faculdade, e a mesma pessoa pode ter todos os graus ou apenas alguns.

RESUMO TEÓRICO DO SONÂMBULISMO, DO ÊXTASE, E DA DUPLA VISTA:

Os fenômenos do sonambulismo natural se produzem espontaneamente e são independentes de toda causa exterior conhecida. Contudo, o organismo físico de algumas pessoas pode ser especialmente dotado para isso e os fenômenos podem, então, ser provocados artificialmente, por um magnetizador.

O estado designado sob o nome de sonambulismo magnético só difere do sonambulismo natural porque é provocado, enquanto o outro é espontâneo.

O sonambulismo natural é um fato notório que ninguém mais põe em dúvida, apesar do aspecto maravilhoso dos seus fenômenos. O que tem, então, de mais extraordinário ou de mais irracional o sonambulismo magnético? Apenas por ser produzido artificialmente, como tantas outras coisas? Os charlatães, dizem, o têm explorado. Eis uma razão a mais para não o deixar nas mãos deles. Quando a ciência o tomar para si, admitindo-o, o charlatanismo terá bem menos crédito sobre as massas. Contudo, enquanto isso não acontece, o sonambulismo natural ou artificial é um fato, e como contra fatos não há argumentos, se propaga, apesar da má vontade de alguns, e isso até mesmo na ciência, onde penetra por uma infinidade de pequenas portas em vez de ser aceito pela porta da frente. Quando estiver plenamente firmado lá, será preciso conceder-lhe direito de cidadania.

Para o Espiritismo, o sonambulismo é mais que um fenômeno fisiológico, é uma luz lançada sobre a psicologia; é aí que se pode estudar a alma, porque ela se mostra descoberta. Ora, um dos fenômenos pelos quais a alma ou Espírito se caracteriza é a clarividência, independentemente dos órgãos ordinários da vista. Os que contestam esse fato se apoiam no argumento de que o sonâmbulo nem sempre vê como se vê pelos olhos e nem sempre vê conforme a vontade do experimentador. É natural. E devemos nos surpreender que, sendo os meios diferentes, os efeitos não sejam os mesmos? É racional querer efeitos idênticos quando o instrumento não existe mais? A alma tem suas propriedades assim como o olho tem as suas; é preciso julgá-las em si mesmas e não por comparação.

A causa da clarividência tanto no sonambulismo magnético quanto no natural é a mesma: é um atributo da alma, uma faculdade inerente a todas as partes do ser incorpóreo que está em nós e cujos limites são os mesmos da própria alma. O sonâmbulo vê todos os lugares aonde sua alma possa se transportar, seja qual fora distância.

Na visão à distância, o sonâmbulo não vê as coisas do lugar em que está seu corpo e sim como por um efeito telescópico. Ele as vê presentes e como se estivesse no lugar onde elas existem, visto que sua alma lá está em realidade. É por isso que seu corpo fica como se estivesse aniquilado e parece privado de sensações até o momento em que a alma vem retomá-lo.

Essa separação parcial da alma e do corpo é um estado anormal que pode ter uma duração mais ou menos longa, mas não indefinida; é a causa do cansaço que o corpo sente após um certo tempo, principalmente quando a alma se entrega a um trabalho ativo.

O órgão da visão na alma ou Espírito não é circunscrito e não tem um lugar determinado, como no corpo físico, o que explica por que os sonâmbulos não podem lhe assinalar um órgão especial. Eles veem porque veem, sem saber como ou por que, pois para eles, como Espíritos, a vista não tem sede própria. Ao se reportarem ao seu corpo, essa sede lhes parece estar nos centros onde a atividade vital é maior, principalmente no cérebro, na região epigástrica9, ou no órgão que, para eles, é o ponto de ligação mais intenso entre o Espírito e o corpo.

O poder da lucidez sonambúlica não é ilimitado. O Espírito, mesmo completamente liberto do corpo, está limitado em suas faculdades e conhecimentos de acordo com o grau de perfeição que atingiu, e mais ainda por estar ligado à matéria da qual sofre influência. Por causa disso é que a clarividência sonambúlica não é comum, nem infalível. Muito menos se pode contar com sua infalibilidade quanto mais se desviado objetivo proposto pela natureza e quanto mais se faz dela objeto de curiosidade e experimentação.

No estado de desprendimento em que se encontra, o Espírito do sonâmbulo entra em comunicação mais fácil com outros Espíritos encarnados ou não encarnados; essa comunicação se estabelece pelo contato dos fluidos que compõem os períspiritos e servem de transmissão para o pensamento, como o fio na eletricidade.

O sonâmbulo não tem, portanto, necessidade de que o pensamento seja articulado pela fala: ele o sente e adivinha, é o que o torna extremamente impressionável às influências da atmosfera moral em que está. É também por isso que uma assistência numerosa de espectadores, e principalmente de curiosos mal-intencionados, prejudica o desenvolvimento dessas faculdades, que se recolhem, por assim dizer, em si mesmas, e não se desdobram com toda a liberdade como numa reunião íntima e num meio simpático. A presença de pessoas mal-intencionadas ou antipáticas produz sobre o sonâmbulo o efeito do contato da mão sobre a planta sensitiva10.

O sonâmbulo vê às vezes seu próprio Espírito e seu próprio corpo; são, por assim dizer, dois seres que lhe representam a dupla existência, espiritual e corporal, e entretanto se confundem pelos laços que os unem. Nem sempre o sonâmbulo se dá conta dessa situação e essa dualidade faz com que muitas vezes fale de si como se falasse de outra pessoa; é que, às vezes, é o ser corporal que fala ao espiritual e, outras, é o ser espiritual que fala ao corporal.

O Espírito adquire um acréscimo de conhecimento e experiência a cada uma de suas existências corporais. Ele os esquece em parte, durante sua encarnação numa matéria muito grosseira, mas sempre se lembra disso como Espírito.

É por isso que certos sonâmbulos revelam conhecimentos além da instrução que possuem e até mesmo superiores às suas aparentes capacidades intelectuais. A inferioridade intelectual e científica do sonâmbulo quando acordado não interfere, portanto, em nada nos conhecimentos que pode revelar. De acordo com as circunstâncias e o objetivo a que se proponha, pode tirá-las de sua própria experiência, na clarividência das coisas presentes ou do conselho que recebe de outros Espíritos, ou ainda do seu próprio Espírito, que, podendo ser mais ou menos avançado, pode então dizer coisas mais ou menos certas.

Pelos fenômenos do sonambulismo, tanto o natural quanto o magnético, a Providência nos dá a prova irrecusável da existência e independência da alma e nos faz assistir ao espetáculo sublime da liberdade que ela tem; assim, nos abre o livro de nossa destinação. Quando o sonâmbulo descreve o que se passa à distância, é evidente que ele vê, mas não pelos olhos do corpo; vê a si mesmo e sente-se transportado para lá; há, portanto, naquele lugar algo dele, e esse algo, não sendo seu corpo, só pode ser sua alma ou Espírito.

Enquanto o homem se perde nas sutilezas de uma metafísica abstrata e incompreensível para pesquisar as causas de nossa existência moral, Deus coloca diariamente ao alcance de nossos olhos e nossas mãos os meios mais simples e evidentes para o estudo da psicologia experimental.

O êxtase é o estado em que a independência da alma e do corpo se manifesta de maneira mais sensível e torna-se de certo modo palpável.

No sonho e no sonambulismo, a alma percorre os mundos terrestres. No êxtase, penetra num mundo desconhecido, dos Espíritos etéreos, com os quais entra em comunicação, sem, entretanto, ultrapassar certos limites que não teria como transpor sem romper totalmente os laços que a ligam ao corpo. Sente-se num estado resplandecente completamente novo que a circunda, harmonias desconhecidas na Terra a arrebatam, um bem-estar indefinível a envolve. A alma desfruta por antecipação da beatitude celeste e pode-se dizer que põe um pé sobre o limiar da eternidade.

No estado de êxtase o aniquilamento do corpo é quase completo; tem apenas, por assim dizer, a vida orgânica e sente que a alma está a ele ligado apenas por um fio que um pequeno esforço extra faria romper para sempre.

Nesse estado, todos os pensamentos terrestres desaparecem para dar lugar ao sentimento puro, que é a própria essência de nosso ser imaterial. Inteiramente envolto nessa contemplação sublime, o extático encara a vida apenas como uma paragem momentânea. Para ele tanto o bem quanto o mal, as alegrias grosseiras e misérias aqui da Terra são apenas incidentes fúteis de uma viagem cujo término que avista o deixa feliz.

Os extáticos são como os sonâmbulos: sua lucidez pode ser mais ou menos perfeita e seu próprio Espírito, conforme for mais ou menos elevado, estará também igualmente apto a conhecer e compreender as coisas. Há neles, algumas vezes, mais exaltação do que verdadeira lucidez ou, melhor dizendo, sua exaltação prejudica sua lucidez. É por isso que suas revelações são frequentemente uma mistura de verdades e erros, de coisas sublimes e absurdas ou até mesmo ridículas. Os Espíritos inferiores se aproveitam, frequentemente, dessa exaltação, que é sempre uma causa de fraqueza quando não se sabe reprimi-la, para dominar o extático, e se fazem passar aos seus olhos com aparências que o prendem às ideias e preconceitos que têm quando acordado. Isso representa uma dificuldade e um perigo, mas nem todos são assim; cabe a nós julgar friamente e pesar suas revelações na balança da razão.

A emancipação da alma se manifesta às vezes no estado de vigília e produz o fenômeno conhecido como dupla vista ou segunda vista, que dá àqueles que dela são dotados a faculdade de ver, ouvir e sentir além dos limites de nossos sentidos. Eles percebem coisas distantes em todas as partes onde a alma estenda sua ação; eles as veem, por assim dizer, pela visão ordinária e por uma espécie de miragem.

No momento em que se produz o fenômeno da dupla vista, o estado físico do indivíduo é sensivelmente modificado; o olhar tem algo de vago: olha sem ver; a fisionomia toda reflete um ar de exaltação. Constata-se que os órgãos da vista ficam alheios ao processo porque a visão persiste, apesar dos olhos fechados.

Essa faculdade parece, para aqueles que dela desfrutam, tão natural como a de ver; é para eles uma propriedade normal do seu ser e não lhes parece excepcional. O esquecimento se segue em geral a essa lucidez passageira da qual a lembrança, cada vez mais vaga, acaba por desaparecer como a de um sonho.

O poder da dupla vista varia desde a sensação confusa até a percepção clara e nítida das coisas presentes ou ausentes. No estado rudimentar, dá a certas pessoas o tato, a perspicácia, uma espécie de certeza em seus atos que se pode chamar de precisão do golpe de vista moral.

Um pouco mais desenvolvida, desperta os pressentimentos; ainda mais desenvolvida, mostra os acontecimentos ocorridos ou em via de ocorrer.

O sonambulismo natural ou artificial, o êxtase e a dupla vista são apenas variedades ou modificações de uma mesma causa. Esses fenômenos, assim como os sonhos, estão na lei da natureza; eis por que existiram desde todos os tempos. A história nos mostra que foram conhecidos e até mesmo explorados desde a mais alta Antiguidade e neles está a explicação de diversos fatos que os preconceitos fizeram considerar sobrenaturais.

BIBLIOGRAFIA: O LIVRO DOS ESPÍRITOS

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